quinta-feira, maio 17, 2012

muros


- i love you Kevin.
- nhe nhe nhe nhe nha.



(esta mania de estabelecermos barreiras no afecto. de não querermos mostar que apesar de toda a mágoa e desconfiança que se instala, se ama, ainda. esta mania de perpetuar o ciclo. e de nos tornarmos ridículos.

era amar o outro até ele se render. pregar-lhe com cada estalada de afecto que ele se cansava de combater à defesa. mas para isto era preciso ter a sanidade de ver... e o nosso cérebro prefere render-se ao orgulho cegamente.)
    

quarta-feira, maio 16, 2012

paradoxo pequeninino


um homem, seja qual for, ou mulher, deve-se julgar pelo que faz, não pelo que diz.
mas se formos a considerar um homem apenas pelo que faz, diminuímo-lo na sua essência.



(a pensar nas muitas coisas que um homem faz. e em todas aquelas em que pensa ao longo do tempo.)
          

domingo, maio 13, 2012

(a)bru(p)to

 
um gajo quando acorda às 7h20 da manhã, mete a mão ao despertador ainda com os olhos semi-cerrados, dá meia volta na cama, quando vira a cara na almofada, enterra a cara na almofada, olha para o lado, tem a companheira, ergue-se sobre si e salta da cama, quando percorre o corredor a cambalear, quando espreita o quarto das filhas, dormem, quando se enfia no wc, toma o duche debaixo das pingas quentes, fecha os olhos, trauteia baixinho, demora-se, as pingas quentes, relembra uma música que gostaria de compôr, as pingas quentes, fecha a torneira, sai, seca-se, quando volta para o quarto, olha a mulher, sorri a qualquer coisa que ela diz, quando pega nas calças, desiquilibra-se enquanto as veste, vai à janela para ver o tempo, escolhe a camisa, quando se olha ao espelho e ajeita o cabelo, a mulher pergunta-lhe, ele responde, quando sai do quarto, vai à cozinha, ela chega, há leite aberto?, quando faz o café, 2 colheres cheias na chávena da terceira porta do armário, quando tira as fatias de pão e as põe na torradeira, quando retira com cuidado aquela migalha a queimar na resistência, quando pega nas torradas, e lhes barra demoradamente a manteiga, quando as leva à boca, a pensar noutra coisa qualquer, quando pega na loiça e a põe para lavar, quando percorre novamente o corredor, procura a mulher no duche, combina superficialmente como será mais logo, quando volta à cozinha para buscar o pullover que ficou na cadeira, estanca o olhar na taça das nozes, deita-lhes a mão, chega uma à boca e pensa que faz bem ao cérebro, ou nem pensa e apenas lhe sente o sabor, quando pega nas chaves do carro e na máquina fotográfica, não imagina nunca que vai morrer às 15h04.

     

Bernardo. e todos os outros.





(para onde vão as coisas, tudo aquilo que recolhemos durante anos,
tudo aquilo que desenhámos na pele, que aprendemos, que construímos na mente,

todo o conhecimento, todas as ideias, tudo o que vimos, que eu vi!, todas as interpretações,
para onde vão?

para onde vão as coisas que somos, que vivemos, todas as memórias,
para onde vão caramba
quando terminamos?)