terça-feira, julho 03, 2012

o que fazer com a raiva e a frustação



o John Kheir deu um bom exemplo. é pegar nelas com muita força de braços, e usá-las como motores para a vitória posterior. tivéssemos todos esta gana.

(ainda a propósito disto, mas muito mais além.)


quinta-feira, maio 17, 2012

muros


- i love you Kevin.
- nhe nhe nhe nhe nha.



(esta mania de estabelecermos barreiras no afecto. de não querermos mostar que apesar de toda a mágoa e desconfiança que se instala, se ama, ainda. esta mania de perpetuar o ciclo. e de nos tornarmos ridículos.

era amar o outro até ele se render. pregar-lhe com cada estalada de afecto que ele se cansava de combater à defesa. mas para isto era preciso ter a sanidade de ver... e o nosso cérebro prefere render-se ao orgulho cegamente.)
    

quarta-feira, maio 16, 2012

paradoxo pequeninino


um homem, seja qual for, ou mulher, deve-se julgar pelo que faz, não pelo que diz.
mas se formos a considerar um homem apenas pelo que faz, diminuímo-lo na sua essência.



(a pensar nas muitas coisas que um homem faz. e em todas aquelas em que pensa ao longo do tempo.)
          

domingo, maio 13, 2012

(a)bru(p)to

 
um gajo quando acorda às 7h20 da manhã, mete a mão ao despertador ainda com os olhos semi-cerrados, dá meia volta na cama, quando vira a cara na almofada, enterra a cara na almofada, olha para o lado, tem a companheira, ergue-se sobre si e salta da cama, quando percorre o corredor a cambalear, quando espreita o quarto das filhas, dormem, quando se enfia no wc, toma o duche debaixo das pingas quentes, fecha os olhos, trauteia baixinho, demora-se, as pingas quentes, relembra uma música que gostaria de compôr, as pingas quentes, fecha a torneira, sai, seca-se, quando volta para o quarto, olha a mulher, sorri a qualquer coisa que ela diz, quando pega nas calças, desiquilibra-se enquanto as veste, vai à janela para ver o tempo, escolhe a camisa, quando se olha ao espelho e ajeita o cabelo, a mulher pergunta-lhe, ele responde, quando sai do quarto, vai à cozinha, ela chega, há leite aberto?, quando faz o café, 2 colheres cheias na chávena da terceira porta do armário, quando tira as fatias de pão e as põe na torradeira, quando retira com cuidado aquela migalha a queimar na resistência, quando pega nas torradas, e lhes barra demoradamente a manteiga, quando as leva à boca, a pensar noutra coisa qualquer, quando pega na loiça e a põe para lavar, quando percorre novamente o corredor, procura a mulher no duche, combina superficialmente como será mais logo, quando volta à cozinha para buscar o pullover que ficou na cadeira, estanca o olhar na taça das nozes, deita-lhes a mão, chega uma à boca e pensa que faz bem ao cérebro, ou nem pensa e apenas lhe sente o sabor, quando pega nas chaves do carro e na máquina fotográfica, não imagina nunca que vai morrer às 15h04.

     

Bernardo. e todos os outros.





(para onde vão as coisas, tudo aquilo que recolhemos durante anos,
tudo aquilo que desenhámos na pele, que aprendemos, que construímos na mente,

todo o conhecimento, todas as ideias, tudo o que vimos, que eu vi!, todas as interpretações,
para onde vão?

para onde vão as coisas que somos, que vivemos, todas as memórias,
para onde vão caramba
quando terminamos?)
      
            

sexta-feira, abril 27, 2012

reminiscências (iv)


abri a carta das finanças. tra la la tra la la oficiosamente tra la obstar la la não desobriga la tra. artigo tal e tal, com a sigla e a lei, etc tra la. no meio de 346 palavrinhas e artigos e etc percebi que o que tinha a fazer era ir amanhã à loja do cidadão para perceber o que afinal querem eles.


