segunda-feira, março 19, 2012

the first time. and all the others. as long it can be called experience.



"Chasing rainbows all my days
Where I go I do not know
I only know the place I've been
Dreams they come and go, ever shall be so
Nothing's real until you feel." (*)



(*) Iron Maiden,Ghost Of The Navigator, Brave New World, 2000,  
letra completa aqui 
        
 

'the grass is always greener on the other side' ou, em português de Portugal, 'a galinha do vizinho é bem melhor que a minha'. (ii)



isto, podia bem ter sido dito com menos palavras:


"As canções e os poemas ignoram tanto acerca do amor. Como se explica, por exemplo, que não falem dos serões a ver televisão no sofá? Não há explicação. O amor também é estar no sofá, tapados pela mesma manta, a ver séries más ou filmes maus. Talvez chova lá fora, talvez faça frio, não importa. O sofá é quentinho e fica mesmo à frente de um aparelho onde passam as séries e os filmes mais parvos que já se fizeram. Daqui a pouco começam as televendas, também servem."  


José Luís Peixoto, in Visão, Janeiro 2012

           

isto é como um teste (ii)


pegas na folha e ficas 1h30, 2h, a resolver as questões. sobe-te o sangue à cabeça, suas, sais a ferver. mas achas que te empenhaste, que aquilo até correu bem. falas com os colegas, até correu bem. puxam das perguntas, tu estás descansado. discutem as respostas. tudo bem. de repente, tramp!. não!, era isso? era essa a resposta? não. como é possível? como é que não me lembrei disso? disso!
segues para casa, jantas cabisbaixo, remóis contigo a pergunta, remóis a resposta que deste, remóis o lapso, o teres falhado. o falhanço. remóis isso tudo, não te sai da cabeça, queres dormir e não te sai da cabeça. falhei. como é que eu não vi? como é que eu errei aquilo? aquilo! eu até estudei...

          

(tinha tudo para dar certo. para correr bem. para ir avante e sair-se bem. o melhor possível. mas cometemos erros, imperdoáveis talvez. porque não podemos ir lá atrás e corrigir, e responder bem, e dar a melhor resposta possível. porque não podemos emendar o teste e ter um 100%. porque tinha tudo para dar 100%, mas falhou. e até perdoarmos o erro, o nosso erro, são noites a pensar, a pensar nem que no sonho. muitas. mas tudo passa, tudo passa.

esperamos nós...)
            
        

domingo, março 18, 2012

este josé luís, este josé luís...


"Somos todos iguais na fragilidade com que percebemos que temos um corpo e ilusões. As ambições que demorámos anos a acreditar que alcançávamos, a pouco e pouco, a pouco e pouco, não são nada quando vistas de uma perspectiva apenas ligeiramente diferente. Daqui, de onde estou, tudo me parece muito diferente da maneira como esse tudo é visto daí, de onde estás. Depois, há os olhos que estão ainda mais longe dos teus e dos meus. Para esses olhos, esse tudo é nada. Ou esse tudo é ainda mais tudo. Ou esse tudo é mil coisas vezes mil coisas que nos são impossíveis de compreender, apreender, porque só temos uma única vida.
— Porquê, pai?
— Não sei. Mas creio que é assim. Só temos uma única vida. E foi-nos dado um corpo sem respostas. E, para nos defendermos dessa indefinição, transformámos as certezas que construímos na nossa própria biologia. Fomos e somos capazes de acreditar que a nossa existência dependia delas e que não seríamos capazes de continuar sem elas. Aquilo em que queremos acreditar corre no nosso sangue, é o nosso sangue. Mas, em consciência absoluta, não podemos ter a certeza de nada. Nem de nada de nada, nem de nada de nada de nada. Assim, repetido até nos sentirmos ridículos. E sentimo-nos ridículos muitas vezes e, em cada uma delas, a única razão desse ridículo é não conseguirmos expulsar da nossa biologia, do nosso sangue, dos nossos órgãos, essas certezas injustificadas, ou justificadas por palavras sempre incompletas. Mas é bom que seja assim. Porque podemos continuar e, enquanto continuamos, continuamos. Estamos vivos. Ou acreditamos que estamos vivos, o que é, talvez, a mesma coisa.
— Porquê, pai?
— Porque o amor, filho."*


*Não podemos ter a certeza de nada, José Luís Peixoto, in 'Abraço'
                                                 
              

domingo, março 11, 2012

correlações (i)

        
as camisolas encarnadas dos jogadores escurecem com o suor à medida que o jogo aquece. assim como as panelas de esmalte, vermelhas, escurecem ao lume.
        
        

segunda-feira, março 05, 2012

crises de fígado ou outras como tal

         
estavam 20 pombos quando eu passei. eu passei. eles assustaram-se. levantaram voo. pousaram noutro lado qualquer. amedrontados. ficou um. um apenas. quieto, cauteloso. ali ficou enquanto eu passei. e eu passei. reparei nele. no olhar cauteloso enquanto dava pequenas voltinhas. deixou-me passar. perseverou enquanto eu passava. eu passei. depois, sozinho, lançou-se ao milho.
          
          
(só os resistentes, só os resistentes é que superarão isto.)
         
        

Papillon (iv), Ou Inatentional blindness (ii)

  
mas compreendo o pastor. acho muito muito difícil valorizar as outras 99 enquanto não se perderem.


    

(é sempre assim. quando temos, está seguro e vamos à conquista do mundo. se falha a base, que se dane o mundo.)