segunda-feira, setembro 28, 2009

levar à letra.


a acreditar no que a juventude socialista diz, hoje acordei no século XXI. portanto, penso que essa coisa (estranha?) que as famílias [ainda] fazem e que se chama 'procriação' deve ter os dias contados.

domingo, setembro 27, 2009

sei lá


Coimbra está à beira de ter um metro Mondego. Por esse motivo, a linha da Lousã está à beira de ser encerrada durante dois anos. A população esteve, deixou de estar, à ‘beira de um ataque de nervos’. Porquê? Simples: perceberam que há coisas que as mãos do povo não alcançam, e resignaram-se (ou talvez não. só estão um pouquito mais sossegaditos).

Mas afinal, porquê tanto alarido? Basta olhar para perceber que tudo o que implica mudança dá azo a resistência. Porquê? As pessoas têm medo do que lá vem e que não sabem bem o que é, mesmo que depois se verifique ser melhor. Tratam de olhar para o momento, ver tudo o que vão perder no agora. Há um grande receio em arriscar. Ficam-se pelo seguro, pelo razoável, pelo suficiente que até serve bem.

Mas nenhum país – e quem diz país, diz empresa, e quem diz empresa diz projecto, e quem diz projecto diz vida – nada anda para a frente se não se arriscar, se não se arriscar na mudança. Mas não falo de arriscar levianamente, e tentar ter o que os outros têm só porque-sim. Só porque também temos que ter. Há aquela questão das 'pernas para andar'. Da ambição comedida e ponderada. Mas... quão comedidos e ponderados deveremos ser? Fazer até onde temos rédea, ou devemos dar um passo maior, e ver se o resto acompanha?

Há aquela questão que a meu ver está sem resposta fácil. Nem sei que partido poderia avançar melhor caminho, como aliás, nunca sei. Penso, Vêm aí 4 anos, o que é que nos espera? O que é que devemos esperar? E o que é que, nós também, podemos e/ou devemos fazer? O povo hoje estendeu as mãos, alcançou o papelito, e votou. Em consciência? Semanas e semanas de campanha, ou anos e anos de opções políticas, deram hoje nisto. A mudança, seja ela qual for, mais leve ou mais abrupta, é inevitável. Mas não me canso de lembrar uma frase que uma vez ouvi ao José Saramago: “O cidadão tem braço curto. Chega à urna. Mas o poder está mais acima, não lhe pode tocar”.

Não? Hm. Não pode. Mas, pergunto-me, E se o cidadão lhe pudesse tocar? O que é que ele faria?

terça-feira, setembro 22, 2009

AVC (II)


Durante muitos anos, a minha avó andou a cultivar-me memórias. primeiro, por meio de estórias contadas com ligeireza deixava-nos, a mim e à minha irmã, a sonhar com personagens fantásticas deste mundo e do outro. depois, quando já éramos grandinhas o suficiente para ouvir outras histórias, fazia-nos chegar ao ouvido, por entre muito riso e algum gozo, as traquinices da nossa mãe quando era pequena. e, mesmo repetindo uma e outra vez os pequeninos episódios, parecia não gastar as recordações.

nos últimos anos, entregue já aos cuidados dos filhos e com poucas histórias ou vontade para as contar, não se esquecia ainda assim de, por entre os beijinhos da despedida, nos entregar carradas de 'mimória, muita mimória!' que pudéssemos precisar para os estudos. e eu, enternecida com a atenção, lá vinha cambaleante com aquilo nos braços, crente que era capaz de me fazer falta, se não ainda hoje, um dia talvez.

desconfio é que a minha avó andou a dar coisa a mais. e que, ao dar tanta tanta 'mimória', acabou por ficar sem ela.

É uma querida a minha avó. pena é eu agora ter baús cheios de memória(s) e não poder partilhá-la(s) com ela.

'tirar' o sumo, e não 'o leite, das pedras'.




















