quinta-feira, junho 30, 2011

terça-feira, junho 28, 2011

"there was a crime. there was a trial. and there is punishment." (*)


depois de várias dúvidas existenciais, apaziguadas pela clara e racionalizada relatividade das coisas, surge-me na cabeça, contra todos os intuitos e lógicas de paciência, a derradeira questão de base. e eis que brado ao alto, (com a perninha cuidadosamente amparada para não me desequilibrar):

- porquê?!, MEU DEUS, MAS PORQUÊ!? O QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO?!

- escorregaste, responde logo a vozinha de ricochete -
e, pior, caíste. e caíste mal.


(contra factos, nunca houve argumentos. e é assim: o que uma pessoa faz tem consequências. tem. não pode deixar de ter. e perante tamanha certeza das coisas, onde raio se há-de refugiar uma pessoa?! exaspera-me!)


sexta-feira, junho 24, 2011

quando uma borboleta bate as asas


caem os homens.
por causa da queda, acorrem outros, que os socorrem e amparam. por causa dos que os socorrem e amparam, o mundo muda o seu movimento: até então de uma forma, agora, depois da queda, de outra.

cai a menina. até então com movimento independente, passa a fazer depender o seu movimento do dos outros, que assim mudam o deles também. e, com eles, mudam os pontos em que os movimentos do mundo e os movimentos dos outros e o seu se interseccionam:
vêm buscar a menina, vêm deixar a menina; levam a menina, trazem a menina. se fosse antes, a menina faria as suas estradas, e os outros fariam os seus caminhos. agora, as estradas e os caminhos cruzam-se e fundem-se, até que se descruzem outra vez. mas, pelo caminho, as estradas dos outros cruzam-se onde, se fosse antes, jamais se cruzariam. porque o processo mudou.

por exemplo, antes, a menina iria até à montanha. agora, a montanha tem que vir até si para a levar de volta a casa. a menina vai, e a menina fica. e fica também dependente da disponibilidade da montanha para a trazer de volta. portanto a menina fica, operando com o seu vagar, organizando a volta a passo lento. se fosse antes, tudo seria feito num ápice. agora, demora este e aquele e o outro minuto.
também a montanha se reorganiza agora de outro modo (ou exagerou apenas o seu comportamento habitual): é preciso levar isto e aquilo e aqueloutro, porque o movimento da menina mudou. e os tempos do movimento da menina mudaram. e as possibilidades de movimento da menina também. tudo tem que ser de outro modo, claro, mais simples, mais fácil. tipo refeição multi-vitamínica sopa e prato num só. o que, para não demorar mais tempo à menina, demora, por um processo simples de compensação, mais tempo à montanha.
depois das idas, das voltas, de arrumar isto, arranjar aquilo, de fazer passar o tempo, aquele tempo, aquele exacto tempo, a montanha pode enfim regressar com a menina. a menina apruma-se, demora mais tempo que o habitual, e no instante x, entra no regaço da montanha.
acomoda-se, fecha a porta e rolam as rodas. fazem-se ao caminho. devagar, tudo no seu tempo. cruzam-se as curvas, esta, aquela, aqueloutra. se não fossem as quedas, a menina teria ido já. antes. ou teria apenas ido depois. pensa. mas foi agora. cruza a curva, aquela curva, naquele exacto momento. segue a estrada. outra curva, aquela. naquele instante, aquele pedaço de estrada. aparece o coelho. zás.


(custa-me pensar que vivemos no completo desconhecimento de a que ponto o que fazemos agora mudará radicalmente o depois. que não controlamos nada, porque não sabemos nada. e que, não sabendo nada - por onde ir, por onde contornar - o que virá a acontecer é inevitável.)

terça-feira, junho 21, 2011

your feet were also made for walkin'


Sai de casa e vem comigo para a rua Vem,
que essa vida que tens Por mais vidas que tu tenhas
É a tua que mais perdes se não vens.





(mas é inevitável. as perdas, a serem percebidas, percebem-se sempre depois.
o que nos vale é não percebermos nem o quanto nem exactamente tudo o que perdemos.)

sábado, junho 18, 2011

milk





as coisas não mudam a sua natureza quando crescemos. apenas
ganham outro sabor.



terça-feira, junho 14, 2011

só te levantas se cais, só cais se te desequilibras, só te desequilibras se te mexes.