(esclareci-me. que não espantará haver tanto devedor, mau pagador, tanto imposto por pagar e situação por regularizar em Portugal enquanto a linguagem para estabelecer contacto for esta. eu quase que adivinho, imagino o esquema: há a primeira ideia: oh Zé, anda cá, tens que nos vir dizer que já não trabalhas no talho. mas, ah, não!, não se pode dizer assim, directamente, não! então e as maneiras? e a palavrinha complexa do dicionário? não, há que complicar a coisa e dizê-lo em muitos parágrafos e com muitos enfeites. e não é chegar directamente à mensagem! há que estabelecer o labirinto, entontecer uma pessoa com tanta volta, invocar o suspense e fazer o coração praticar o bac final. Vossa Excelência é notificada para o exercício do direito de audição... e a partir daqui chapam-se 7 parágrafos gratuitamente. 
eu muito sinceramente preferia ser tratada por tu mas que me dissessem na cara o que tinham a dizer. em vez de me andarem a embrulhar o cérebro e a gastar dinheiro no papel. é que nem é o problema da cortesia, que ninguém peca por ela. mas custam-me quando as coisas são somente ocas, sem sumo. custam-me as aparências quando servem para dar o trabalho de se andar a desembrulhar depois.)


(há qualquer coisa de muito errada na comunicação entre o povo e os seus governantes.)

reminiscências (iii), com paradoxo


por portas e travessas, ou por um simples processo de recuperação de informação espacial, encontrei o punhado de números e letras. yupii.
antes disso, 2 dias antes disso para ser exacta, tinha enviado o bonito do e-mail a pedir que as autoridades responsáveis me dissessem qual a minha música favorita de há 5 anos. não me responderam. loooogo! responderam-me 4 dias depois do meu e-mail, já muito posteriormente ao meu desgrenhamento capilar parcial, exactamente 2 dias depois de eu encontrar os números e as letras. mas responderam, valha-nos nosso senhor.
mas, não satisfeitos por se terem dado ao trabalho de enviar o e-mail de resposta, escreveram ainda ternamente: verificámos que acedeu ao nosso website após o seu pedido, pelo que depreendemos que tem o problema resolvido.
ora pois!, pensei eu, se tivesse enviado o e-mail mais cedo, eram estes senhores bem capazes de me terem respondido antes.
     
     
( -.-'' )
             
            

terça-feira, abril 10, 2012

reminiscências (ii)

           
faz-se uma coisa há coisa de cinco anos. recebe-se um punhado de números e letras para agora e para também mais tarde recordar. pedem-se-nos as preferências para referência, aquelas que mudam com as modas e os cortes de cabelo, aquelas que mudam com a idade e com as medidas de tempo. pedem-se-nos as preferências e ficam, os punhados e as preferências, juntinhos. usa-se esse punhado de números e letras um punhado de vezes para fazer certas e determinadas coisas. certo, certíssimo. deixa-se de usar esse punhado de números e letras um punhado de vezes porque se deixaram de fazer certas e determinadas coisas. correctíssimo. passam-se cinco anos. há novas certas e determinadas coisas para fazer. há o punhado de números e letras para reutilizar. mas quem raio se lembra do punhado de números e letras? ou sequer de onde se o guardou? tudo bem, má memória. certo, certíssimo. má organização dos dados pessoais. correctíssimo. há a opção de recuperação. oba. vamos lá recuperar o alfanumérico então. insira a sua música preferida de há 5 anos. como? i said insira a sua música preferida da altura.


([suspiro]. não sei se percebo as pessoas. mas, definitivamente, acho que elas não percebem o carácter volátil da memória, o carácter efémero da preferência, nem muito menos o carácter eterno da mudança.)
         
        

domingo, abril 01, 2012

Suu Kyi


desconfio de mulheres que põem em causa o seu bem-estar pessoal por amor a uma causa. olho-as de soslaio, desconfiada, interrogativa, curiosa. não posso deixar de lhes tentar imaginar as entranhas: de que fibra serão feitas? percorro-lhes as feições e os movimentos. percorro-lhes as palavras e os silêncios. percorro-lhes os jeitos e as acções. sempre à procura de respostas. de que fibra serão feitas? não sei. desconfio das suas intenções egoístas, das suas vontades mesquinhas, dos seus interesses menores. não creio que os tenham. creio que são incapazes de fazerem da sua existência uma existência simples, individualizada, minada por interesses regulares e padronizados. que mulheres assim são bem capazes de meter a família em segundo plano, e a vontade de calçar o sapato da moda em nonagésimo terceiro. porque, enfim, desconfio que mulheres destas serão capazes de tudo, menos de egoísmos. que serão capazes de deixar morrer distante o homem que amam sem lhe dar um último beijo, só porque receiam ver morrer o amor primeiro. capazes de viver apartadas dos filhos que lhe nasceram do corpo, só porque amam também os dos outros. capazes de viver aprisionadas, só porque têm uma mente livre.

só porque amam um povo. uma pátria. e uma democracia: a verdadeira.


