terça-feira, maio 31, 2011

descobertas (ii)




let the youth be young.


because if
you don't let the youth discover its youth, the older people will be too young, and
the young will become too old.



(we cannot teach, we cannot avoid, we cannot prevent the loss of innocence. but
there's a time for each
step, for each
movement, within a
dance.)



*Tranzträume, Rainer Hoffmann, Anne Linsel (2010)


quinta-feira, maio 26, 2011

micro macro


daqui

Nature changes. cities remain?
people change. cities remain?
people change, cities change?
people change... nature remains?

(cities change, people change. but their nature remains the same. cities increase in size, full of people and their same nature. and Nature changes. inescapably.)


quarta-feira, maio 25, 2011

pelo contrário





nunca se falou opinou escreveu gritou argumentou assentiu tanto por vontade própria.
nem nunca foi tanta a liberdade de expressão, tanta a expressão da vontade, do "eu quero",
do "eu posso e mando e faço". do "eu, a mim, agora, não me apetece".

mudos só se forem mesmo os tempos, ensurdecidos pela peixaria das vontades.


(o trocadilho é uma coisa engraçada. é. mas, desprovido do contexto, acaba por se perder na troca. e depois é a velha questão: as leis universais já raramente abarcam a flexibilidade acrobática do quotidiano. quanto mais quando são subvertidas.)


quinta-feira, maio 19, 2011

it (ii)


estar no meio das gentes, sentada, a vê-las passar. sentada, quieta, enquanto apoio a mão no queixo, e as vejo passar. contemplá-las. a elas, aos seus movimentos, ao seu movimento. pendular. vão e voltam. andam às voltas. ou não. em movimento rectílineo com travão. vão, não voltam.
vê-las passar. habituar-me a vê-las passar. observá-las enquanto passam. porque não as poderei observar depois, quando já passaram, manter isso em mente, quando já passaram e não voltam. prender-me nisso, nos movimentos, na forma como olham, como andam, como se relacionam. na forma como se ignoram. como me ignoram. enquanto eu, sentada, com os fones nos ouvidos, as vejo, as observo, as contemplo a passar.
enquanto os corpos se movem e dançam ao som de uma música que nem sabem, que não ouvem. e eu vê-las nesse ritmo, a moverem-se neste ritmo, desfasadas ou não, que lhe dançam o ritmo sem o saberem, sem saberem o ritmo a que vão, nem quando acaba o ritmo, nem quando acaba a música. sem saberem quando acaba o movimento. não sabem.
não sabem se velozes se deslocam, demais para o ritmo da dança, se devagar. não sabem. ninguém sabe. nem eu, por mais que os observe. nem eu, sob que danças se movem, sob que ritmos, o que as faz mover e passar. nem eu, que as observo. impossível aprender as regras dos seus movimentos.
por isso, observo. só.
e enquanto as vejo, passa-me na mente que quando as pessoas se movem, num centro comercial ou onde for, se movem sem destino. que até podem achar que o têm, mas que o caminho é tanto e as montras tão apetecíveis. e ou o tempo o têm contado, ou o tempo é para sempre infinito. até que cesse a música.
que quando as pessoas se movem, num centro comercial ou onde for, circulam à medida do espaço que lhes é dado. que os objectivos de destino se perdem tantas vezes. que tantas vezes perdem o rumo. perdemos o rumo.

estar no meio das gentes, sentada, a ouvir música, a ouvir a minha música, desfasada talvez de todas as outras, e contemplar os movimentos, os ritmos, as velocidades, os relacionamentos. contemplar a vida e a matéria. a luz. ter os fones nos ouvidos e ver as coisas assim, a esse ritmo, ao meu ritmo. ver as coisas e não poder tirar nada, rigorosamente nada, dessa observação.


quinta-feira, maio 12, 2011

it



what is it?

this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is it
this is it

is this it here now?
this here now it is.
is now this it here?
here it now is this.
is it here this now?
now is here this it.
is this now it here?
this now here is it.

i am it. and so are you.

This is It and I am It and You are It and so is That and He is It and She is It and It is It and That is That. Oh It is This and It is Thus and It is Them and It is Us and It is Now and here It is and here We are so This is It.

(so, what is it?)

