terça-feira, outubro 06, 2009

(h)Ard[i] to believe


Lembro-me bem daquela aula de História do meu 7º ano em que a professora nos informou a todos, numa versão simplificada, que descendíamos do macaco. Eu, que até então fora profundamente catequizada com a estória do Adão e da Eva no Paraíso, fiquei perplexa.

Matutei nisto continuamente e, não sei bem em que dia no meio de um qualquer almoço, arremessei a pergunta: Há uma coisa que não estou a perceber... A professora de História diz que houve uma evolução e que nós evoluímos do macaco, mas a catequista diz que Deus criou o Adão e a Eva... onde é que entram aqui os macacos? Penso que naquele instante provoquei sensivelmente nos meus pais a mesma reacção que tem a pergunta 'De onde vêm os bebés?'. O meu pai, entranhadamente homem da ciência, iria provavelmente reafirmar-me a ideia de que, de facto, descendemos dos macacos. Depois entraria em termos infindavelmente complicados, mas a conclusão seria essa. Mas foi a minha mãe, mulher de Fé, que sem ser por acaso tomou a palavra. Com alguma paciência, explicou-me como o Adão e a Eva eram uma metáfora para o princípio da humanidade. E devo dizer que, de forma bastante simples, me deixou mais apaziguada com estas várias versões que os senhores adultos se lembram de nos transmitir.

Porque quando se misturam alhos com bugalhos a coisa fica difícil de explicar. Por um lado, dizer às crianças que os papás primeiros foram o Adão e a Eva, é fazer-lhes um nó no cérebro de forma a que não passe qualquer outro tipo de informação. Foi assim e pronto, e depois o Caim matou o Abel e a maldade ficou-nos nos sangue. Tudo tem explicação. Corta-se assim com qualquer outro tipo de ideia(s) como, por simples exemplo, de que talvez não tenha sido Deus que nos fez as costelas (pelo menos, não directamente), mas que talvez o nosso papá fosse afinal um ser demasiadamente peludo, desprovido de moral e, também, de tecnologia.
Por outro lado, dizer às crianças que descendemos do 'macaco', é ignorar que o seu pensamento concreto ligará A a A, B a B, e C a C. É aliás quase o mesmo que dizer-lhes que Macaco é tudo o mesmo e que, assim sendo, o 'macaco' que anda por aí não evoluiu, enquanto nós, humanos, seres avançadíssimos, produto de ponta, nos fartámos de evoluir.

Ainda bem que 'descobriram' a Ardi. É que ela, no seu silêncio misterioso veio lançar outras hipóteses. Ao que parece, nós humanos somos muito mais parecidos com esse antepassado longínquo do que aquilo que queríamos ser (e que as descobertas científicas até agora pareciam fazer acreditar). E mais, o que sugere a descoberta dos infindos ossinhos (há já 17 anos) é que provavelmente quem 'evoluiu-mais' até foi o comummente chamado 'macaco'. Blasfémia!

Claro que teorias e versões há muitas. E provavelmente outros factos e dados surgirão, e novas hipóteses serão tecidas. E talvez nem nunca cheguemos à unicidade. E depois? Isso talvez até seja bom. Porque suscita a dúvida, suscita a discussão, suscita o querer saber mais. Suscita tudo aquilo que, quem acha que já sabe tudo, parece não querer ouvir falar. Pena. Porque ninguém devia estabelecer como certo e seguro aquilo que nunca foi posto à prova com uns valentes abanões.

1 comentário:

BD... disse...

sobre evolução.