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não sei se eles quiseram dizer exactamente o que me passou pela cabeça que eles pudessem querer dizer, nem sei porque raio iriam eles querer dizer o que eu acho e me parece que eles até quiseram dizer, mas vamos supor que eles nem quiseram dizer o que eu acho e suponho e acredito até que eles quisessem dizer porque, de facto, nem sei o que é que isso teria a ver com goiaba, ou mais a mais, com fruta. ou espremendo bem o assunto, com o néctar das coisas. nem sei porque é que a goiaba, filha do Brasiu e numa aparente historinha de amor, quereria pertencer à nossa selecção nacional de frutas. quer? mesmo? hm. enfim, alguma razão deve haver.

sexta-feira, setembro 18, 2009

Achas que sim? é melhor não...


Dos meus tempos de liceu, lembro-me de uma vez a minha amiga a. vir uma vez com a conversa Ah Vamos pôr este armário à frente da porta da professora para quando ela tentar sair não conseguir! Apesar da minha falta de arrebatamento perante tal proposta, ela entusiamou-se de tal forma com aquilo que chegou, inclusive, a tentar arrastar o armário. Mas eu, numa empatia que nem sei de onde me vem (hm. empatia mesmo?), pûs-me a imaginar a professora com o seu ar angelical de quem tem 20 e tal anitos e está em início de carreira (hm.), a apanhar uma desilusão tremenda quando visse aquele mono atravessado na porta a impedir-lhe um final de dia em plena rotina.

Oh a.! coitada! já viste? Não vamos nada fazer isso. E, pronto, não fizemos (a a. sempre escutou os meus conselhos sensatos, apesar de raras vezes os seguir). E, pronto, assim se foi por água abaixo aquele plano genial. Mas hoje, à distância, relembro e penso: Oh que borrega! Então vejamos:

Um professor, naqueles tempos, tinha uma vida perfeitamente razoável (digo eu que nunca fui professora) a não ser que fosse director de uma turma-somatório de, digamos, alunos não suficientemente bons para estarem numa turma 'normal' (digo eu que também nunca o fui. professor de uma turma assim, quero dizer. nem assim nem de qualquer outra. não sou nem fui professora. ponto!). Ora, aparte a nossa turma de Inglês III com 3 alunos, a nossa professorinha estagiária devia ter um horário cheio de furos por onde extravasava, muito provavelmente, tédio até mais não. Assim, e isto baseia-se muito em suposições, não devia ter grandes inovações e excitações (relacionadas com a vida escolar, pelo menos).

Chegava à escola, dava as aulinhas, no máximo queixava-se dos programas extensíssimos, aplicava os testes, corrigia os testes, avaliava os desempenhos, chumbava se tivesse que ser, e sem ter que perder tempo a preencher burocracias para justificar o chumbo. Enfim, tinha uma vida ordenada e rotineira. Ou seja, enfadonha. Se eu, nas minhas questionáveis virtudes moralistas, não me tivesse insurgido naquele dia, tinha-lhe muito provavelmete mudado (radicalmente?) a vida. Pois! Então vejamos:

encurralada entre quatro paredes, a dar de face com as costas de um armário... que faria ela? Desenrascar-se, ora pois! Ou então não, e telefonava mas era ao Senhor Director... Mas, seguindo as probabilidades, e acreditando na melhor das hipóteses, seguiria a 1ª hipótese (claro!) Mas como? Ela própria conta, anos mais tarde, aos seus netinhos:

Uma vez, meteram-me um armário à frente da porta da sala de aula, e eu, de saia, tive que escapar pela janela da sala, com quase 2 metros, sobre uma montanha de miúdos que jogavam cá fora à bola. Riram-se à brava da situação e, inclusive, gozaram bastante comigo. Mas depois, ficaram até bastante surpreendidos com as minhas capacidades de fuga! E fui aplaudida em massa! E ganhei o prémio no jornalinho da escola como a Personagem do Século daquela escola! E nuuuunca maaaais fui esquecida naquela escola!

