domingo, dezembro 20, 2009

de profundis





se não o podes vencer, grita(-lhe).


(abrir escancaradamente a goela. dá para vencer o frio, e vamos a acreditar que também outras complicações. é meter tudo cá para fora, regurgitar. porque as coisas, às vezes, não têm que vir com sentido.)


egoísta


o problema de decidirmos cuidar de nós é que
isso às vezes implica deixar de cuidar dos outros.


quarta-feira, dezembro 16, 2009

life is a state of mind


















beware of the territory in which you choose to live.



terça-feira, dezembro 08, 2009

terça-feira, dezembro 01, 2009

e ainda perguntam porquê?!
























(afixado numa loja por aí.)


de todos os meios de transporte disponíveis, a trotinete é claramente a que tem mais vantagens. ora essa!


segunda-feira, novembro 30, 2009

a braços com a vida

















estes braços que se estendem ao céu, imenso e amplo.
e nem saberem o porquê.

(porque não vale a pena pensar nisto. vale só a pena viver.)


quarta-feira, novembro 25, 2009

ter os pés assentes na terra





















(ter a lucidez para olhar de perto os pormenores, mas
não tão de perto que nos levem à loucura.)


domingo, novembro 22, 2009

se venceres o instante


Quando te sentas à noite na beirinha da cama e
olhas o mundo curtinho em redor, tão curtinho
quanto o teu campo de visão e
a linha do horizonte que te escapa.

quando vês as luzes do teu quarto as luzes no teu quarto

e sabes tanta vida lá fora.
quando pensas em ti ali, só,
e o silêncio,
só.

(ou então um mundo a abarrotar de emoções)

e então o coração bate
- tu escutas demasiado o coração -

ou o coração bate antes e depois sentas-te na beirinha da cama
e pensas.
e então ouves, mais e mais
e o coração bate mais forte, mais e mais.

quando tu pensas sentes e pensas e sentes
quando tudo é um ciclo.

quando perdes a noção da realidade
e só pensas o corpo, a sentir a sentir a sentir.

quando os pulmões arfam
e tu arfas
e o mundo é tão pequenino quanto a tua mente contraída,
sufocada
pelo peso dos instantes.

quando o mundo é tão grande quanto os teus medos.
pesado

quando tu inspiras
expiras inspiras expiras
cada vez mais rápido, e rápido, mais e mais

e tu pensas

e sentes o pânico a correr-te pelas veias, como agulhas finas, como
formigas atrevidas que te beliscam a carne, quando

sentes a cabeça à roda, e as luzes te encadeiam, e achas que vais enlouquecer,
que a lucidez acaba ali para ti.

e o pânico preenche-te os poros,
e o medo abarrota-te o peito.

e tu pensas.

quando o desespero te atola
e te preenche,
inunda

quando pensas que não interessa quantas vezes sobrevives, que
há-de sempre voltar esse instante
em que tudo bate mais depressa do que aquilo que tu consegues acompanhar,

quando o desespero te enfarta
o peito e a consciência e

já nada importa quando
tudo pesa

Eu sento-me contigo à beirinha dessa tua cama,
imagina-me a sentar-me contigo à beirinha dessa tua cama,
e digo-te ao ouvido

Não te atrevas a desistir.

(e depois abraço-te, muito. e agarro-te a esta vida.)


terça-feira, novembro 17, 2009

mulher(es)






afinal, o que é isto de que somos feitas?



(porque hoje também é dia da mulher. e não só quando ao almanaque lhe apetece!)

segunda-feira, novembro 16, 2009

"Se em alternativa se atira." (*)


sento-me à beira da pequenina pequenininha mesa de café. peço uma torrada e um galão. lá fora o sol espreita pela baixa depois da chuva. há um jornal sobre a mesa. há os restos ainda não recolhidos de pequeno-almoço. há uma chávena com espuma de leite seco. um pratito com migalhas. uma colher alta e um garfo. uma faca de comer bolo. uma faca. e se eu agora pegasse na faca e a espetasse no meu ventre?

imagino o depois. o sangue, os gritos, as fugas. se. empurro para lá. abro o jornal e leio. está uma belíssima manhã.




(*) João Condinho, projecto Se numa noite de inverno um viajante, Exposição em Coimbra-B, 7 a 14 Novembro 2009

domingo, novembro 15, 2009

Fast books




















(Porto-Campanhã, 2009)


alimento para a mente,
porque nem só de pão vive o homem.



quinta-feira, novembro 12, 2009

what the hell??!
























(Tunísia, Agosto 2009)


(há as imagens para as quais as palavras não chegam. e depois há as outras.)


terça-feira, novembro 10, 2009

vou só dar uma voltinha e já volto


Estendeu-me o sorriso, um panfleto, e o convite doce: Juntem-se...
(apesar de ser
eu ali, materialmente, ele deve ter espreitado e visto que aqui dentro, de facto, somos várias...).
Era a Marcha pela Paz e a Não-Violência que varria silenciosamente as ruas de Coimbra.
Devolvi-lhe o sorriso, misturado com um esgar de dor inevitável, e pensei
Mas hoje?! Agora?! Tem mesmo que ser agora?! É que 'agora' não me dava jeitinho nenhum...
e também Mas porque raio não fui eu pela outra rua?!...

O sorriso foi-se afastando, desvanecendo. Não lhe cheguei a ver o fim porque entretanto já me tinha escapulido daquele embaraço de momento a sete pés.

(Eu, se pudesse, evitava estes momentos. Sinto-me obrigada a ter uma desculpa decente, inadiável, qualquer coisa que invoque vida-ou-morte e que justifique decentemente a falta. Porque dizer Tenho mesmo que ir fazer umas compras ou Preciso desesperadamente de ir correr infelizmente nunca soa a vital. Preciso de qualquer coisa que equipare a luta Mundial pela Paz e pela Não-Violência, ou a situação Nacional dos Desempregados, ou a dos Sem-Abrigo que nos estendem a mão mesmo à porta da loja onde acabámos de gastar rios de dinheiro. Porque dizer Não tenho dinheiro, seja a quem for, sempre me soou uma desculpa visivelmente mais esfarrapada que as calças que o pobre do homem veste. E assim evitava-se o desperdício de palavras, energia e afins. Evitava-se o embaraço.

Porque

É incómodo, O mendigo, Ver o Mendigo, Olhar o mendigo, olhos nos olhos, e Ter que desviar o olhar, ou Ter que Replicar qualquer murmúrio de desculpa,
É incómodo. Pensar o mendigo, E ver-me a mim, sem uma resposta-ou-uma-acção à altura, no meio disto tudo.)


domingo, novembro 08, 2009

talvez também as segundas-feiras.


anoitece rápido. caminho até casa a ressentir a falta de uma noite bem dormida. ouve-se o silêncio por entre as folhas das árvores. nada. ouve-se um carro a rodar sobre a estrada molhada. nada. ouvem-se passos, alguém que empurra a porta e chega a casa. alguém que faz o último passeio de fim de semana. nada. se calho a entrever a Baixa, há um ou outro marmanjo pelas esquinas, à porta do único café aberto e já aquecido pelo álcool que não lhe deixa distinguir os dias. de resto, nada. há talvez um ou outro observador, disperso, a rondar as montras, a rondar os pensamentos (assustam-me esses, porque reparam em nós). mais nada.

vou para casa. no caminho breve, ouve-se o chiar do vento gélido pelas ruas. ouve-se também, de tempos a tempos, o rolar das malinhas de viagem na calçada. não apetece fazer nada. toda a realidade parece outra. escura e triste. fico eu e as ruas, sós.

