sexta-feira, maio 30, 2008

Louca

Não sei se é pelo olhar comprometido que as pessoas me deitam, ou se por algum resquício de sentido estético em mim, mas sinto que ando na fase de me vestir descombinada. Acredito que seja algo crónico recidivante, consoante o equilíbrio que tenho entre a roupa no roupeiro e na máquina de lavar. Mas também tenho a esperança que seja mais que isso. De facto, julgo começar a gostar.

(imaginar os roxos e os amarelos, os tecidos felpudos com os lisos, as riscas com o floreado, faz-me pensar que o mundo tem uma carrada de possibilidades para além das mais normais.)

E desponta em mim algum prazer em ver esses olhares atravessados. Faz-me sentir louca. Faz-me sentir na pele o que sempre senti nas entranhas.

quarta-feira, maio 28, 2008

menina de porcelana

frágeis

as meninas que se quebram
quando oscilam
bruscamente

entre o quente e o frio.

segunda-feira, maio 19, 2008

(Bexiguinha e ) O legado do Dr. Mabuse

Quando ando sozinha pela Baixa
e o caminho se estende mais longo do que a minha coragem

Quando subo pelo caminho mais curto
e percorro as ruas estreitas e escuras

Quando me aproximo da esquina
E não sei o que me espera

Quando vejo pessoas
E não sei quem são

O que me assusta
O que me faz tremer
O que faz bater o meu coração
Arfar os meus pulmões
Sentir o sangue engasgado no cérebro
E o torpor na mente

Não é que me tirem os valores
Os anéis
E levem a carteira
Não é que me queiram o dinheiro
O leitor de músicas
O casaco
Os brincos
Ou o relógio.

O que me arrepia e faz recear essas viagens
É que me queiram a mim.


(não é o dinheiro, nem o poder político, nem as férias nas Filipinas. Não são as malas Louis Vitton, nem os ténis da Nike, nem as calças da Levi’s. O que me assusta, e que este filme captou tão bem, é o prazer na destruição do homem, qualquer homem. Na destruição da vida, seja ela qual for. O gosto em ver uma existência contorcer-se em dor, na súplica, para então se esvair numa poça onde se perde.)

A blueberry called world. Another one called life.


Não tenho muito por onde pegar, nesta vida de todos os dias.
Por isso, às vezes, quando percorro o caminho para casa,
quando vejo novamente o que vi ontem e antes de ontem
quando já ando sem olhar
quando já olho sem ver,

também a mim me apetece dar a volta pelo caminho mais comprido,
pelo caminho diferente.

Faz-me falta o desconhecido
faz-me falta tudo o que não sei nem imagino
faz-me falta saber que tudo é estranho e diverso,
e que outros olham e vêem distinto o que eu olho também.

Mas acima de tudo
sinto falta de olhar eu também e ver estranho e distinto
E, depois de o ver,
sentir e querer e gostar de estar em casa.

(mas este medo que me prende.
esta preguiça que me arrasta.
esta rotina que me atraiçoa.)

Quero sair. Quero fazer o caminho, percorrer os caminhos, perder os caminhos.
Quero embrenhar-me no mundo

Chorar, perder, rir. Quero lutar, exigir, sonhar e desanimar. Quero ver, sentir, palpitar, enfrentar.

Quero ir,
e só então, cansada e descansada,
Voltar.

Quero ir, para então, enfim, bradar sedenta a esta terra:
-Casa, o quanto eu te ansiei.


(às vezes, muitas vezes, devíamos pegar no medo da mudança, içá-lo com jeito e cuidado, e arrumá-lo numa caixinha perfumada onde ele não se cansasse de estar.)

Silêncio


















É esta a corda que vos amarra as gargantas?

(De fundo
ouve-se o silêncio.

Ou é tão somente a angústia
de no fundo não se querer gritar?...)

segunda-feira, maio 12, 2008

O Quadrado da Lógica.


Tenho uma teoria.
O ambiente é mutável, e muda frequentemente.
Pessoas instáveis mudam quando o ambiente muda.
Eu sou instável.
Logo, mudo frequentemente.
Solução: parar a mudança do ambiente! (:P)
       
(é por isso que nos devíamos tornar todos ambientalistas.)
     
     
   

Meninos coitadinhos.

    
os meninos coitadinhos
queixam-se a torto e a direito
a direito e a torto
para cima e para baixo
para a direita e para a esquerda
para a esquerda e para lado nenhum
que chega a cansar
vê-los queixarem-se tanto.
os meninos coitadinhos precisam de se desculpar
que o mundo é uma merda
(isso) já todos sabemos
mas os coitadinhos gostam de repetir.
os coitadinhos lastimam
as suas pernas pesadas
que não os deixam voar.
os coitadinhos enojam
os que lutam
todos os dias
apesar de tudo o que vem contra
e não se queixam
meninos coitadinhos
fraquinhos
galos-zinhos
arrepiam
em pele de galinha
os que conseguem
sem a queixa na ponta da língua.
meninos coitadinhos
apregoam o dito
mas
morrem
sem viverem
morrem
sem perceberem
que é em nós que é tudo.
   
(p.s.1: faz-me pensar porque te compreendo tão bem…)
(p.s.2: mas ainda que compreenda o que faças, cisma-me na mente a razão porque o chegas a fazer…)  
        
      

Caranguejos.

Aos que têm um destino
que não era deveras o seu.

Tenho caranguejos pelo corpo
Que me beliscam as vísceras e a vontade.

Tenho caranguejos sobre a alma
Que me roubam a luz
E a idade.

Tenho caranguejos.

Assassinos,
Sacudo-os eu.
Carrascos frígidos.

Sorrateiros e silenciosos,
Chegaram mudos ao meu destino.

Assassinos.

Larguem-me a vontade
(ao menos deixem-me a vontade…)

Tenho caranguejos pelo corpo
Caranguejos.
Chegam calados ao que somos
e vão trilhando o que éramos.

Será este o meu destino?
Pergunto-me se era este o meu destino.

(bruta sina
que me escreve um signo que não é o meu.

Dize que não é...)

Quando os caranguejos são mais fortes
que a vontade,
mais fortes
que os grilhões a esta vida.

Quando a vida não tem fado,
Nem sequer um sentido.

sexta-feira, maio 09, 2008

A spot.


A vida devia ser (lá estou eu a dar palpites) um momento no tempo (e não é?). Digo, sem memórias. Sem medo das consequências. Era o agora e pronto.

Sem direcções ou sentidos.
Sem antes nem depois, pedaços negros da vida.

Like a spot. A round, white, shining spot.