(Porto, Portugal, 2009)
Enquanto estendo o pé em cada passo,
enquanto vislumbro a estação,
enquanto subo o degrau do comboio,
enquanto me sento e acomodo,
enquanto espreito pela janela,
enquanto vejo a cidade a mover,
enquanto páro na estação seguinte e depois na outra e na outra depois,
enquanto contemplo o homem sentado,
enquanto o vejo afastar-se, momento atrás de momento, sem rasto palpável, ou que possa aconchegar no colo, enquanto lhe tento reter a face, a expressão, pensando que talvez não o volte a ver jamais, e se me derretem na boca, como algodão doce, esses pensamentos fortuitos,
enquanto se dissipa também ela, a face, na marcha do comboio,
e se me passa, também, este dia pelas mãos, pelos olhos, em sons e gostos que só saberei depois,
aí, nesse(s) entretanto(s) prolongado(s), pergunto-me
para onde vão eles, esses instantes em que pedalamos à velocidade da luz?
(assim, visto de passagem, parece-me que gastamos a vida ou no passado ou no futuro. fazia-me falta às vezes abrir a janela do comboio e deitar borda fora Tudo o que não seja aquele instante. Mas.)
2 comentários:
excelente, miúda de louça. fotografia e texto.
bravo.
(as bochechas coram, a louça aquece. qualquer dia estala!)
obrigada Filipa...
à pala disto perdi eu 'instantes' preciosos de sono. mas.
;)
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