sábado, fevereiro 26, 2011

deep inside


"Ondanks alles, geloof ik dat de mensen een goed hart hebben."
("Apesar de tudo, acredito que as pessoas têm bom coração"; Anne Frank, 15 Julho, 1944)


me too. but damn if you don't have to dig.


quarta-feira, fevereiro 23, 2011

deadlines

I

no primeiro dia do mês ela escreveu uma linha e fez tudo o resto.
no último dia do mês ela escreveu tudo o resto e fez apenas uma linha
da vida dela.

(há algo de interessante acerca dos prazos-limite.)


II

primeiro, considerou todos os pormenores a ter em atenção na obra-de-arte, todas as partes, todos os materiais, todos os jeitos particulares, tudo. es-mi-u-ça-di-nho.

passou um mês. data limite. ahhh! o quê, já??! cagou nos pormenores e incluiu apenas o essencial.

(viver passa muito por definir critérios. mas definir o que é essencial também passa muito por definir prazos-limite).


o gajo tinha tudo pá


tinha um MG, tinha uma casa na Quinta do Rombaial, era engenheiro, filho de médicos, neto de alfaiates, tinha casa em Albufeira, outra em Cascais, e outra na Figueira para os fins-de-semana da preguiça. tinha boas notas, era bom aluno, tinha mimo, dinheiro, status. enfim pá, tudo.

(se calhar não.)


segunda-feira, fevereiro 21, 2011

porque há uma figura de estilo que se chama ironia.


muito se fala dos parvinhos da geração [à] rasca que para aí anda. de facto, a letra dos Deolinda deu e muito que falar. as opiniões divergem, uns acham que insentiva ao desânimo, que não motiva ao estudo, que se foca no parvo, parva, parvinho e não sai daí. que é uma maneira de uma pessoa se queixar e não fazer mais nada.
'a minha opinião, posso posso dar, posso, a minha opinião'? é esta: uma salva de palmas, basta uma mas bem dada, a quem põe o dedo na ferida. e quem põe o dedo na ferida são os Deolinda quando escrevem o que escrevem. mas o que eles escrevem nem sempre é o que os revolucionários da causa revolucionária querem ouvir. os Deolinda, ou quem deles escreve a letra das música,s tem uma particularidade: não se ficam pelo queixar, viram o dedo para o próprio, e chamam a atenção para os defeitos que também nós temos e não só o outro (e.g. veja-se a letra fenomenal do "Movimento Perpétuo Associativo" ). mas quando os revolucionários da causa revolucionária não querem ler o que se escreve, lêem o que querem que se escreva. desde que encaixe na causa revolucionária.

da Parva que sou, gosto particularmente de um pormenor. o coliseu do Porto foi ao rubro quando ouviu pela primeira vez o verso "Porque isto está mal e vai continuar,/ já é uma sorte eu poder estagiar (...) que mundo tão parvo/ onde para ser escravo é preciso estudar". foi o bater de palmas em uníssono, porque fácil é culpar o mundo da nossa desgraça. mas, seguindo na letra, quando eles cantam "Sou da geração ‘casinha dos pais’,/ se já tenho tudo, pra quê querer mais?", ouvem-se umas palminhas com cessar rápido (minuto 1'18'' daqui).

tenho é pena que não se saiba ler nas entrelinhas. da ironia ser lida à letra. propósitos há muitos, e quem quer ver queixume vê queixume, quem quer ver luta, vê luta. " a culpa é do Governo", dizemos todos. e é. mas não só. não vejo a música dos Deolinda como um hino para ser cantado em tom de amargura ou queixume, para ser entoado pelas ruas em manifestações compridas, enquanto se espera um D.Sebastião que é pau para toda a obra, enquanto se espera que o Governo nos dê condições a todos, que o Governo mude os Poderes Locais e as pessoas que existem nos Poderes Locais. que o Governo mude o meu vizinho porque ele me incomoda. (e eu, incomodo quem?)
a luta maior procede em silêncio, nos nossos dias-a-dias, nos pormenores. as coisas não mudam se nós não as mudarmos aos poucos. se apenas cada um de nós e, por conseguinte, todos, pudéssemos dar o exemplo em vez de esperar vê-lo no outro.