[James Broughton, This Is It (1971)]

sexta-feira, maio 06, 2011

Epidural


O senhor doutor diz que eu faço parte de uma franja. Não sei o que quis dizer, mas deve ter a ver com o crianço que vai nascer. Disse-lhe que queria tudo ao natural, e ele disse-me que eu devia tomar epidural, eu disse que não queria cá drogas, que queria sentir o meu filho a sair-me das entranhas. Mas

«Para Luís Mendes da Graça*, a ideia ‘romântica’ do parto sofrido tem que passar à história. ‘Estamos no século XXI e não podemos aceitar que os procedimentos médicos sejam comparáveis a países de Terceiro Mundo.’ Há, no entanto, ‘algumas franjas da população que ainda oferecem resistência à epidural. Mas, para o especialista, trata-se de ‘uma esmagadora minoria que ainda pretende ter uma falsa visão poética e bucólica da vida’, porque, na globalidade, a preferência das mulheres recai sobre a epidural.» **

Não percebo. Eu não tenho nada contra a epidural, não, nem tenho. Longe disso: as grávidas têm o direito de optar. Do mesmo modo, à partida, também não tenho nada contra este senhor. No entanto, não consigo evitar ter algo contra opiniões como esta, que catalogam como ainda retardadas as pessoas que preferem fazer o parto sem anestesia. E continuo. Tenho sim contra opiniões que reivindicam uma visão-da-vida verdadeira e que catalogam como falsa o que não lhes fica por baixo da saia. ou da batina.

Mas, de qualquer modo, confesso que nem percebi bem a questão. Isto é, se a visão da vida é falsa porque é (a) bucólica e poética – e não devia; ou se (b) isto de insistir em sentir as dores do parto é a visão bucólica e poética falsa, pois existe a visão bucólica e poética verdadeira. De qualquer das formas, suscita-me reacções viscerais. É que se existe uma Verdadeira, por favoooor, elucidem-me acerca do caminho, para que também eu possa ver!

Mas até calculo que esta visão Verdadeira da vida venha por meio de anestesia. Parece que, depois dela, o mundo muda aos nossos olhos. (de facto, o David também andou nas anestesias e realmente experimentou outra visão da vida. agora, se verdadeira ou falsa, realmente, transcende-me.)

Eu, no meu desconhecimento das coisas, prefiro experimentar primeiro, em vez de me converter logo à maioria por meio de conformismo. E, no seguimento desta ideia, aviso que nem vou ser radical. Não. Hei-de ter um parto SEM anestesia e, depois, outro parto COM anestesia, e nem tem que ser por esta ordem. Só então, já devidamente esclarecida, decidirei como quero ter a nova palete de filhos.

Mas talvez o problema desta minoria nem seja (b) a visão-da-vida bucólica e poética falsa. Não, talvez a falsidade desta visão da vida - que faz recusar a anestesia - passe mesmo por ser demasiado romântica. Lamento. É que, novamente, não percebi. É assim tão mau ter uma visão romântica das coisas? É assim tão mau querer sentir as coisas até ao seu limite?

Não sei, se é falsa ou se é verdadeira. Nem, muito sinceramente, me interessa tal dicotomização. Porque, na minha singela opinião de possível-futura-parturiente-em-situação-de-gozar-de-liberdade-e-vontade-própria, não vejo que melhor visão se pode ter da vida se não uma que é bucólica e poética.


(de vez em quando, canso-me de ser morna. mas prometo que um-dia-destes tentarei voltar à harmonia - com a natureza, com as pessoas, e com o mundo. enfim, à harmonia com o universo – e com estas opiniões.)


[*director do departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
** fonte: Jornal do Centro de Saúde, Ano 5, nº 49, Fevereiro 2009]

if you can't fight them, at least love them.


there's a dog in my street barking every time he sees me.
damn dog.

i take a deep breath. [ ]

then:
muah! muah! muah!, kisses for you, my dear dog.


tangível


podemos não [poder] ser tudo aquilo que queríamos. mas sem dúvida que podemos [tentar] ser tudo aquilo que somos.


segunda-feira, maio 02, 2011

o maior


E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


(uma salva bem dada ao mais incansável dos trabalhadores.)