(enfim dada um pouco de voz a quem tem gritado silenciosamente há pelo menos 20 anos.)

           

segunda-feira, março 19, 2012

the first time. and all the others. as long it can be called experience.



"Chasing rainbows all my days
Where I go I do not know
I only know the place I've been
Dreams they come and go, ever shall be so
Nothing's real until you feel." (*)



(*) Iron Maiden,Ghost Of The Navigator, Brave New World, 2000,  
letra completa aqui 
        
 

'the grass is always greener on the other side' ou, em português de Portugal, 'a galinha do vizinho é bem melhor que a minha'. (ii)



isto, podia bem ter sido dito com menos palavras:


"As canções e os poemas ignoram tanto acerca do amor. Como se explica, por exemplo, que não falem dos serões a ver televisão no sofá? Não há explicação. O amor também é estar no sofá, tapados pela mesma manta, a ver séries más ou filmes maus. Talvez chova lá fora, talvez faça frio, não importa. O sofá é quentinho e fica mesmo à frente de um aparelho onde passam as séries e os filmes mais parvos que já se fizeram. Daqui a pouco começam as televendas, também servem."  


José Luís Peixoto, in Visão, Janeiro 2012

           

isto é como um teste (ii)


pegas na folha e ficas 1h30, 2h, a resolver as questões. sobe-te o sangue à cabeça, suas, sais a ferver. mas achas que te empenhaste, que aquilo até correu bem. falas com os colegas, até correu bem. puxam das perguntas, tu estás descansado. discutem as respostas. tudo bem. de repente, tramp!. não!, era isso? era essa a resposta? não. como é possível? como é que não me lembrei disso? disso!
segues para casa, jantas cabisbaixo, remóis contigo a pergunta, remóis a resposta que deste, remóis o lapso, o teres falhado. o falhanço. remóis isso tudo, não te sai da cabeça, queres dormir e não te sai da cabeça. falhei. como é que eu não vi? como é que eu errei aquilo? aquilo! eu até estudei...

          

(tinha tudo para dar certo. para correr bem. para ir avante e sair-se bem. o melhor possível. mas cometemos erros, imperdoáveis talvez. porque não podemos ir lá atrás e corrigir, e responder bem, e dar a melhor resposta possível. porque não podemos emendar o teste e ter um 100%. porque tinha tudo para dar 100%, mas falhou. e até perdoarmos o erro, o nosso erro, são noites a pensar, a pensar nem que no sonho. muitas. mas tudo passa, tudo passa.

esperamos nós...)
            
        

domingo, março 18, 2012

este josé luís, este josé luís...


"Somos todos iguais na fragilidade com que percebemos que temos um corpo e ilusões. As ambições que demorámos anos a acreditar que alcançávamos, a pouco e pouco, a pouco e pouco, não são nada quando vistas de uma perspectiva apenas ligeiramente diferente. Daqui, de onde estou, tudo me parece muito diferente da maneira como esse tudo é visto daí, de onde estás. Depois, há os olhos que estão ainda mais longe dos teus e dos meus. Para esses olhos, esse tudo é nada. Ou esse tudo é ainda mais tudo. Ou esse tudo é mil coisas vezes mil coisas que nos são impossíveis de compreender, apreender, porque só temos uma única vida.
— Porquê, pai?
— Não sei. Mas creio que é assim. Só temos uma única vida. E foi-nos dado um corpo sem respostas. E, para nos defendermos dessa indefinição, transformámos as certezas que construímos na nossa própria biologia. Fomos e somos capazes de acreditar que a nossa existência dependia delas e que não seríamos capazes de continuar sem elas. Aquilo em que queremos acreditar corre no nosso sangue, é o nosso sangue. Mas, em consciência absoluta, não podemos ter a certeza de nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada. Assim, repetido até nos sentirmos ridículos. E sentimo-nos ridículos muitas vezes e, em cada uma delas, a única razão desse ridículo é não conseguirmos expulsar da nossa biologia, do nosso sangue, dos nossos órgãos, essas certezas injustificadas, ou justificadas por palavras sempre incompletas. Mas é bom que seja assim. Porque podemos continuar e, enquanto continuamos, continuamos. Estamos vivos. Ou acreditamos que estamos vivos, o que é, talvez, a mesma coisa.
— Porquê, pai?
— Porque o amor, filho."*