Ou seja, teríamos transformado a professora em heroína. Fantástico! Mas... e eu e a minha amiga a.? Bem... teríamos sido talvez, com grandes probabilidades até, transformadas nas imbecis da fita. E entrado também no jornalinho da escola mas, com grandes probabilidades até, na secção das Orelhas de burro. Enfim, que dizer?, ainda bem que se perdeu o momento.

(há sempre uma forma de justificar da melhor forma o que não se fez e, se calhar, até se devia ter feito.)

quinta-feira, setembro 17, 2009

entre, não saia.


estreou recentemente no topo da minha rua um salão da igreja evangélica. outrora fora uma loja de brinquedos 'for kids' e depois uma tabacaria com café, jornais e internet. esteve encerrada uns tempos, como sempre acontece às lojas falidas, e esqueceu-se. foi por isso, talvez, que calhei a reparar. descia a couraça pequena e reparei numa luz poente que entrava pelas portas de vidro já descobertas. lá dentro, uma criança percorria as filas de cadeiras e, reparando em mim, veio espreitar-me.

à porta um convite muito simples para entrar, 'Entre (há ar condicionado)'. ok, então se há ar condicionado!... espreitei também. é um salão pequeno e simples, sem estátuas de santos nem ecos em naves imensas, nem paredes a relembrar os passos do Cristo, nem altares cinzelados a ouro. não. tem apenas umas poucas filas de cadeiras de plástico verde-mar, uma casa-de-banho bem sinalizada com a placa 'WC' e, à noite, uma luz forte de cozinha moderna. sentadas, 4 ou 5 pessoas escutavam descansadamente o orador. e pareceram-me a mim que estavam em casa.

instantaneamente, lembrei-me das missas a que já assisti. e das igrejas em que já estive. tudo parecia tão simples e bonito quando dito e escutado naquele contexto e, depois, inevitavelmente perdido assim que metíamos o pé cá fora, no momento em que fazíamos a transição para a outra realidade, retornando às coisinhas do dia-a-dia.

assim, de repente, apetece-me tecer uma teoria acerca do contexto. se eu estou na gala do Presidente da Répública é provável que estranhe ver pessoas nuas. se eu for à praia essa estranheza depressa me passa (não?). porque estou no contexto. mas os contextos têm que ter continuidade, se é que querem que as aprendizagens de um tenham continuidade no outro. se eu me dispo no ginecologista e acho normal, não quer dizer que 5 minutos depois quando entrar na mercearia me vá despir também. porque o contexto mudou. e o nosso cérebro sabe-lo bem.

talvez seja por isso que tantos medos de elevadores se tenham que curar no elevador que se usa todos os dias, e não no consultório onde se fala deles ao psicoterapeuta. e quem diz elevadores diz aranhas, diz aviões, diz até igrejas que pareçam cafés, ou salas de aula ou até gabinetes de trabalho. que se assemelhem ao contexto cá fora, ao mundo real. que falem a mesma linguagem, a do dia-a-dia. para que não sejamos levados a mudar de contexto. e, consequentemente, a mudar também a nossa forma de pensar, e de agir.

quinta-feira, setembro 10, 2009

impulsos (II)


o que não quer dizer que uma vez por outra não possa vir a brincar com a Política. porque é tão engraçada que se torna difícil resistir-lhe. é quase como com as crianças: podemos não perceber patavina do que dizem, mas isso não nos impede de brincar com elas. certo?
claro que é possível que a nossa incompreensão acabe por suscitar uma enorme frustração na outra parte. e claro que também é possível que nós, embrenhados numa conversa de surdos, façamos uma tremenda figura rídicula. mas enfim.

segunda-feira, setembro 07, 2009

impulsos


conferi o horário na internet. agarrei nas coisas e saí porta fora. 4 minutos para apanhar o autocarro. tenho tempo. chego à paragem. pergunto pelo 37, se já tinha passado. Passou sim menina, há coisa de 2 ou 3 minutos. caramba!, engulo eu. e começo: que é sempre o mesmo, que chegam a correr, que partem sem esperar, que saem sempre antes do horário, que se os conseguirmos apanhar é um milagre!

correcção nº.1: bem, até esperam... e não saem antes.

fui ver os horários, quando era o próximo. hm. o horário aqui está diferente. e, ainda por cima, hm, bate certo com o facto do autocarro já ter passado. hm... ainda por cima!, continuo a queixa, ainda por cima não actualizam os horários na internet!

engano nº.2: actualizam sim. os horários relativos ao mês de Agosto estão é um bocadinho abaixo. mas estão lá.

engulo em seco. caramba, tanta azelhice junta não pode ser culpa minha. mas é.