(não há nada mais deprimente que um domingo de inverno ao anoitecer.)


quinta-feira, novembro 05, 2009

«...enquanto não alcances não descanses...»






















Alberto:
- Terás tu... Terás tu achado o que procuro? (...)
Tomás:
- Não sei o que queres dizer. Mas tenho a certeza de que não achei o que procuras. Porque, se tu procuras, só tu podes achar.


(Vergílio Ferreira, Aparição, 1959, p.146)


inimputabilidade


'ela é doida!' 'matou o filho' 'saltou da janela' 'cortou os pulsos' 'entupiu-se em fármacos' 'e tinha uma carreira brilhante' 'eu nem dei por nada, ela parecia tão feliz!' 'já viste o que ele fez à namorada?' 'regou-a com gasolina e pegou-lhe fogo' 'parece um tresloucado, não diz coisa com coisa' 'ele é estranho' 'e a mania das limpezas?!' 'teve uma crise de ansiedade só porque lhe disseram que não?' 'passou-se' 'que parvoíce, ter medo de um animal tão pequenino!' 'matou os pais' 'esmurrou a senhora da caixa' 'pegou nos filhos e um a um afogou-os na banheira'.

prometeu-lhes que baixava os impostos, e mentiu.

(não sei o que é que é pior - e lamento meter isso em questão - se a barbaridade cometida quando se perde o fio à meada, se a judiaria quando se está pleno de si. de qualquer modo, as coisas são muito relativas.)


terça-feira, novembro 03, 2009

constatações


se é sabido pelas leis da gravidade que a água tende a escorrer pela face abaixo enquanto tomamos duche, que por coesão as moléculazinhas 'molhadas' - que estão na cabecinha e que continuam na testa e que encharcam também os olhinhos pela simples razão que nos molhámos de cima a baixo - que essas moléculazinhas vão querer manter-se juntinhas e vão também querer misturar-se não sei por meio de que obscuro mas decerto lógico princípio, Porque raio, Digam-me porque raio!, fazem champôs que ardem nos olhos?


diz-me tu
















(Coimbra, Portugal)


(estava para aqui a pensar se ía dar uma resposta profundamente filosófica carregada de tragicidade individual, ou se ía simplesmente responder uma coisa concreta.)


La conjugaison du verbe faire


I talk talk talk talk
but it's just talk talk talk.


viver passa muito por definir critérios (VII)


preenches um dois três e quatro critérios. lamento,
falta-te um. és uma perturbada sem especificação.


domingo, novembro 01, 2009

viver passa muito por definir critérios (VI)












              
quando se estende a plataforma para
ver partir os viajantes e
se põe o sol a pique, quente que estala e
é sexta-feira e
demasiada gente para os poucos abrigos,
ou para os abrigos curtos, delgados,
para as massas que seguem viagem a uma sexta-feira.

quando o sol cai a pique e depois desliza
enquanto o tempo passa, e
a sombra desliza,
quando o tempo corre, e

se criam dois territórios: o da luz
e o da sombra.

quando se sucede a aglomeração das massas que
esperam e depois desesperam, e
a forma como criam a fronteira e
como se mantêm no seu território, e o procuram
enquanto se movem, enquanto se movem inconscientes,
inconscientes que mudam enquanto
a areia escorre na ampulheta e uns

procuram a luz, quente na pele, e
os outros se refugiam na sombra.

tudo isto

enquanto o sol traça no pavimento cinzento
uma linha imaginária.


(na noite bebemos e tornamo-nos mais bichos. no sonho, e
na realidade. deve ser da falta de luz. da escuridão. misturamo-nos. com os outros, e misturamo-nos cá dentro.

talvez a ausência da linha faça sumir o critério.)

         


sexta-feira, outubro 30, 2009

o mal arranca-se pela raiz?


a dentista disse que tenho uma boca relativamente saudável. hm. fiz um semi-sorriso amarelo e pensei: diz isso porque não sabe a quantidade de baboseiras que saem por ela.


quarta-feira, outubro 28, 2009

viver passa muito por definir critérios (V)


verificou na lista Se ele preenchia os requisitos. encheu Todos os quadradinhos com certinhos. menos Um.
dizia: Enfarta-me o coração.

mandou-o Embora.


terça-feira, outubro 27, 2009

viver passa muito por definir critérios (IV)


Disse-lhe que não gostava dela tanto quanto ela de mim. e era até a verdade. nua. Ela olhou para mim, espreitou-me pela borda do olhar e viu-me, resumidamente, Feia. depois Chorou. chorou chorou chorou. para Gastar a mágoa, talvez. Levantou-se, amachucou-me e passou a ignorar-me.
senti
-me tão mal que Voltei a embrulhar-me no papel bonito.

desde então Não digo certas verdades.


segunda-feira, outubro 26, 2009

corrigendum


A menina de porcelana pede desculpa pelo que a i., sua representante real, disse um destes dias ao almoço acerca dos intermináveis minutos de mimo-muito-mimo-e-embalo-muito-embalo no Baby Channel enquanto se olha para um peixinho paciente e se ouve uma musiquinha tra la la.
De facto, enterrou-se a si mesma e ao post do mesmo dia. porque as coisas para serem descobertas, têm que ser observadas. mas, mais que isso, tem que se ir com disponibilidade para a contemplação.

E o que acontece é que eu e o Baby Channel ainda não nos enfrentámos nesses preparos.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Coisas belas, belíssimas, ou bonitas apenas (I)





(You wanna see the most beautiful thing I ever found? It was one of those days when it's a minute away from snowing and there's this electricity in the air, you can almost hear it. And this bag was just dancing with me. Like a little kid begging me to play with it. For fifteen minutes. And that's the day I realize there was this entire life behind things... this incredibly benevolent force, that wanted me to know there was no reason to be afraid, ever. Video's a poor excuse, I know. But it helps me remember... I need to remember... Sometimes there's so much beauty in the world [I feel like I can't take it, like my heart's going to cave in]. É o que ele* diz.)


(* Ricky Fitts, the weird boy, em American beauty, Sam Mendes, 1999)

quarta-feira, outubro 21, 2009

Viver passa muito por definir critérios (III)
























(Norte Shopping, Porto, Portugal, 2008)


Viver passa muito por definir critérios (II)
























foto: susana.


(Pousafoles do Bispo, Portugal, 2009)


Viver passa muito por definir critérios (I)















(Sortelha, Portugal, 2009)


a spot (II)


não sei se depois quereria o contrário, e é até provável que o quisesse, porque no depois costuma ser o contrário aquilo que se quer. o contrário do que se tem. mas

aparte-de-todas-as-outras-vezes em que apenas quero sentir, às vezes quem me dera não sentir. ou pelo menos não ter consciência disso. quem me dera andar, parar, e voltar a andar. sem pensar muito sobre isso. something like

hello stranger,
goodbye stranger.

(na falta de consciência, não há antes nem depois. não há sequer as amolgadelas do durante. só um instante demasiado rápido que já passou, e que esgotado se esfumou. e, recomeçado outro instante, ficámos nós, 'shining like brand new'.)


segunda-feira, outubro 19, 2009

ideias



















«... I opened up a sealed envelope
And it contains an eternity of memories that I never experienced,
(...)
It feels like all of the accomplishes means nothing,
Feels like my whole existence and history
Is being erased.
(...)
You know, I had a plan that involved getting on with my life...»*


(... vamos ver se é uma boa ideia.)