*Não podemos ter a certeza de nada, José Luís Peixoto, in 'Abraço'
                                                 
              

domingo, março 11, 2012

correlações (i)

        
as camisolas encarnadas dos jogadores escurecem com o suor à medida que o jogo aquece. assim como as panelas de esmalte, vermelhas, escurecem ao lume.
        
        

segunda-feira, março 05, 2012

crises de fígado ou outras como tal

         
estavam 20 pombos quando eu passei. eu passei. eles assustaram-se. levantaram voo. pousaram noutro lado qualquer. amedrontados. ficou um. um apenas. quieto, cauteloso. ali ficou enquanto eu passei. e eu passei. reparei nele. no olhar cauteloso enquanto dava pequenas voltinhas. deixou-me passar. perseverou enquanto eu passava. eu passei. depois, sozinho, lançou-se ao milho.
          
          
(só os resistentes, só os resistentes é que superarão isto.)
         
        

Papillon (iv), Ou Inatentional blindness (ii)

  
mas compreendo o pastor. acho muito muito difícil valorizar as outras 99 enquanto não se perderem.


    

(é sempre assim. quando temos, está seguro e vamos à conquista do mundo. se falha a base, que se dane o mundo.)
    
  

sábado, fevereiro 25, 2012

'sem'texto

            
como explicar as pessoas e aquilo que elas fazem. o que elas fazem, acima do que elas são. que o que elas são é tanto. como explicar o desfazamento entre o que as pessoas fazem e o que as pessoas são. eu não sei o que as pessoas são.
as pessoas, como dizia o Mischel, funcionam por contextos. funcionam sempre por contextos. e as coisas, como as pessoas, fora de contexto, perdem inevitavelmente o sentido.

porque é que eu não gosto do joão e aguento o humberto, mesmo quando me fala das coisas mais aborrecidas do universo. porque o humberto é um contexto. e sem o humberto, a minha paciência ou a minha impaciência perdem-se num conjunto de conjecturas que impedem a compreensão do meu comportamento.

tudo perde o sentido. não há como explicar a joana que vê a amiga morrer na droga e segue o mesmo caminho. não há como explicar que um filho batido volte ele próprio a bater. ou que não o faça, exactamente porque o foi. não há como explicar um homem. e o que ele vem a ser.

é como a vida, as lições da vida. precisam de um contexto de ocorrência. queres aprender a lidar com a desgraça? tens que estar nela e ela em ti. tens que perceber as coisas por dentro. queres aprender a lidar com a frustração? tens que a sentir. tens que estar lá. queres aprender uma pessoa? tens que a ler, que a observar, sabê-la. e não há como. tens que viver o mesmo. tens que passar pelo mesmo. ou parecido. não há livros, citações, conversas de 3 horas que nos ensinem a tirar o sumo das coisas.

não é de ensinamentos que precisamos, é de contextos. e vários.