(isto tudo para dizer que, futuramente, EU me vou abster de comentar política. hem? sim, de comentar política. porque
(a) chego à conclusão de que fazê-lo é pegar nas peças sempre à procura da parte rota. quando elas também têm partes íntegras - mas, isso não-in-te-res-sa. a culpa é, e terá que ser sempre, do Governo [actual]!
(b) depois, a [minha] ignorância [nestes assuntos] é uma coisa muito séria - e muito grande - para se fingir que não existe.
(c) e, depois ainda, porque por mais que tenha as minhas empatias, a emocionalidade serve para muita coisa. mas não devia servir para ludibriar escolhas que, no fundo no fundo, deviam era ser racionais. se é que querem ser justas.)

quarta-feira, setembro 02, 2009

AVC


Há muitos muitos anos, nas terras da Babilónia, todos os homens se entendiam. Mas devido a uma certa insatisfação humana, estes homens decidiram que afinal não queriam [só] a terra, queriam também o céu. Então, descontente com o facto de ter sido esquecido, Deus castigou os povos. E criou as línguas.

Subitamente, os homens passaram a falar sem que se pudessem entender. Cada palavra passou a ser interpretada de acordo, não com o que realmente era dito por quem a proferia mas, com a intenção do descodificador.

(Isto é, se o Liedson cai na área e grita Penalty!, o significado depende: (a) se o juiz é da mesma equipa - penalty significa Justiça!, e há que ser feita; (b) se o juiz é da equipa adversária - penalty significa Estou a gozar com vocês e vou-me safar!, e há que penalizar o Liedson gozão; ou (c) se o juiz veste de amarelo-e-preto, aí, o significado de Penalty! depende dos acordos antes do jogo.)

Adiante. Os povos fecharam-se sobre si. E nacionalizaram-se. Falavam com os da sua língua, desentendiam a língua alheia. Ou pior ainda, entendiam-na como queriam. Uma palavra podia dar azo a uma Peleja, ou ao início de uma Pacífica cooperação. E, assim, as palavras deixaram de valer por si, para passaram a ser somente o espírito que por elas passa*.

Avó, eu sou a i., filha da r., sou sua neta. Ela sorri, esticando as peles já velhinhas e amarrotadas. Diz-me Sim, todos cantamos, e Nosso Senhor fica contente. Isto quando ainda dizia. Agora murmura palavras indecifráveis Mu ru gu ru interminavelmente. Ou acena que sim, é pois é, vamos. Sorri de vez em quando, inesperadamente. Dá até sinais subjectivos de me reconhecer enquanto estica a mãozinha para umas palmaditas afáveis. Mas já não sei, nunca sei na ausência dos sinais linguísticos precisos, na ausência de um nome proferido, não sei se sabe mesmo quem eu sou.

(isto da comunicação é um problema. até quando todos parecemos falar a mesma língua, ouvir as mesmas palavras, ver as mesmas imagens, tudo reside na descodificação da mensagem. Avó, sou eu. Não vê a minha face, não me reconhece pelo tom de voz, não ouve as minhas palavras? tudo reside na descodificação da mensagem. uns, acarinhados pela vida, interpretam benevolamente. outros, deixam simplesmente de escutar. tudo depende do aparelho que construímos para descodificar. mas agora
entender como se constrói tal aparelho, detalhar os factores, prever o caos – isso já implica descodificar a vida. e, apesar até de muito estudo científico, voltamos ao mesmo, lá está, - cada um tem a sua interpretação.)


* Ferreira, V., 1994, Aparição.