(*Jens Lekman, um rapazinho simpático a declamar o How much you mean to me. Também aqui, e aqui vale a pena.)

quinta-feira, outubro 15, 2009

chiu













não digas nada, não digas.
para quê?

o teu olhar é música para os meus ouvidos.



(cansam-me, às vezes, as palavras.)


terça-feira, outubro 13, 2009

(Des)aparições


Quando eu era pequena e tudo era ainda certo, atracava-me à mão da minha mãe e, em dias como este, desfilávamos na Procissão. Eu levava uma vela já meia gasta envolvida num pedaço de papel que me protegia dos pingos da cera quente, e dela cuidava religiosamente. E ali, no meio daqueles irmãos e irmãs, daquelas pedras da mesma Igreja, deslumbrava-me. Na noite escura, reluziam os cânticos entoados em uníssono, as orações e as preces à Virgem e ao deus Nosso Senhor, e a luz das nossas velas fazia o caminho. Encontrávamos os tios e as tias, os primos e as primas, e até os amiguinhos da catequese e da escola com quem trocávamos sorrisos e olhares enquanto, intercaladamente, se ia dando um olho ao papel protector para que não ardesse naquela chama. Os outros, pass(e)ando à beira da estrada, carregados de sacos das compras, ou circulando de bicicleta, ou acometidos a conversas embriagadas e sérias, os outros deitavam-nos olhares de estranheza e distância, Ou ignoravam-nos Simplesmente como quem finge não ver os pobres de mão estendida. Mas eram apenas Os Outros, eles, uma massa indistinta, incrédula e sem salvação.

Depois cresci. Fui deixando de acender a vela, gasta entretanto, e deixando também de seguir as multidões. A noite é escura e há-de ser. E as coisas desprovidas de um sentido. A virgem tornou-se Maria, e o nosso senhor, deles. Passei para o outro lado, sem saber que os outros, esse aglomerado de eu’s, viajam sós afinal, sem velas que alumiem um caminho. Inevitavelmente, talvez, as coisas deixaram de se explicar pela Fé. Passaram a carecer de respostas que não encontro. De respostas. E, vistas bem as coisas, começo a achar que talvez, talvez..., o problema esteja nas perguntas.


(pergunto-me se é por crescermos que as coisas deixam de fazer sentido, ou se crescemos quando as coisas perdem o sentido. sei lá. quem me dera ter ainda O sentido das coisas, A certeza do certo e do errado, descrita tão bem nos contos-de-fadas, e não esta amálgama de coisas que nos compõem e que não nos fazem nem bons nem maus. que nos fazem, tão simplesmente, Incertos. Esta amálgama de coisas que encontramos quando passamos a ver. Ou talvez, engano meu, quando nos deixamos cegar pela complexidade.)

segunda-feira, outubro 12, 2009

noutro mundo talvez


pensar que neste tempo todo que acumulamos, que em todos estes anos que andamos por aqui tantas vezes à deriva, que nesses instantes todos que deixamos (es)correr, vazios, perdidos em horas que ficam por preencher de coisas que nos encheriam a vista, que nos dariam outro fôlego, Mas que não enchem, que não dão, porque esses instantes Passam apenas com o andar (in)finito de uns quaiquer ponteiros de um qualquer relógio.
pensar que nesse tempo, nesses anos, nesses instantes, nisso tudo junto e arremessado connosco um dia à terra, ao húmus, pensar que nunca conheceremos coisas belas, belíssimas, ou bonitas apenas, que até teríamos a oportunidade de saber se o acaso o permitisse, se as coisas tivessem etiquetas pelas quais as pudéssemos procurar. e não chegaríamos a essa terra que nos aguarda enquanto não as provássemos a todas.

pensar que essas coisas que nos encheriam a vista, e o peito, se as pudessemos ver e ouvir e saber-lhes o sabor, essas coisas que nos fariam falta se soubessemos como tudo mudaria depois de as sabermos Mas que assim não faltam e nada muda porque não as sabemos, Pensar nisso, em todos essas coisas belas que são agora ou que foram e permanecem, nessas coisas que se perdem, pensar nisso angustia. porque ficam por conhecer, ficam por tocar, ficam por sentir.

porque ficam por descobrir. e toda uma vida por mudar.

domingo, outubro 11, 2009

(cont.)


... ora de candidatos à junta de freguesia...

sexta-feira, outubro 09, 2009

Vermelho, vermelhaço, vermelhuço, vermelhante, vermelhão


(imagem daqui)


perdoem-lhe, que o rapaz não sabe o que diz. primeiro porque 'Portugal pintado de vermelho' seria a morte por asfixia de tudo quanto é vivo (óbvio...). depois, porque a tomar nota na quantidade de crimes bárbaros, ora de maridos ora de namorados ciumentos, ora de vizinhos à beira de um ataque de nervos, ora de mães, padrastos, tios e tantos outros membros-do-nicho-familiar enraivecidos, ora ainda de gente que decide simplesmente 'atirar para o ar', já para não falar da sinistralidade na estrada e na construção civil, se ainda não estamos vermelhinhos, estamos lá bem perto.

quarta-feira, outubro 07, 2009

metabolismos















(Douz, Tunísia, Agosto 2009)


independentemente de nascerem já escravos, de terem que suportar o ferro quente a marcar-lhe um dono que nem lhes é nada senão carrasco, de apanharem porrada a torto e a direito, de passarem horas intermináveis a suportar infernos e de não terem horas livres senão quando são largados ao deus-dará à espera de um fim do dia que só lhes trará quilos e quilos de turistas, é impressionante como
quem olha para aqueles olhos pestanudos de quem passa a vista pelo mundo e para aquela boquinha em movimentos de quem mastiga uma interminável pastilha elástica com sabor a qualquer coisa que nem interessa o quê, é impressionante como, quem os olha, não lhes consegue achar uma ponta de stress.

(deve ser do metabolismo. lento, talvez. ou então do calor, que atrasa sempre tudo menos o sono. eu também queria ter um metabolismo assim. para que quando me estivesse a passar dos carretos os meus movimentos fossem tão lentos tão lentos que eu não conseguisse mover palha e morresse de frustração [solução 1, mais drástica]. ou então não, e o metabolismo era tão lento tão lento que quando me chegasse o sangue à cabeça já tinha passado o momento e deixara de valer a pena - era sol de pouca dura [solução 2, mais simpática]. pois era, queria ter um metabolismo assim. mas se tivesse um metabolismo assim, queixava-me que engordava mais rápido.)

terça-feira, outubro 06, 2009

(h)Ard[i] to believe


Lembro-me bem daquela aula de História do meu 7º ano em que a professora nos informou a todos, numa versão simplificada, que descendíamos do macaco. Eu, que até então fora profundamente catequizada com a estória do Adão e da Eva no Paraíso, fiquei perplexa.