"We like to play with words a lot, put two words together for example, and make a new word out of it. It means jumping into puddles. It should be two words but it's almost like a name now. The lyrics describe an atmosphere, a memory or something, like being a kid jumping into puddles, falling down and getting a nosebleed, getting back up... It doesn't really matter when you're a kid."
(Georg Holm, about Hoppipolla)


(também não devia importar quando já somos grandes.)


segunda-feira, junho 13, 2011

Papillon (iii), Ou Inatentional blindness


mas somos tão insatisfeitos. e impacientes. e desatentos.

não deixo de me lembrar que o JC, independentemente de ter sido Filho, apenas homem ou personagem de um livro, vinha com umas histórias ilustrativas de muita questão.
lembro-me da parábola da ovelhinha perdida. do senhor pastor que tinha 100 ovelhas e que perdeu uma. ora ficando ainda com as 99, foi com a perdida que se preocupou mais. ora pois, as 99 estavam seguras, a outra é que andava por parte incerta! sem saber se voltava ou não, foi a ela que o pastor dispensou os maiores cuidados.
mas não posso deixar de pensar que, dispensando maior atenção a uma, e ainda que aparentemente seguras, ficam as outras mais vulneráveis.

(volta e meia perdemos nós também uma. sem saber se foi dar só uma volta ou não, vamos tentando manter viva a esperança, com sobressaltos e muitos cuidados, que um dia regresse. mas, enquanto isso, e com muita ginástica para direccionar a vista teimosa!, devíamos agradecer ter ficado com as outras 99.)


Papillon (ii), Ou Banhinhas e celulite e.


daqui


(tantas as vezes que valorizamos as coisas pequenininhas. e quando perdemos as maiores
é que percebemos a relatividade das coisas.)


Papillon (i)






(duramos tão pouco.
como é possível passar um dia que seja sem que testemos os nossos limites?)



sexta-feira, junho 10, 2011

eu é que disse, não eu é que disse, não não, eu é que disse!



«"Portugal não pode falhar, nem tem margem para errar, acho que todos temos consciência disso", afirmou o líder do CDS-PP, Paulo Portas, em declarações aos jornalistas à saída da sessão solene do 10 de Junho, que se realizou em Castelo Branco e onde o Presidente da República sublinhou que Portugal não pode falhar.»

«Questionado sobre a declaração do Presidente da República de que Portugal não pode "falhar", o futuro primeiro-ministro [Pedro Passos Coelho] disse apenas que todos sabem isso. "Sabemos todos isso, eu próprio disse isso durante a campanha eleitoral", referiu. »


(eu não disse. ups... mas passou-me pela cabeça... conta?)


quarta-feira, junho 08, 2011

task difficulty


easy task:
fear the unknown.

not so easy task:
"replace fear of the unknown with curiosity."


exemplo prático: o que é que me irá acontecer? estou tão curiosa! olha, ah! vou partir uma perna, olha! e vou ter um acidente de carro! ah!


(é verdade que geralmente temos curiosidade por notícias mázinhas, queremos saber, os pormenores, os detalhes, as dores, as consequências. mas deve ser só quando se aplica aos outros. é-me difícil ter curiosidade pelo desconhecido na minha vida, quando esse desconhecido não tem que ser necessariamente bom.)


terça-feira, junho 07, 2011

o medo,


por paulo moura. texto da Pública, este domingo, para quem não leu. o resto pode sempre ser visto aqui.


