segunda-feira, maio 19, 2008

(Bexiguinha e ) O legado do Dr. Mabuse

Quando ando sozinha pela Baixa
e o caminho se estende mais longo do que a minha coragem

Quando subo pelo caminho mais curto
e percorro as ruas estreitas e escuras

Quando me aproximo da esquina
E não sei o que me espera

Quando vejo pessoas
E não sei quem são

O que me assusta
O que me faz tremer
O que faz bater o meu coração
Arfar os meus pulmões
Sentir o sangue engasgado no cérebro
E o torpor na mente

Não é que me tirem os valores
Os anéis
E levem a carteira
Não é que me queiram o dinheiro
O leitor de músicas
O casaco
Os brincos
Ou o relógio.

O que me arrepia e faz recear essas viagens
É que me queiram a mim.


(não é o dinheiro, nem o poder político, nem as férias nas Filipinas. Não são as malas Louis Vitton, nem os ténis da Nike, nem as calças da Levi’s. O que me assusta, e que este filme captou tão bem, é o prazer na destruição do homem, qualquer homem. Na destruição da vida, seja ela qual for. O gosto em ver uma existência contorcer-se em dor, na súplica, para então se esvair numa poça onde se perde.)

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