Matutei nisto continuamente e, não sei bem em que dia no meio de um qualquer almoço, arremessei a pergunta: Há uma coisa que não estou a perceber... A professora de História diz que houve uma evolução e que nós evoluímos do macaco, mas a catequista diz que Deus criou o Adão e a Eva... onde é que entram aqui os macacos? Penso que naquele instante provoquei sensivelmente nos meus pais a mesma reacção que tem a pergunta 'De onde vêm os bebés?'. O meu pai, entranhadamente homem da ciência, iria provavelmente reafirmar-me a ideia de que, de facto, descendemos dos macacos. Depois entraria em termos infindavelmente complicados, mas a conclusão seria essa. Mas foi a minha mãe, mulher de Fé, que sem ser por acaso tomou a palavra. Com alguma paciência, explicou-me como o Adão e a Eva eram uma metáfora para o princípio da humanidade. E devo dizer que, de forma bastante simples, me deixou mais apaziguada com estas várias versões que os senhores adultos se lembram de nos transmitir.

Porque quando se misturam alhos com bugalhos a coisa fica difícil de explicar. Por um lado, dizer às crianças que os papás primeiros foram o Adão e a Eva, é fazer-lhes um nó no cérebro de forma a que não passe qualquer outro tipo de informação. Foi assim e pronto, e depois o Caim matou o Abel e a maldade ficou-nos nos sangue. Tudo tem explicação. Corta-se assim com qualquer outro tipo de ideia(s) como, por simples exemplo, de que talvez não tenha sido Deus que nos fez as costelas (pelo menos, não directamente), mas que talvez o nosso papá fosse afinal um ser demasiadamente peludo, desprovido de moral e, também, de tecnologia.
Por outro lado, dizer às crianças que descendemos do 'macaco', é ignorar que o seu pensamento concreto ligará A a A, B a B, e C a C. É aliás quase o mesmo que dizer-lhes que Macaco é tudo o mesmo e que, assim sendo, o 'macaco' que anda por aí não evoluiu, enquanto nós, humanos, seres avançadíssimos, produto de ponta, nos fartámos de evoluir.

Ainda bem que 'descobriram' a Ardi. É que ela, no seu silêncio misterioso veio lançar outras hipóteses. Ao que parece, nós humanos somos muito mais parecidos com esse antepassado longínquo do que aquilo que queríamos ser (e que as descobertas científicas até agora pareciam fazer acreditar). E mais, o que sugere a descoberta dos infindos ossinhos (há já 17 anos) é que provavelmente quem 'evoluiu-mais' até foi o comummente chamado 'macaco'. Blasfémia!

Claro que teorias e versões há muitas. E provavelmente outros factos e dados surgirão, e novas hipóteses serão tecidas. E talvez nem nunca cheguemos à unicidade. E depois? Isso talvez até seja bom. Porque suscita a dúvida, suscita a discussão, suscita o querer saber mais. Suscita tudo aquilo que, quem acha que já sabe tudo, parece não querer ouvir falar. Pena. Porque ninguém devia estabelecer como certo e seguro aquilo que nunca foi posto à prova com uns valentes abanões.

quinta-feira, outubro 01, 2009

dupla personalidade















(Almeida, Junho, 2009)

às vezes também me apetecia ter duas cabeças: primeiro, uma para ouvir incessantemente o mundo lá fora, processá-lo nos seus pormenores infindáveis, nas suas possibilidades (im)prováveis, sob uma perspectiva e outra, e aqueloutra até, testá-lo através de hipóteses e, sempre insatisfeita, esmiuçar os resultados. assim, o mundo chatinho e exigente cá de dentro reflectiria nas coisas à vontade e viveria sob as regras do correcto-e-do-justo. depois, descaradamente livre, teria outra para quando me fartasse da primeira - com jeitinho, punha essa de lado, deixava-a a processar o infinito, e ia gozar a vida.


segunda-feira, setembro 28, 2009

levar à letra.


a acreditar no que a juventude socialista diz, hoje acordei no século XXI. portanto, penso que essa coisa (estranha?) que as famílias [ainda] fazem e que se chama 'procriação' deve ter os dias contados.

domingo, setembro 27, 2009

sei lá


Coimbra está à beira de ter um metro Mondego. Por esse motivo, a linha da Lousã está à beira de ser encerrada durante dois anos. A população esteve, deixou de estar, à ‘beira de um ataque de nervos’. Porquê? Simples: perceberam que há coisas que as mãos do povo não alcançam, e resignaram-se (ou talvez não. só estão um pouquito mais sossegaditos).

Mas afinal, porquê tanto alarido? Basta olhar para perceber que tudo o que implica mudança dá azo a resistência. Porquê? As pessoas têm medo do que lá vem e que não sabem bem o que é, mesmo que depois se verifique ser melhor. Tratam de olhar para o momento, ver tudo o que vão perder no agora. Há um grande receio em arriscar. Ficam-se pelo seguro, pelo razoável, pelo suficiente que até serve bem.

Mas nenhum país – e quem diz país, diz empresa, e quem diz empresa diz projecto, e quem diz projecto diz vida – nada anda para a frente se não se arriscar, se não se arriscar na mudança. Mas não falo de arriscar levianamente, e tentar ter o que os outros têm só porque-sim. Só porque também temos que ter. Há aquela questão das 'pernas para andar'. Da ambição comedida e ponderada. Mas... quão comedidos e ponderados deveremos ser? Fazer até onde temos rédea, ou devemos dar um passo maior, e ver se o resto acompanha?

Há aquela questão que a meu ver está sem resposta fácil. Nem sei que partido poderia avançar melhor caminho, como aliás, nunca sei. Penso, Vêm aí 4 anos, o que é que nos espera? O que é que devemos esperar? E o que é que, nós também, podemos e/ou devemos fazer? O povo hoje estendeu as mãos, alcançou o papelito, e votou. Em consciência? Semanas e semanas de campanha, ou anos e anos de opções políticas, deram hoje nisto. A mudança, seja ela qual for, mais leve ou mais abrupta, é inevitável. Mas não me canso de lembrar uma frase que uma vez ouvi ao José Saramago: “O cidadão tem braço curto. Chega à urna. Mas o poder está mais acima, não lhe pode tocar”.

Não? Hm. Não pode. Mas, pergunto-me, E se o cidadão lhe pudesse tocar? O que é que ele faria?

terça-feira, setembro 22, 2009

AVC (II)


Durante muitos anos, a minha avó andou a cultivar-me memórias. primeiro, por meio de estórias contadas com ligeireza deixava-nos, a mim e à minha irmã, a sonhar com personagens fantásticas deste mundo e do outro. depois, quando já éramos grandinhas o suficiente para ouvir outras histórias, fazia-nos chegar ao ouvido, por entre muito riso e algum gozo, as traquinices da nossa mãe quando era pequena. e, mesmo repetindo uma e outra vez os pequeninos episódios, parecia não gastar as recordações.

nos últimos anos, entregue já aos cuidados dos filhos e com poucas histórias ou vontade para as contar, não se esquecia ainda assim de, por entre os beijinhos da despedida, nos entregar carradas de 'mimória, muita mimória!' que pudéssemos precisar para os estudos. e eu, enternecida com a atenção, lá vinha cambaleante com aquilo nos braços, crente que era capaz de me fazer falta, se não ainda hoje, um dia talvez.

desconfio é que a minha avó andou a dar coisa a mais. e que, ao dar tanta tanta 'mimória', acabou por ficar sem ela.

É uma querida a minha avó. pena é eu agora ter baús cheios de memória(s) e não poder partilhá-la(s) com ela.

'tirar' o sumo, e não 'o leite, das pedras'.




