            

terna é a noite


li a última página e fechei o livro. até que ponto podemos levar outra pessoa à ruína? sugar-lhe a esperança de que há pessoas certas. de que há um mundo certo onde todos poderemos ser felizes. onde não seremos uma e outra vez enganados. iludidos.

aliás, podemos nós destruir outra pessoa, ou só ela se destrói no limite a que se permite a si própria chegar? sei lá. 

há um limite para o amor que se deve sentir? um limite até onde ele nos deve levar? um limite para o quão fundo podemos chegar a afundar-nos nele?
pode o amor curar? pode uma pessoa ser recuperada da sua destruição através da destruição da outra? através de um simples processo de transferência. não sei.

e o cansaço? há um limite para o cansaço, ou poderemos sempre recomeçar?
não acho que haja um limite. real. há o imaginado talvez. o nosso. o que nos permitimos. o que nos cansou. e fez desistir. mas não tem que existir. tem?

um limite para os nosso receios, para os nossos erros?, que nunca o foram quando os fizemos, só quando olhamos para trás e pensamos já diferente. mas talvez já pensássemos diferente na altura.
nem sei.

há um limite para as coisas, ou podemos viver sem o alcançar, escapando-lhe às fronteiras apenas imaginadas mas sempre distantes?

se há um limite, como saber quando o ultrapassámos? se a escuridão da noite não nos deixa ver, enquanto nos fecha os olhos ternamente...



(nada se perde. nada se cria. tudo se transforma. ou, quem sabe, apenas se transfere...)
                 

terça-feira, fevereiro 14, 2012

isto é como um teste

           
pegas na folha, percorres as perguntas. hmm, pensas. resolves primeiro as mais fáceis e rápidas. despachas essas.

mas, depois, à espera, lá ficaram as outras. as hard. as que não se resolvem de chofre. as questões não-ou-mal resolvidas. e, mais tarde ou mais cedo, vais ter que lhes pegar.


(ou então não. mas há sempre as consequências.)
     
          

mindfulness

                
        
"Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas: 
Só me obriga a ser consciente." (*)





(*) Alberto Caeiro, 5-6-1922, poema completo aqui
                   

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

"graças a deus [que foste recusada]!" (*)

           
depois de ponderados pensamentos prolongados, e de um click instantâneo do tipo escorregadela, "ah espera lá que estou a ver isto de outra perspectiva", chego à conclusão - por enquanto - de que talvez tenhas alguma razão.

vejamos. sou bolseira. quando apelei à minha bolsa o objectivo foi obter financiamento para o meu trabalho. e claro está, não é que não estejamos apaixonados pelo tema, mas a questão passa muito por pintar aquilo de modo a que fique bonito e seja comprado.

obter uma recusa é um terror. significa mais um ano sem bolsa, mais um ano de espera - ou procura de outra coisa qualquer, - e para os mais resistentes, reformular e voltar a submeter e voltar a esperar. e quem fala em apelar a uma bolsa para um projecto, fala em tentar publicar um artigo: ambos podem receber um desmesurado NÃO.

a recusa pode ter muitos motivos: porque não interessa a ninguém; porque interessa mas a mensagem não foi bem entregue; porque interessa, a mensagem foi entregue mas interessa a alguém que quer ficar com ela; por motivos financeiros (falta de verbas. a linha de água desce. mais pexinhos que ficam sem água).

e os motivos finaceiros ditam grande parte da questão aliás. hoje em dia (mas obviamente que desde que o homem percebeu que podia obter mais do que o que vale = especulação), o lucro, os excedentes, governam as massas. ora se o teu projecto não dá nada a ganhar, e assumindo o cenário ideal que as pessoas realmente o avaliam para tu o desenvolveres e não com interesses próprios, óbvio que não vai ser financiado. afinal, não há verbas para tudo! mas, e no seguimento do primeiro parágrafo, ainda bem.

sou a favor da investigação básica, mas praticando-a, apercebo-me que a quero ver em aplicação. que a quero ver a ter efeitos e não somente lidar com números abstractos que nunca dirão olá a ninguém.

ora uma recusa significa voltar a trás e melhorar. porque uma, entre várias outras razões, é que à primeira não fomos suficientemente bons.

queremos melhorar o país? então melhoremos. recusados? "graças a deus!" é para a perfeição que caminhamos!

ou então não.



(o " ou então não" é uma das minhas expressões favoritas.)


           
             (ao J.C., que me estalou na face esta frase(*). sinceramente, muito agradecida! ;) )
                                       

domingo, fevereiro 05, 2012

negação


there are no such thing as complex people. or complicated people. or people unable to take decisions.

there are, instead, people who do not follow their gut [feeling].
  
