terça-feira, julho 21, 2009

instantâneo










(Porto, Portugal, 2009)


Enquanto estendo o pé em cada passo,
enquanto vislumbro a estação,
enquanto subo o degrau do comboio,
enquanto me sento e acomodo,
enquanto espreito pela janela,
enquanto vejo a cidade a mover,
enquanto páro na estação seguinte e depois na outra e na outra depois,
enquanto contemplo o homem sentado,
enquanto o vejo afastar-se, momento atrás de momento, sem rasto palpável, ou que possa aconchegar no colo, enquanto lhe tento reter a face, a expressão, pensando que talvez não o volte a ver jamais, e se me derretem na boca, como algodão doce, esses pensamentos fortuitos,
enquanto se dissipa também ela, a face, na marcha do comboio,

e se me passa, também, este dia pelas mãos, pelos olhos, em sons e gostos que só saberei depois,
aí, nesse(s) entretanto(s) prolongado(s), pergunto-me

para onde vão eles, esses instantes em que pedalamos à velocidade da luz?


(assim, visto de passagem, parece-me que gastamos a vida ou no passado ou no futuro. fazia-me falta às vezes abrir a janela do comboio e deitar borda fora Tudo o que não seja aquele instante. Mas.)

2 comentários:

Filipa Júlio disse...

excelente, miúda de louça. fotografia e texto.
bravo.

menina de porcelana disse...

(as bochechas coram, a louça aquece. qualquer dia estala!)

obrigada Filipa...
à pala disto perdi eu 'instantes' preciosos de sono. mas.

;)