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não sei se eles quiseram dizer exactamente o que me passou pela cabeça que eles pudessem querer dizer, nem sei porque raio iriam eles querer dizer o que eu acho e me parece que eles até quiseram dizer, mas vamos supor que eles nem quiseram dizer o que eu acho e suponho e acredito até que eles quisessem dizer porque, de facto, nem sei o que é que isso teria a ver com goiaba, ou mais a mais, com fruta. ou espremendo bem o assunto, com o néctar das coisas. nem sei porque é que a goiaba, filha do Brasiu e numa aparente historinha de amor, quereria pertencer à nossa selecção nacional de frutas. quer? mesmo? hm. enfim, alguma razão deve haver.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Achas que sim? é melhor não...


Dos meus tempos de liceu, lembro-me de uma vez a minha amiga a. vir uma vez com a conversa Ah Vamos pôr este armário à frente da porta da professora para quando ela tentar sair não conseguir! Apesar da minha falta de arrebatamento perante tal proposta, ela entusiamou-se de tal forma com aquilo que chegou, inclusive, a tentar arrastar o armário. Mas eu, numa empatia que nem sei de onde me vem (hm. empatia mesmo?), pûs-me a imaginar a professora com o seu ar angelical de quem tem 20 e tal anitos e está em início de carreira (hm.), a apanhar uma desilusão tremenda quando visse aquele mono atravessado na porta a impedir-lhe um final de dia em plena rotina.

Oh a.! coitada! já viste? Não vamos nada fazer isso. E, pronto, não fizemos (a a. sempre escutou os meus conselhos sensatos, apesar de raras vezes os seguir). E, pronto, assim se foi por água abaixo aquele plano genial. Mas hoje, à distância, relembro e penso: Oh que borrega! Então vejamos:

Um professor, naqueles tempos, tinha uma vida perfeitamente razoável (digo eu que nunca fui professora) a não ser que fosse director de uma turma-somatório de, digamos, alunos não suficientemente bons para estarem numa turma 'normal' (digo eu que também nunca o fui. professor de uma turma assim, quero dizer. nem assim nem de qualquer outra. não sou nem fui professora. ponto!). Ora, aparte a nossa turma de Inglês III com 3 alunos, a nossa professorinha estagiária devia ter um horário cheio de furos por onde extravasava, muito provavelmente, tédio até mais não. Assim, e isto baseia-se muito em suposições, não devia ter grandes inovações e excitações (relacionadas com a vida escolar, pelo menos).

Chegava à escola, dava as aulinhas, no máximo queixava-se dos programas extensíssimos, aplicava os testes, corrigia os testes, avaliava os desempenhos, chumbava se tivesse que ser, e sem ter que perder tempo a preencher burocracias para justificar o chumbo. Enfim, tinha uma vida ordenada e rotineira. Ou seja, enfadonha. Se eu, nas minhas questionáveis virtudes moralistas, não me tivesse insurgido naquele dia, tinha-lhe muito provavelmete mudado (radicalmente?) a vida. Pois! Então vejamos:

encurralada entre quatro paredes, a dar de face com as costas de um armário... que faria ela? Desenrascar-se, ora pois! Ou então não, e telefonava mas era ao Senhor Director... Mas, seguindo as probabilidades, e acreditando na melhor das hipóteses, seguiria a 1ª hipótese (claro!) Mas como? Ela própria conta, anos mais tarde, aos seus netinhos:

Uma vez, meteram-me um armário à frente da porta da sala de aula, e eu, de saia, tive que escapar pela janela da sala, com quase 2 metros, sobre uma montanha de miúdos que jogavam cá fora à bola. Riram-se à brava da situação e, inclusive, gozaram bastante comigo. Mas depois, ficaram até bastante surpreendidos com as minhas capacidades de fuga! E fui aplaudida em massa! E ganhei o prémio no jornalinho da escola como a Personagem do Século daquela escola! E nuuuunca maaaais fui esquecida naquela escola!

Ou seja, teríamos transformado a professora em heroína. Fantástico! Mas... e eu e a minha amiga a.? Bem... teríamos sido talvez, com grandes probabilidades até, transformadas nas imbecis da fita. E entrado também no jornalinho da escola mas, com grandes probabilidades até, na secção das Orelhas de burro. Enfim, que dizer?, ainda bem que se perdeu o momento.

(há sempre uma forma de justificar da melhor forma o que não se fez e, se calhar, até se devia ter feito.)

quinta-feira, setembro 17, 2009

entre, não saia.


estreou recentemente no topo da minha rua um salão da igreja evangélica. outrora fora uma loja de brinquedos 'for kids' e depois uma tabacaria com café, jornais e internet. esteve encerrada uns tempos, como sempre acontece às lojas falidas, e esqueceu-se. foi por isso, talvez, que calhei a reparar. descia a couraça pequena e reparei numa luz poente que entrava pelas portas de vidro já descobertas. lá dentro, uma criança percorria as filas de cadeiras e, reparando em mim, veio espreitar-me.

à porta um convite muito simples para entrar, 'Entre (há ar condicionado)'. ok, então se há ar condicionado!... espreitei também. é um salão pequeno e simples, sem estátuas de santos nem ecos em naves imensas, nem paredes a relembrar os passos do Cristo, nem altares cinzelados a ouro. não. tem apenas umas poucas filas de cadeiras de plástico verde-mar, uma casa-de-banho bem sinalizada com a placa 'WC' e, à noite, uma luz forte de cozinha moderna. sentadas, 4 ou 5 pessoas escutavam descansadamente o orador. e pareceram-me a mim que estavam em casa.

instantaneamente, lembrei-me das missas a que já assisti. e das igrejas em que já estive. tudo parecia tão simples e bonito quando dito e escutado naquele contexto e, depois, inevitavelmente perdido assim que metíamos o pé cá fora, no momento em que fazíamos a transição para a outra realidade, retornando às coisinhas do dia-a-dia.

assim, de repente, apetece-me tecer uma teoria acerca do contexto. se eu estou na gala do Presidente da Répública é provável que estranhe ver pessoas nuas. se eu for à praia essa estranheza depressa me passa (não?). porque estou no contexto. mas os contextos têm que ter continuidade, se é que querem que as aprendizagens de um tenham continuidade no outro. se eu me dispo no ginecologista e acho normal, não quer dizer que 5 minutos depois quando entrar na mercearia me vá despir também. porque o contexto mudou. e o nosso cérebro sabe-lo bem.

talvez seja por isso que tantos medos de elevadores se tenham que curar no elevador que se usa todos os dias, e não no consultório onde se fala deles ao psicoterapeuta. e quem diz elevadores diz aranhas, diz aviões, diz até igrejas que pareçam cafés, ou salas de aula ou até gabinetes de trabalho. que se assemelhem ao contexto cá fora, ao mundo real. que falem a mesma linguagem, a do dia-a-dia. para que não sejamos levados a mudar de contexto. e, consequentemente, a mudar também a nossa forma de pensar, e de agir.

quinta-feira, setembro 10, 2009

impulsos (II)


o que não quer dizer que uma vez por outra não possa vir a brincar com a Política. porque é tão engraçada que se torna difícil resistir-lhe. é quase como com as crianças: podemos não perceber patavina do que dizem, mas isso não nos impede de brincar com elas. certo?
claro que é possível que a nossa incompreensão acabe por suscitar uma enorme frustração na outra parte. e claro que também é possível que nós, embrenhados numa conversa de surdos, façamos uma tremenda figura rídicula. mas enfim.

segunda-feira, setembro 07, 2009

impulsos


conferi o horário na internet. agarrei nas coisas e saí porta fora. 4 minutos para apanhar o autocarro. tenho tempo. chego à paragem. pergunto pelo 37, se já tinha passado. Passou sim menina, há coisa de 2 ou 3 minutos. caramba!, engulo eu. e começo: que é sempre o mesmo, que chegam a correr, que partem sem esperar, que saem sempre antes do horário, que se os conseguirmos apanhar é um milagre!

correcção nº.1: bem, até esperam... e não saem antes.

fui ver os horários, quando era o próximo. hm. o horário aqui está diferente. e, ainda por cima, hm, bate certo com o facto do autocarro já ter passado. hm... ainda por cima!, continuo a queixa, ainda por cima não actualizam os horários na internet!

engano nº.2: actualizam sim. os horários relativos ao mês de Agosto estão é um bocadinho abaixo. mas estão lá.

engulo em seco. caramba, tanta azelhice junta não pode ser culpa minha. mas é.