                

domingo, janeiro 29, 2012

florence is a machine.

foto daqui.



 
          
"And I'm damned if I do and I'm damned if I don't
So here's to drinks in the dark at the end of my road
And I'm ready to suffer and I'm ready to hope
It's a shot in the dark aimed right at my throat
Cause looking for heaven, found the devil in me
Looking for heaven, found the devil in me
Well what the hell I'm gonna let it happen to me
."*
       
           

*(Florence and The Machine, Shake it out. Album: Ceremonials)

quinta-feira, janeiro 26, 2012

mas pensas tu que temos sempre consciência dos actos?


pois digo-te eu que há pelo menos duas inconsciências. a alegre inconsciência da ceifeira, e a inconsciência perversa. a primeira vive em acção passiva, sem saber o sofrimento que pode causar nessa passividade, ou o sofrimento que poderia vir a causar a si própria se não fosse insconsciente das coisas que doem e apenas consciente do que precisa para viver.

a segunda vive na forma activa. é-se consciente até um ponto, o resto escapa-nos da mão poque é impossível compreender-se o que não se aprendeu, é difícil, impossível talvez, ver o que não fomos treinados para ver.

nem sequer temos consciência de exactamente quanta consciência temos. porque a consciência é relativa. enformada no que crescemos e no que cresceu em nós.

e se nós não vemos, como poderemos saber que não vemos?

não vendo, saberemos porque alguém nos dirá que é errado, que não se pode colocar filhos em máquinas de lavar e sentar-se calmamente num sofá.

mas é 'chamar-nos à razão' critério suficiente para que a atinjamos?
se eu te disser que deus existe, porque hás-de tu acreditar se não acreditas.


(a mente é resistente à mudança de estado. e quem diz estado diz perspectiva.)
         

quarta-feira, janeiro 25, 2012

paralela


eu estava a falar com a patrícia e aparece a andreia. a patrícia não gosta da andreia mas eu gosto das duas. a patrícia fala disto e daquilo mas subitamente, enquanto eu falo com a andreia, desvia a conversa. eu não gosto da andreia. e a andreia continua, falamos do tempo, das sobremesas, da festa de hoje à noite. a patrícia insiste, é uma vaca. eu digo-lhe que está enganada, a andreia é uma jóia de pessoa. que terá os seus defeitos, é certo, como todos temos, que há coisas de facto que eu não aguento muito bem. mas que espremendo a coisa, o sumo é docinho.
        
(é engraçado isto de estar a falar com duas pessoas ao mesmo tempo, e de elas permancerem surdas uma da outra. de estarem lado a lado, mas apenas em janelas de chat. de não se chegarem a ver, quanto mais a perceber o que diz uma e a outra. 
não há nada como olhos nos olhos. ouvidos nos ouvidos. e respirarmos todos do mesmo ar. e do mesmo calor humano.)
           
        
(maio 2011)

terça-feira, janeiro 24, 2012

pelo contrário

         

         
    
would it be easier?
not. harder, maybe.

but I'd be a better girl.
                  





sábado, janeiro 14, 2012

push the button

          
expliquem-me por favor por que meio infeliz as pessoas não puxam o autoclismo quando vão a uma casa de banho que se localiza fora das suas casinhas. é que já não é a primeira, nem a segunda, nem certamente será a última vez que vou a uma casa de banho [pública] e que me deparo com o espetáculo ao vivo e a cores na sanita perto de mim. quem nunca experienciou isto que dê um gritinho: a água amarela na melhor das hipóteses, a louça tingida de outra cor e substância na talvez pior (mas não meto limites: o ser humano é capaz de me surpreender).
e não compreendo, pronto, não compreendo. até é coisa para me ultrapassar: a incapacidade de se descarregar um autoclismo. um auto-clismo. nem é preciso encher um balde, erguê-lo e despejá-lo. não. tudo se resume a um simples botão que devemos premir. posto isto, soltar-se-á uma enxurrada de água para que tudo regresse à normalidade naquele local de higiene. um pequeno e simples botão. mais nada. mais simples que isso só se for por pensamento (a caminhar como estamos para o absoluto dolce far niente é coisa para se pretender. ou se pudesse ser automático sem que uma pessoa tivesse de se dar ao trabalho de pensar, ui ui!). 
eu já nem digo usar o piaçaba. não. ui senhor!, isso já seria exigir muito. seria exigir que uma pessoa se desse ao trabalho de limpar o que sujou. ui, não, deus nos livre de cometer tal esforço! mas o botãozinho, a acontecer tão perto de nós, e a implicar apenas que tenhamos em nós uma parte de corpo que encaixe nele, oh por favor.