"Iuri, foto-repórter russo da Time, fez todas as guerras, desde a Tchetchénia até ao Afeganistão e ao Iraque, onde viveu 8 anos, num apartamento arrendado em Bagdad, bem longe da Green Zone dos americanos.
Encontrei-me com ele, André e Gabriel no terminal 2 do aeroporto do Cairo, à noite. Tínhamos estado juntos na Líbia, e saído de lá quando se tornou óbvio que as tropas de Khadafi iam entrar em Bengazi. Eu fiquei no Cairo, André e Gabriel foram para Itália.Iuri, esse, aproveitou para fazer umas fotografias no Bahrein.
Alugámos um carro e partimos imediatamente. Bengazi estivera sob ataque, mas havia sinais de que tinha acalmado, diziam algumas fontes, por terem ouvido dizer. Lá não havia telefones, nem jornalistas. Aliás, era por isso que tínhamos de ir.
Durante a noite, percorremos os 700 quilómetros que separam o Cairo de Sallun, perto da fronteira. De manhã cedo entrámos na Líbia, para outros tantos quilómetros até Bengazi. Juntaram-se-nos mais jornalistas. Alugámos um autocarro, porque nos pareceu mais seguro irmos juntos.
Pelo caminho, cada um tentava estabelecer contactos, para obter informações sobre a segurança das várias cidades e da estrada. Até Al Beida não havia problemas, ouvira um. Na estrada do deserto, jornalistas tinham sido capturados pelas forças de Khadafi, dizia outro. Em Bengazi os combates recomeçaram. Há snipers em todos os edifícios. Há caça aos jornalistas estrangeiros. Assaltam os carros nos bairros periféricos. Há tiros. Há incêncios. Não se passa nada. A cidade está calma. A cidade está em guerra.
Reuníamos as informações, contraditórias, e íamos formando na cabeça uma imagem delirante da cidade de onde tínhamos partido há poucos dias. E avançávamos. Cheios de hesitações e de cuidados. Cheios de medo.
Tudo nos parecia suspeito. Quando parámos em Tubruk, Iuri estava agitado. Quis falar connosco, longe do motorista, para dizer: “Ele fala russo perfeitamente. E eu sei que só as famílias próximas de Khadafi mandavam os filhos estudar na Rússia”. Despedimo-lo e contratámos cinco carros para nos levarem em pequenos grupos.
Ao longo da estrada fomos parando em cada povoação, para saber notícias. Iuri, o mais experiente entre nós, era sempre quem construía os cenários mais perigosos. Discutíamos, ponderávamos, decidíamos ora avançar, ora recuar. Tentávamos ser racionais.
Havia o medo e havia o fascínio. Todos conhecíamos bem a cidade de Bengazi, mas não era difícil imaginá-la transfigurada. Nunca é. Se nos disserem que alguém muito familiar enlouqueceu, começamos logo a pensar que a pessoa, vendo bem, nunca foi muito sã. E não nos admiramos que ela se comporte de forma monstruosa, nem nos intimidamos com isso.
Tal como um amigo que se torna assassino, aceitamos-lhe a perversidade como se fosse nossa. Assim manifestado em território conhecido, este é o Mal que também temos em nós, que podemos dominar e que, por isso, nos atrai. Difícil é conter a imaginação.
Anoitecia e nós, trémulos e mudos, aproximávamo-nos de Bengazi. Passámos por tanques incendiados, pelas casas disformes e tristes dos bairros pobres, mas nem sinais de tiros, chamas ou sangue. A cidade estava igual ao que sempre fora. Atravessámo-la com o coração a martelar o peito até ferir. Chegámos ao hotel sem qualquer incidente. Apeámo-nos, fizemos o check-in, como turistas. “Acontece sempre isto. Imaginamos as coisas muito piores do que elas realmente são”, disse Iuri.


(esperemos que sim.)


segunda-feira, junho 06, 2011

já a respeito das cadeiras,

e ainda nas voltas com a Fátima, o Pedro Passos Coelho solta com toda a coloquialidade que não suporta as cadeiras de alguns programas da TV, onde fica enterrado e pouco à vontade: "mas ainda não ninguém percebeu que aquilo é tão desconfortável?".

calculo que a cadeira de Primeiro-Ministro, apesar de apelativa, também não seja muito confortável. mas das duas uma: ou não nos sentamos, ou aguentamos e moldamos o rabinho.

(ninguém se devia sentar numa cadeira onde não se sente confortável. mas passando por cima das comodidades, porque nem tudo é uma questão de conforto, ninguém se devia queixar de uma cadeira onde quer sentar o rabinho. a não ser que a queira mudar para melhor.)


beijinhos sem ou com compromisso?

depois de um dia de cansaço, das voltas com a Fátima Campos Ferreira, de se ter sentado com o rabinho na relva, desconfortável, e de se ter queixado das cadeiras dos programas de conversas na TV, o Pedro Passos Coelho não se quis deitar sem ir dar um beijo à mãe. foi bonito.
o pai, quando ele foi eleito para o cargo de secretário-geral do PSD, foi dar-lhe um beijo de parabéns e pediu-lhe uma coisa, apenas uma: "Vê lá se não desiludes a tua mãe".

não sei que planos tem a mãe do Pedro para o Pedro, mas espero bem que passem por bons planos para o país.

eu, se pudesse, tinha-lhe dito na altura outra coisa: a tua mãe?! oh Pedrinho, vê lá é se não te desiludes a ti próprio.

bem, mas não conhecendo a peça, hoje, dado o beijinho da introdução, diria antes: vê se não mentes aos portugueses, sim?!


(porque isso de [não] desiludir é complicado. basta que [não] haja ilusão.)