(isto tudo para dizer que, futuramente, EU me vou abster de comentar política. hem? sim, de comentar política. porque
(a) chego à conclusão de que fazê-lo é pegar nas peças sempre à procura da parte rota. quando elas também têm partes íntegras - mas, isso não-in-te-res-sa. a culpa é, e terá que ser sempre, do Governo [actual]!
(b) depois, a [minha] ignorância [nestes assuntos] é uma coisa muito séria - e muito grande - para se fingir que não existe.
(c) e, depois ainda, porque por mais que tenha as minhas empatias, a emocionalidade serve para muita coisa. mas não devia servir para ludibriar escolhas que, no fundo no fundo, deviam era ser racionais. se é que querem ser justas.)

quarta-feira, setembro 02, 2009

AVC


Há muitos muitos anos, nas terras da Babilónia, todos os homens se entendiam. Mas devido a uma certa insatisfação humana, estes homens decidiram que afinal não queriam [só] a terra, queriam também o céu. Então, descontente com o facto de ter sido esquecido, Deus castigou os povos. E criou as línguas.

Subitamente, os homens passaram a falar sem que se pudessem entender. Cada palavra passou a ser interpretada de acordo, não com o que realmente era dito por quem a proferia mas, com a intenção do descodificador.

(Isto é, se o Liedson cai na área e grita Penalty!, o significado depende: (a) se o juiz é da mesma equipa - penalty significa Justiça!, e há que ser feita; (b) se o juiz é da equipa adversária - penalty significa Estou a gozar com vocês e vou-me safar!, e há que penalizar o Liedson gozão; ou (c) se o juiz veste de amarelo-e-preto, aí, o significado de Penalty! depende dos acordos antes do jogo.)

Adiante. Os povos fecharam-se sobre si. E nacionalizaram-se. Falavam com os da sua língua, desentendiam a língua alheia. Ou pior ainda, entendiam-na como queriam. Uma palavra podia dar azo a uma Peleja, ou ao início de uma Pacífica cooperação. E, assim, as palavras deixaram de valer por si, para passaram a ser somente o espírito que por elas passa*.

Avó, eu sou a i., filha da r., sou sua neta. Ela sorri, esticando as peles já velhinhas e amarrotadas. Diz-me Sim, todos cantamos, e Nosso Senhor fica contente. Isto quando ainda dizia. Agora murmura palavras indecifráveis Mu ru gu ru interminavelmente. Ou acena que sim, é pois é, vamos. Sorri de vez em quando, inesperadamente. Dá até sinais subjectivos de me reconhecer enquanto estica a mãozinha para umas palmaditas afáveis. Mas já não sei, nunca sei na ausência dos sinais linguísticos precisos, na ausência de um nome proferido, não sei se sabe mesmo quem eu sou.

(isto da comunicação é um problema. até quando todos parecemos falar a mesma língua, ouvir as mesmas palavras, ver as mesmas imagens, tudo reside na descodificação da mensagem. Avó, sou eu. Não vê a minha face, não me reconhece pelo tom de voz, não ouve as minhas palavras? tudo reside na descodificação da mensagem. uns, acarinhados pela vida, interpretam benevolamente. outros, deixam simplesmente de escutar. tudo depende do aparelho que construímos para descodificar. mas agora
entender como se constrói tal aparelho, detalhar os factores, prever o caos – isso já implica descodificar a vida. e, apesar até de muito estudo científico, voltamos ao mesmo, lá está, - cada um tem a sua interpretação.)


* Ferreira, V., 1994, Aparição.


sexta-feira, agosto 28, 2009

safa?


mas as coisas não surgem do nada. é a torneirinha a pingar milésimas todo o santo dia, é o fiozinho de água do autoclismo a escorrer lentamente pela sanita abaixo, é o cano roto à nanoescala, é a subida gradual de 0.0000001 litros de água nos nossos rios e mares, é o aumento silencioso de 0.001 graus Celcius no termómetro terrestre; é até o grãozinho de pó a pairar, dia após dia, sobre o biblô intocável. e ao fim de um ano, dois, dez ou trinta e sete, a conta a pagar ascende aos milhares; a barragem cansa-se e cede à pressão; o planeta torra; e, sobre o manto branco empoeirado, os objectos - tal como as pessoas - deixam de se reconhecer. basta aquele grão de areia deixado, inconscientemente, instante após instante, à beirinha do caminho para que uma relação derrape e se despiste na curva mais segura da estrada.

ou então surgem, e pronto. despeje-se logo o balde de areia na curva imaculada, e não há passado de confianças inquebráveis, mimos constantes, bilus-bilus, ou camisinha permanentemente alva que, mediante um imprevisto, salvem o parzinho de se atolar.

ou então não. e salva-se.


(é assim o amor. profundamente incompreensível.)

quinta-feira, agosto 27, 2009

Sapho



Alice:
- I don't love you anymore.

Dan:
- Since when?

Alice:
- Now, just now.*


(creio eu que haja pouca coisa tão forte e, ao mesmo tempo, tão frágil
quanto o amor.)



*diálogo do filme Closer, 2004, de Mike Nichols.

quarta-feira, agosto 26, 2009

O Engodo (II)


O Luís Figo, homem que subiria facilmente a Presidente bastando-lhe tocar na bola..., dá a entender que apoia este governo nas próximas eleições. [Auguro consequências]. Diz ele que é necessário "garantir estabilidade", para que se possam ver os efeitos das políticas. Estabilidade. Deve ser por isso que o Ben Ali está há já 22 anos na presidência da Tunísia. Quem sabe são mesmo precisos 22 anos para se mudarem coisas essenciais, como os direitos das mulheres, por simples exemplo. E a contar com a 'estabilidade' das 'suas' fotos nas paredes das casas e das lojas e dos hotéis, a contar com a 'solidão' dos seus cartazes para as Eleições 2009, não parece ser ainda desta que vá de lá sair. Estabilidade é uma palavra bonita. Quem não a deseja? O Salazar também se manteve 'estável' no seu cargo político durante 35 anos, e com ele manteve igualmente 'estável' uma nação inteira. Já o outro, o Marcellinho Caetano não teve a sorte de ter tanta 'estabilidade', e esgotou-se-lhe o tempo para introduzir as mudanças que precisam de tempo, e de estabilidade.
Mas..., e [falar de] coisas simples, não? Claro que sim! [de] coisas simplex-íssimas até. Por exemplo, como chegar a Primeiro-Ministro. Ou, dado o momento, a Presidente da Câmara. Estabilidade quem?, aqui a palavra-chave é a Instantaneidade: invista-se no sorrisinho (resplan)decente, no porte atlético desnutrido de alimentação constante, no contacto manual ternurento ao som de um belo 'Eu prometo que sim!'. E chega. Nem é preciso ser-se psicologicamente 'estável'. Basta mesmo mesmo parecer-se bom rapaz.

terça-feira, agosto 25, 2009

quarta-feira, julho 29, 2009

my father's dreaming with golden cars.

















