sexta-feira, novembro 24, 2006

(H)Our (of) [Self-] Destruction II

É irónico saber que para além de toda a destruição psicológica a que nos acometemos, o nosso próprio organismo – orientado para a sobrevivência – é capaz de se auto-comandar para a destruição.
Existe um conjunto de doenças denominadas de auto-imunes, mas recentemente fiquei sensibilizada para a síndrome de Guillain-Barré. Parece uma coisa simples e inofensiva talvez, mas uma pessoa pode morrer. Ponto. Tudo porque o sistema imunitário do próprio decide sinalizar como inimigo as suas próprias células, como resposta a um ataque exterior agudo. Ora, visto que em questão está a mielina em torno dos nervos periféricos (incorporados no Sistema Nervoso Autónomo) bem como esses mesmos nervos, todas aquelas funções automáticas (que muitas vezes nem damos conta que existem) são postas em causa e de um momento para o outro o nosso coração pode parar.
Para mim, o trágico é pensar que não é nada de fora que me destrói, como um monstro qualquer, uma bactéria talvez, ou um vírus horripilante. Não, somos nós. Nós próprios. E quando é assim, quando temos amigos destes, inimigos para quê?...
2006-11-24, 0:03

Correr é superar

Dizem que devemos lutar todos os dias – lutar contra o mundo, contra os outros e contra os que existem cá dentro.
Luta para nos erguermos novamente, por mais que um mundo nos caia encima. Não parar de lutar.

Eu sei, eu sei… Só que eu nunca fui muito de lutar. Sempre preferi resistir.
Naquela pista e naqueles anéis eu preferia correr para sempre, a correr contra os outros. Talvez porque soubesse, ou acreditasse…, que correr contra os outros não valia a pena….
Então, só correr. No games, just sport.

Gostava de sentir todo o cansaço até não poder mais, de saborear na garganta o esforço, de sentir os músculos presos… e resistir resistir sempre. Até que aquilo se tornasse andamento, que fosse força de hábito e prosseguisse sem mim.
E então, naquela última volta, dar tudo! Não sei, mas sempre me pareceu que nesse momento iria voar, tanto que o mais difícil era parar.

[Correr por paixão. Sentir esse vento na face, e nos cabelos atados fio a fio como o fio da meada que não perdemos na vida… Passo atrás de Paço, e passada na corrente da ponte metálica. E saber que o Rio corre também, connosco.
(A propósito dessa Ponte: tive pena que o trabalho adiado fosse barreira para não saltar… Tive pena que os passos corridos desse dia não fossem juntos com outros, e com o cansaço que nos faz viver. Tive pena… :/ )]

Eu sei, também sei que me perguntam: Correr porquê?
Mas eu sei. Todos os dias da minha vida parece que me arrasto, que tudo quanto faço é incompleto e que podia dar tanto mais… Pareço que não me empenho, que as coisas saem sem jeito – sem ordem nem paixão. Mas quando corro, quando corro o sabor torna-se outro. Porque corro corro corro. Corro até mais não (Ok, podia correr mais meia hora – porque podemos correr sempre mais – mas foi aquele tempo que eu marquei, e sei que o consigo levar até ao fim…).
Ali o esforço é físico, mas aqui… Aqui as coisas são sem meta. E acho que resistir aqui é trabalho de muita concentração. Que pena quando nós próprios somos a nossa derrota, e quando nos acometemos à derrota muito antes de entrar em campo. Como dizia o outro, Falhar na preparação é preparar-se para falhar… Que pena quando não acreditamos em Tudo o que temos cá dentro. Que pena quando interiorizamos as merdas a que os outros nos acometem… e como depois passamos a fazê-lo sozinhos, como meninos bem-ensinados…

Eu quando corro sei porque corro – porque sou livre e corro até ao fim, até cansar todo este cansaço… Até me sentir viva e o coração bombear forte.
Eu quando corro sei que não posso dar mais – porque não temos asas e não podemos voar.
Então, correr é chegar à meta a que nos propusemos, e superar os nossos limites. Ao menos que fosse assim em tudo o resto na minha vida…

15:47 10.10.2006