posto isto, só me resta invocar The Chemical Brothers na sua educadora cançãozinha. ora escutem:

"Don't hold back...
Cause you woke up in the morning, with initiative to move, so why make it harder...
Don't hold back...
If you think about it, so many people do, be cool man, look smarter....
Don't hold back...
(...)
World, the time has come to...
Push the button...
World, the time has come to...
Push the button...
World, the time has come to...
Push the button...
World, my finger, is on the button...
My finger, is on the button...
My finger, is on the button...
Push the button...
"

take-home message (porque convêm sempre reforçar a ideia): from time to time, your finger should also be on the button.
                 
          

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Lomba


"A introspecção leva à dúvida, não leva ao conhecimento."*  

é como na ciência. deixamos de ver, de perceber a coisa. cria-se a dúvida. gera-se a hipótese. mas depois é preciso testá-la.





*Pedro Lomba, Fonte - Diário de Notícias / 20050624


liberdade revisitada

           
"A complexidade da vida moderna significa que ninguém é dono da sua própria vida. A nossa vida pertence ao Estado, à empresa, ao partido, a inúmeras famílias e organizações por onde a nossa individualidade se distribui. O homem moderno sofre fatalmente de personalidade múltipla. Eleitor, militante, trabalhador, contribuinte, membro disto e daquilo, a sua natureza profunda consiste em representar vários papéis sociais e em ir cumprindo o que lhe pedem." 
Pedro Lomba, Tema - Homem Fonte: Diário de Notícias / 20081030
      
         
   

quarta-feira, janeiro 11, 2012

ou incapacidade de abstracção?

    
sempre me intrigou como é que aquilo que tanto criticamos nos outros, é exactamente aquilo que acabamos por fazer. e repetidamente.


(mas será que não temos um pingo de consciência? e de contenção de impulso? se calhar não. ocorreram-me agora os famosos erros de interpretação: não não, o que tu fazes está mal. já o que eu faço é diferente...)
   
    

terça-feira, janeiro 10, 2012

incapacidade de aprendizagem





 (a forma como ele olha para nós. e o que ele diz. fico abalada de pensar que depois de tantos anos, de tantas palavras para trás e para a frente, de tanta renovação de frentes e tanta aprendizagem escolar, ainda somos capazes de cometer os mesmos erros. e de tornar estes discursos sem época.)

           

quinta-feira, janeiro 05, 2012

usar o pé, ir a pedantes, esticar o pernil para o dobrar de seguida, exercitar a pernoca vírgula o pé vírgula e o resto.

          
ele
- queres boleia?
eu
- não, obrigada, prefiro ir a pé.
ele
- mas eu dou-te boleia!
eu
- está bem, mas eu prefiro ir a pé.
ele
- mas eu estou de carro e posso dar-te boleia.
eu
- está bem, agradeço, mas eu gosto de andar e prefiro ir a pé.
ele
- fogo, tu és chata!

...


(das duas uma: ou as pessoas não nos ouvem, o que não parece ser o caso, ou as pessoas não nos compreendem mesmo quando nos ouvem. a minha parca experiência de vida inclina-me pesadamente sobre esta última hipótese. e tenho pena. mais valia que não nos ouvissem e treinássemos somente o acto de audição. já treinar o de compreensão parece ser bem mais tramado.)
         
               

quarta-feira, janeiro 04, 2012

I have a goal





               
objectivo para 2012
mesmo quando as coisas doerem, e doerem muito, ao ponto de acharmos que não superamos o instante, ou a sequência de instantes, ou a sequência de sequências de carradas de instantes, manter a mente fixa no ponto adiante, 
porque é lá que queremos chegar.


(se não tivermos objectivos, seremos vencidos pelo que pede, suplica e manda o instante.)