Damn!, daddy, I've told you not to dream so much!


quarta-feira, julho 22, 2009

matriz

    
que tenho um útero bonito, disse ele, perfeito. que dificilmente irei ter problemas com um útero assim. ainda ele não acabou de dizer e comecei já eu, completamente embevecida, a imaginar os filhos a crescerem-me neste útero, primeiro um depois outro, depois outro e outro. os dedinhos perfeitinhos, minuciosos, os labiozinhos de rosa, as dobrinhas das carnes tenras. as crianças a desenvolverem-se, a crescerem, a preencherem-me o útero. depois a saírem, a percorrerem as coisas, os objectos, as pessoas. a crescerem mais e mais. a preencherem-me a vida. imagino essas crianças, minhas, células das minhas células, carne da minha carne, crescidas aqui, neste útero, essas crianças, esses adolescentes, esses adultos. e, depois logo, eu, já velhinha, definhada mas realizada da vida, pronta para adormecer e retornar ao outro útero, ao da mãe primeira, húmida e escura.

(as mulheres. dá-se-lhes uma palavra, uma frase, seja o que for, e dá-se-lhes, ao mesmo tempo, pano para costurarem divagações.)
     
     
         
      

terça-feira, julho 21, 2009

instantâneo










(Porto, Portugal, 2009)


Enquanto estendo o pé em cada passo,
enquanto vislumbro a estação,
enquanto subo o degrau do comboio,
enquanto me sento e acomodo,
enquanto espreito pela janela,
enquanto vejo a cidade a mover,
enquanto páro na estação seguinte e depois na outra e na outra depois,
enquanto contemplo o homem sentado,
enquanto o vejo afastar-se, momento atrás de momento, sem rasto palpável, ou que possa aconchegar no colo, enquanto lhe tento reter a face, a expressão, pensando que talvez não o volte a ver jamais, e se me derretem na boca, como algodão doce, esses pensamentos fortuitos,
enquanto se dissipa também ela, a face, na marcha do comboio,

e se me passa, também, este dia pelas mãos, pelos olhos, em sons e gostos que só saberei depois,
aí, nesse(s) entretanto(s) prolongado(s), pergunto-me

para onde vão eles, esses instantes em que pedalamos à velocidade da luz?


(assim, visto de passagem, parece-me que gastamos a vida ou no passado ou no futuro. fazia-me falta às vezes abrir a janela do comboio e deitar borda fora Tudo o que não seja aquele instante. Mas.)

quarta-feira, julho 15, 2009

«E esta, hem?»


Experiência (II)

Nunca fui travessa na escola. Fui sim travessa com a(s) minha(s) avó(s). Com menos de uma década de vida já lhe tentávamos, eu e a minha irmã, passar a perna, convencidas que a esperteza infantil vai mais longe que a sabedoria centenária. Lembro-me que uma vez pegámos em pedaços de pastilha elástica, fizemos bolinhas pequenininas, e colámo-las em raminhos de Mimosa. Depois, com caras de inocência matreira, fomos vender com unhas e dentes aquele achado à minha avó i.. 'Olhe vó, olhe o que descobrimos!' ' Oh, então isso é Mimosa!' 'Não é não vó!, olhe lá, esta tem bolinhas brancas, e a Mimosa não tem!'. Pois sim, riu-se ela. E ficámos nós, com a matreirice a derreter-nos nas mãos.

(enfim, não é à toa que as mães nos mandam investir na sopa. mas acho engraçado, e muito!, que tantas vezes se olhe para os velhos como quem olha para crianças: demasiado crédulos. mas onde raio achamos nós que eles enfiaram os anos de vida?)

«My momma always said...»


Experiência (I)

não sei como o fazem, se o fazem, se não o fazem, se lhes sai simplesmente, como uma criança nos cresce na barriga sem termos que querer assim forçosamente. não sei. não sei como o sabem, se o chegam a saber, se nem pensam nisso. não sei de onde lhes vem essa experiência que parece só (ou principalmente) funcionar no que toca à vida dos filhos. não sei, mesmo. e até pode passar tempo, podem passar tempestades, podem vir turbilhões, bonanças, e acabarmos a pensar que nós, afinal, é que sabemos. mas depois, amassadas as coisas, choradas, requentadas, depois, no fim de tudo, apercebemo-nos que as mães tinham, têm (e terão?) sempre sempre... razão.

(que raiva, pá.)

quinta-feira, julho 09, 2009

convenções


no verão do meu 10º ano, estreou um filme no cinema que toda a gente foi ver, menos eu. armageddon. tinha uma banda sonora pomposa, que acabei por pedir emprestada a uma colega de turma. uma vez que queria ficar com uma versão em K7, decidi pedir-lhe, primeiro. então, com o embaraço da questão atravessado, perguntei-lhe se ela importava que eu usasse o CD dela.
ela olhou para mim, sacudiu-se como um cão molhado, abriu e fechou os olhos em série e, depois, com um esgar de estranheza disse-me qualquer coisa do tipo: 'claaaro...'.
mas, não satisfeita, apanhou-me com a minha melhor amiga e, trumba!, contou-lhe a história, descrevendo-lhe cuidadosamente os pormenores sórdidos da minha ingenuidade. 'pediste-lhe autorização? oh i.! isso não se usa!'.
já não se usa já não se usa já não se usa, ecoou a frase na minha cabeça, já não se usa, já nao se usa, já nao se usa... não? não mesmo? e.............., deixando de lado as questões do quem-onde-como-e-porquê, desde quando é que não se usa?

(se faz favor, alguém deixe disponível o livro dos usos e desusos das coisas. com datas de entrada em vigor bem especificadas. e com datas de perda de validade também. é que desconfio que me vá ser útil nas imensas manhas da interacção social.)

quinta-feira, julho 02, 2009

You





you' ve got to clean up this mess.*



(*lyrics por completo aqui.
na figueira da foz, em famalicão, em lisboa, em faro. na net.)




quarta-feira, junho 24, 2009

estava escrito.































(imagem daqui)

pois claro que sim. então? já a Bíblia, esse livro avançadíssimo para a sua época, há uns bons aninhos previa isto: «Deixai vir a mim as criancinhas (...) » (Mt 19,13-15; Lc 18, 16).

(esperemos é que não acerte no Apocalipse.)


terça-feira, junho 16, 2009

O Quadrado da Lógica (II)


se não escorregarem na banana. reduz-se: a probabilidade de darem um tombo. reduz-se: a probabilidade de ameaçarem a integridade óssea. então reduz-se: a recorrência a serviços de radiologia. então reduz-se: o número de radiografias feitas. então reduz-se. o número de radiografias em casa. então reduz-se: a quantidade de radiografias oferecidas para reciclagem. então reduz-se: a quantidade de prata extraída. então reduz-se: a quantidade de prata à venda nos mercados internacionais. então reduzem-se: os fundos para projectos de desenvolvimento humano.