arrisco-me a dizer que as pessoas não querem que os políticos deixem de ser corruptos, não, não querem. estão-se mesmo a cagar para isso, desde que lhes garantam um lugarzinho numa Câmara à beira-mar, com um salário bem simpático e onde não tenham que fazer muito. caramba, que mais poderíamos querer?

parva? sou parva quando me queixo queixo mas não faço mais nada. só exijo. não estou a falar de ser boazinha ou de passar a ser ingénua. nem deixar que nos pisem. mas também não é ir gritar para a rua, como quem reza na Igreja e critica a crucificação de Cristo inconsciente que somos todos o Pedrito que o negaria 3 ou mais vezes, quantas fossem. o que digo aqui é precisamente o contrário, e é a parte mais difícil: é não nos agarrarmos a hinos, é não nos fazermos de vítimas - é, precisamente, não nos fazermos de parvos. porque não o somos de facto.



(mas pronto, é só a minha, a minha opinião, a minha interpretação. só mais uma.)

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

a particularidade p do instante i e da questão q


Ama o próximo como a ti mesmo.



calculo à partida que, se assim fosse, o mundo poderia ser um lugar bem melhor. mas depois, repenso: Ui!, com a quantidade de gente que anda para aí com problemas de auto-estima, isto seria a desgraça!

(o problema das leis universais, é que raramente abarcam a flexibilidade acrobática do quotidiano.)


falência multiorgânica


dizem que vem por acaso, que escolhe sem dedo.
que pode ser qualquer um.

gera-se o PÂNICO. eu? eu? eu?

uma ova.

ela vem para atacar os fracos.
são sempre esses que sofrem os males.


(cuidemos das nossas fragilidades. são elas que nos lixam.)

terça-feira, fevereiro 15, 2011

belongings





«You know what's wrong with you, Miss Whoever-You-Are? You're chicken, you've got no guts. You're afraid to stick out your chin and say, "Okay, life's a fact, people do fall in love, people do belong to each other, because that's the only chance anybody's got for real happiness." You call yourself a free spirit, a wild thing, and you're terrified somebody's going to stick you in a cage. Well, baby, you're already in that cage. You built it yourself. And it's not bounded in the west by Tulip, Texas, or in the east by Somaliland. It's wherever you go. Because no matter where you run, you just end up running into yourself.»

(quando nos habituamos ao que temos, ao que carregamos connosco toda uma vida, quando temos as coisas tão coladas ao corpo e à mente que passam a ser carne nossa, a ser nós mesmos, is there a way out?)

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

'the grass is always greener on the other side' ou, em português de Portugal, 'a galinha do vizinho é bem melhor que a minha'.


a realidade dá-me um beijo. sinto-lhe os lábios suaves, ternos, molhados pela saliva e... eh pah, há aqui uma migalhita do pequeno-almoço. e, caramba, o eterno hálito do amanhecer! se fosse no sonho, o beijo seria perfeito. mas minha menina, hold your horses que estamos na realidade. o que no sonho é romance, na realidade é o punzinho que irrompe pelo meio. ah pois, que isto na realidade há sempre o pormenor-zito não necessariamente aprazível. o trelipatéu que não entra na imaginação da menina. e porque haveria de entrar?! é o sonho então pois!?, e o sonho quer-se como a peça comprada: sem defeitos.

por isso, quando a realidade enfastia, compra-se o sonho. ui!, o sonho é muito melhor, o sonho é sempre melhor. há pois o terrível defeito, proveniente talvez de uma dissonância cognitiva deficiente, de achar que nada do que temos é bom, porque nada é tão bom quanto o que queríamos ter.

