quinta-feira, setembro 17, 2009

entre, não saia.


estreou recentemente no topo da minha rua um salão da igreja evangélica. outrora fora uma loja de brinquedos 'for kids' e depois uma tabacaria com café, jornais e internet. esteve encerrada uns tempos, como sempre acontece às lojas falidas, e esqueceu-se. foi por isso, talvez, que calhei a reparar. descia a couraça pequena e reparei numa luz poente que entrava pelas portas de vidro já descobertas. lá dentro, uma criança percorria as filas de cadeiras e, reparando em mim, veio espreitar-me.

à porta um convite muito simples para entrar, 'Entre (há ar condicionado)'. ok, então se há ar condicionado!... espreitei também. é um salão pequeno e simples, sem estátuas de santos nem ecos em naves imensas, nem paredes a relembrar os passos do Cristo, nem altares cinzelados a ouro. não. tem apenas umas poucas filas de cadeiras de plástico verde-mar, uma casa-de-banho bem sinalizada com a placa 'WC' e, à noite, uma luz forte de cozinha moderna. sentadas, 4 ou 5 pessoas escutavam descansadamente o orador. e pareceram-me a mim que estavam em casa.

instantaneamente, lembrei-me das missas a que já assisti. e das igrejas em que já estive. tudo parecia tão simples e bonito quando dito e escutado naquele contexto e, depois, inevitavelmente perdido assim que metíamos o pé cá fora, no momento em que fazíamos a transição para a outra realidade, retornando às coisinhas do dia-a-dia.

assim, de repente, apetece-me tecer uma teoria acerca do contexto. se eu estou na gala do Presidente da Répública é provável que estranhe ver pessoas nuas. se eu for à praia essa estranheza depressa me passa (não?). porque estou no contexto. mas os contextos têm que ter continuidade, se é que querem que as aprendizagens de um tenham continuidade no outro. se eu me dispo no ginecologista e acho normal, não quer dizer que 5 minutos depois quando entrar na mercearia me vá despir também. porque o contexto mudou. e o nosso cérebro sabe-lo bem.

talvez seja por isso que tantos medos de elevadores se tenham que curar no elevador que se usa todos os dias, e não no consultório onde se fala deles ao psicoterapeuta. e quem diz elevadores diz aranhas, diz aviões, diz até igrejas que pareçam cafés, ou salas de aula ou até gabinetes de trabalho. que se assemelhem ao contexto cá fora, ao mundo real. que falem a mesma linguagem, a do dia-a-dia. para que não sejamos levados a mudar de contexto. e, consequentemente, a mudar também a nossa forma de pensar, e de agir.

2 comentários:

Anónimo disse...

dó ré mi... pública...

;X*

menina de porcelana disse...

está já corrijido, peço desculpa, corrigido!, oh senhora professora. ;)