Não tenho muito por onde pegar, nesta vida de todos os dias.
Por isso, às vezes, quando percorro o caminho para casa,
quando vejo novamente o que vi ontem e antes de ontem
quando já ando sem olhar
quando já olho sem ver,
também a mim me apetece dar a volta pelo caminho mais comprido,
pelo caminho diferente.
faz-me falta tudo o que não sei nem imagino
faz-me falta saber que tudo é estranho e diverso,
e que outros olham e vêem distinto o que eu olho também.
sinto falta de olhar eu também e ver estranho e distinto
E, depois de o ver,
sentir e querer e gostar de estar em casa.
(mas este medo que me prende.
esta preguiça que me arrasta.
esta rotina que me atraiçoa.)
Quero embrenhar-me no mundo
Quero ir,
e só então, cansada e descansada,
Voltar.
Quero ir, para então, enfim, bradar sedenta a esta terra:
-Casa, o quanto eu te ansiei.
(às vezes, muitas vezes, devíamos pegar no medo da mudança, içá-lo com jeito e cuidado, e arrumá-lo numa caixinha perfumada onde ele não se cansasse de estar.)
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