e por isso sonhamos. e preferimos sonhar. e achamos que podemos viver o sonho, e que o sonho será obviamente como o sonhámos. claro, é sempre melhor viver na ilusão do que - PÁS! - chocá-la contra a realidade, e - PÁS! - ver que o sonho não existe, simplesmente porque é impraticável. porque
a ilusão não alimenta, pelo contrário, mantém a fome. porque a ilusão é o escape que não queremos deixar de ter. é a esperança de que podemos não ter o queremos (ou não querer o que temos...), mas que o que queremos existe, sim existe! e existe I-MA-CU-LA-DO.

é a nossa fuga para quando as coisas não são exactamente como queremos, ou achamos que deveriam ser. porque o nosso "deveriam ser" é demasiado saudávelzinho, e não admite falhas. o nosso sonho não quer aprender com a realidade, não quer aprender com os erros e os defeitos que parecem só manchar as coisas. porque o outro, o outro, seja ele quem for, é sempre maior e melhor, e percebe-nos melhor e seríamos muito mais felizes com ele. no sonho é assim! no sonho funciona! nem que, se virmos bem as coisas, na realidade ele nem seja como o sonhámos, na realidade ele nem tenha nada a ver connosco, na realidade ele nem seja o que precisamos, na realidade ele nem nos ofereça um futuro. Não interessa!, no sonho ele está lá! e eu quero ser feliz agora, que se lixe o futuro! que se lixe a realidade.


quando não aprendemos a amar o que temos. porque cansa. porque é real, e na realidade vemos as mesquinhices todas que no sonho não vemos, pois claro!, então se é o nosso sonho, porque o haveríamos de sonhar com defeitos?
oh tristes princesas entregues ao sonho de algo que não é. que soa bonito e perfeito nos cadernos e nas estórias, mas que nunca conta o dia-a-dia numa casa, com distâncias pelo meio, o dia-a-dia com um WC com algumas impurezas, a lavar a loiça, a ver o futebol, a cozinhar, o cansaço do trabalho, o dia que corre mal, a dor de cabeça, a impaciência, as pernas altas da vizinha, a tampa da sanita aberta, os pêlos púbicos pelo chão, nos lençóis, a falta de pão, as compras, as batidelas do carro, os problemas de última hora, o jantar da tua amiga que não me apetece ir, os cafés com os amigos, as noites na disco, eu quero dançar e tu estás cansado, tu queres beber mais um copo e eu quero ir dormir;
o hálito verde não fresco numa manhã tremida por um despertador e por uma vida real da qual também-mas-não-só faz parte o sofrimento, a dúvida e a insatisfação.

por isso, quando a realidade não acomoda o sonho, deixa-se a realidade e compra-se o sonho. e paga-se caro.
não há, de facto, nada de mal em sonhar. o problema é quando nos apegamos ao sonho e deixamos de viver a realidade. o problema é quando desistimos da realidade por um sonho que mantemos sonhado, o problema é quando desistimos de encontrar na realidade - no meio dos hálitos, dos punzinhos, das incompreensões do dia-a-dia - os lábios ternos que nos aconchegam e que, com uma imprecisãozinha ou outra, afinal até encaixam nos nossos.


terça-feira, fevereiro 08, 2011

'Do Gut Bugs Practice Mind Control?'


e se a ansiedade, a preocupação ruminativa e os comportamentos de evitamento pudessem ser propiciados por bactérias no nosso sistema digestivo?
se calhar não é só o que fazes, não é só o que comes, não é só o que vives. se calhar é também aquilo com que vens, aquilo que carregas aí dentro. e o que carregas aí dentro, num fio genético imenso, é mesmo muita coisa.


(somos provavelmente mais influenciados pela biologia dos processos do que pensamos. e
somos também, talvez, demasiado cépticos. até que venha alguém e mostre o contrário.)