(quando virem uma casca, coragem: prego a fundo, escorreguem na banana.)

sexta-feira, junho 05, 2009

Paradoxo
















foto original: mifares


digo isto. hm, penso. rodo 180º. e aquilo? ah, aquilo! pronto, digo aquilo. hm. 90º. penso a medo: aquilo...? penso convicta: e outro?? mais 180º. ui: ...e aqueloutro? digo antes. digo depois. penso. tudo mudou. aaaaaaaaah. isto e aquilo. outro e isto. aquilo e aqueloutro. não combinam, não encaixam. aaaaaaaaah. fui eu que o disse? isto, aquilo, outro e aqueloutro? fui?, sou?, 'eu' ainda? o depois mudou o antes (e o antes mudou o depois?). o isto torna-se aquilo. o outro aqueloutro. o isto morre, sucumbe. e eu? digo aquilo. penso isto. digo isto, penso aqueloutro. não!, aaaaaaaah, nada é já o mesmo! eu aqui,

'estou além'. eu?

eu sou, só posso ser, o inverso de mim mesma.


segunda-feira, junho 01, 2009

O melhor cego.






Just sitting here and trying to decipher / What's written in Braille upon my skin / On this skin. (Regina Spektor, Braille, 11:11)

(se te for difícil ver, encerra os olhos. depois, certo que a luz cega e que as cores iludem, escuta no tacto, nos gostos, nos cheiros. escuta, cá dentro, nas vísceras, as sensações.

porque o melhor cego é aquele que não quer ver - não, não quer. e, assim, desiludido já das coisas, este cego quer apenas e afinal
sentir.)

sexta-feira, maio 22, 2009

Eleições (ganha o mote mais fatalista)


os mms, movimento mérito e sociedade, afirmam veementemente que "se nada fizermos nada acontece". parei. arregalei os olhos e pensei: serei eu capaz de parar este mundo? depois, surpreendida pelas buzinadelas, desci novamente à terra e acabei de atravessar a passadeira. balelas é o que é. e passo a desconstruir:
(a) primeiro, 'se' 'nada fizermos': difícil de definir 'nada'. mas ainda mais difícil é definir 'fazer nada'. se eu me sentar numa mesa de café e ficar a olhar para o 'nada', a pensar que estou a 'fazer nada', ainda assim estou sentado à mesa do café. e o mesmo acontece se ficar eternamente trancado na casa de banho, ou de molho na cama. feliz ou infelizmente, o simples facto de existir implica fazer algo, nem que seja atravancar.
(c) depois, 'nada acontece': hm. nada acontece?!?! mas em que mundo vive esta gente? se os acontecimentos espacio-temporais estivessem à minha espera para acontecerem, estaria já eu velha e caquética, para não dizer completamente chupada, e plenamente aborrecida por ter de andar a acompanhar o mundo há biliões de anos. não, oh senhores, quer façamos ou não, as coisas 'acontecem'. se eu me sentar no café e 'nada fizer', daí a algumas horinhas terei a senhora a dizer-me que está na hora de fechar, a desejar-me a boa noite e a tentar, contida e educadamente, pôr-me dali para fora. se eu 'nada continuar a fazer', logo logo darei azo à perda da paciência e serei a chatice da noite, o porquê de se chamar a polícia, e a estória do dia seguinte que, por certo, mudará a vida de imensa gente. e ficar na cama, por portas e travessas, vai dar ao mesmo. porquê? porque 'nada acontecer' não é uma perspectiva viável num mundo em que o relógio não pára. nem muito menos espera por aqueles que decidem parar.

(as pessoas, na procura desesperada de motes para encher a alma e a motivação às gentes, acabam por soltar frases vazias, plenas de 'nada'. como assim 'nada acontece'??? se 'nada fizermos' o que é provável é que as coisas 'não aconteçam' da forma como queríamos que acontecessem. mas, e se fizermos??? a política, e nao só, está cheia de exemplos de gente que decide, em vez de 'fazer nada', 'fazer asneira'. e de facto, infelizmente, 'algo' acontece.)

quinta-feira, maio 21, 2009

Portas


II

caminhamos. montamos a tenda. progredimos. construímos a casa. deixamos entrar. organizamos o espaço. aborrecemo-nos. saímos. voltamos a entrar. expulsamos. reorganizamos o espaço. uma, outra e outra vez. de tempos a tempos. todos os dias. que raio? olhamos para trás. sentimos a rajada na face. percebemos enfim.

(unfinished business são como portas abertas por onde entra o vento. e não há maneira de arrumar a casa. portanto, das duas uma: ou calamos o vento, ou fechamos a porta.)

 

quarta-feira, maio 20, 2009

Portas


I





















ando a bater à porta dos sonhos, e a pedir num desassossego que me deixem entrar.
- está aberta, entra!
hm.
agora que posso, agora que tenho a permissão para,
será que quero?

(irrita-me, sim irrita-me. confesso que me irrita, e Pro-Fun-Da-Men-Te!, o facto de ter-que questionar tudo. quem me vir assim, abananada pela vida, até diz que o meu problema é não saber o que quero. hm. pois.)

         
    

quarta-feira, maio 13, 2009

Desculpas


I
Tempo. 24 horas. 1440 minutos. 86400 segundos, fora as imprecisões. Tanto tempo, se formos a pensar que podemos demorar apenas uns quantos milisegundos a formar um pensamento. Não me perguntem porquê mas de facto não consigo arranjar tempo, no meio de tanto tempo, para escrever um post. Porquê?

(pronto. desculpa [esfarrapada] número 1 para não actualizar o blogue [quase] há séculos.)

II
Limites cognitivos, i.e. Burrice pura. Os posts escrevem-se quando pensamos em algo razoável (ou não) que queremos partilhar com os outros. Ora eu, sinceramente, nos últimos tempos sinto-me limitada cognitivamente para pensar, decentemente, no que quer que seja. E daí que ande a resistir à partilha de opiniões desconexas com os outros.

(desculpa número 2 para não actualizar o blogue há séculos. e também aquela que espero que explique este post…)

III
Ser livre para partilhar o vazio que habita a minha cabeça, e as ideias disconexas. E, a propósito do 25 de Abril, Liberdade é querer escrever um post e mandar tudo para o ar e escrever o post. Mas: Eu sou, supostamente, uma menina adulta e responsável (sou? hm). Não posso, sem-mais-nem-menos, deitar tudo para o ar e escrever o post (não?). Não. Raios. Pelo que me parece, a liberdade é uma função exclusiva. Isto é, ou temos a liberdade, ou temos o resto. Não podemos é ter ambos. E, visto que este mundo nos exige, a partir de uma certa idadezinha (não me perguntem é qual), umas quantas responsabilidades – que serão, infelizmente, quase a totalidade do resto – o que acontece à liberdade é triste: empurrada borda fora. Que raio de liberdade é esta que quer tudo e não nos deixa ser livres para ter o resto também? Nestes termos, a liberdade torna-se inconsistente e, por isso, uma tanga. Logo, não tenho liberdade, principalmente para escrever acerca do vazio que habita a minha cabeça, e das ideias disconexas que o tentam - impossivelmente - conectar.

(desculpa número 3, e a mais [des]idealista, para não actualizar o blogue há séculos.)


p.s.: Estou com medo, confesso. Aconteceu-me o mesmo com o Diário: de um momento para o outro pensei Já não tenho paciência para isto. E encerrei o caderno. Ou isso, ou estou numa Fase (uuuuuui!): a porcelana está a precisar de uns reparos, de uns reforçozinhos aqui e ali (fragilzinha, hem?… ui ui!). A precisar de tempo. E voltamos ao ciclo das desculpas.