BOM ANO! :) )
"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
terça-feira, dezembro 27, 2011
caixinhas de música
BOM ANO! :) )
terça-feira, dezembro 13, 2011
terça-feira, novembro 29, 2011
"Porque o único sentido oculto das cousas É elas não terem sentido oculto nenhum." (i)
Rambo III (1988), Peter MacDonald. |
(o complexo - a sério mesmo - é resistir a ver o que não se vê, e deixar aparecer o que está à vista.)
segunda-feira, novembro 28, 2011
justificações (I)
quarta-feira, novembro 23, 2011
mimos
andam os dois na fisioterapia, talvez pela já avançada idade. ela, de estatura baixa, anafadinha, mas bem maquilhada e penteada. ele, alto mas sereno, discreto e humilde. olha-nos com um sorriso escondido, curioso, mas cansado, enquanto vagarosamente muda de posto por entre as máquinas e ferramentas de exercício.
- então homem? toca a acabar isso!, solta ela despachada enquanto sai de uma sessão de gabinete. ele levanta-se, enferrujado e sem pio, ainda que não tenha acabado o exercício.
ela, visivelmente extenuada, e sem aguentar as coxas roliças, senta-se arfante enquanto empunha a bomba da asma:
- ai eu não consigo, tens que ir buscar o carro...
(mas este senhor ainda conduz?, penso eu...)
ele balbucia qualquer coisa de fininho, sempre muito submisso, e acede.
- fazes marcha a trás e apanhas-me aqui à porta.
está bem. ele diz-nos boa-noite num sorriso sumido e segue. a senhora relaxa, olha para nós com as faces rosadas e contentes, e encolhe os ombros. penso que vê em nós empatia. pois. eu imagino. imagino o ar gasto, abatido, mas conformado com que ele deve fazer o curto caminho até ao carro. e encolho os ombros também.
(por trás de uma mulher resoluta, segura e despachada, costuma haver um homem que lhe faz as vontades.)
domingo, novembro 20, 2011
humano
who are you?
quarta-feira, novembro 16, 2011
segunda-feira, novembro 14, 2011
quinta-feira, novembro 10, 2011
há de tudo (ii).
ele
- like it?
eu
- no, thank you.
ele
- what are you looking for?
eu
- no thank you, i don't want to buy.
ele, sem desistir,
- we have everything, everything is possible!
(como se chega ao sab kuch milega na Índia. do nada. ou do que quer que seja. e talvez seja por isso que funciona.)
quarta-feira, novembro 09, 2011
há de tudo.
ele
- want to buy?
eu, desprendendo o olhar de uma peça,
- no thank you.
ele
- how much?
eu
- i don't want it. i'm looking for something...
ele, já eu a afastar-me,
- which kind of something?
(mesmo para indefinidos.)
sexta-feira, outubro 21, 2011
viagens (ii).
quinta-feira, outubro 06, 2011
quarta-feira, outubro 05, 2011
brainycapped (I)
depois disso, lamenta-se, mas a auto-centração destrói qualquer paciência para dar conta do outro. ou para que haja de facto outro. e, quando por acaso for notada a presença do outro, destrói também a paciência de lhe estender um dedito que seja - gasta-se demasiada energia, e uma pessoa já está cansada. cansadíssima aliás. portanto, a haver outro, que seja sem problemas. e se os tiver, paciência, you've got your problems i've got mine. de qualquer forma, para quê andar a criar mais pessoas, e a dar-se a trabalhos quando, perdida já a saúde mental do próprio, é óbvio que mais tarde ou mais cedo as crianças se tornarão adultos e perderão também a sua. e não a perdendo é porque têm truques, os truques dos espertos, dos pérfidos, senhores neste mundo, e que ludibriam o resto, os fracos de espírito. ou de mente. e que assim não vale a pena.
(tenho para mim que quando se perde a saúde mental irreversivelmente, o corpo seca. e se não seca devia secar. que a natureza sabe o que faz mas nem sempre. e há demasiados seres desamparados neste mundo.)
domingo, outubro 02, 2011
consequências da não aprendizagem compreensiva da função da filinha indiana na escola primária.
terça-feira, setembro 27, 2011
'get him up. let him live.'
(ver a partir minuto 5:02. não ver se quiserem ver o filme por inteiro.)
But don't I only scare myself?**)
segunda-feira, setembro 19, 2011
quinta-feira, setembro 08, 2011
Do Comunismo (visto às cegas)
terça-feira, setembro 06, 2011
o estatuto do foro psicológico
- opois no sábado sentiu-se mal.
- mas ele é epiléptico?
- não. deu-lhe um ataque de ansiedade. e no sábado teve que ir ao médico.
- ah, não sabia. mas ele há médico disso? da ansiedade?
(há pois. mas chiu, ninguém sabe, é segredo. é um bicho. um bicho que não se conhece bem. que não se percebe. isto do coração a saltar por motivos que não os intrínsecos ao coração. isto de tremermos sem termos a Parkinson. isto de nos esquecermos desprovidos do Alzheimer. de andarmos tristes sem motivo aparente. nervosos, quando as provas já passaram. cansados, sem trabalhar. sem sono, quando queremos tanto dormir.
mas prepare-se, querida senhora, habitue-se a ouvir destas, que isto só vai aumentar.)
segunda-feira, agosto 29, 2011
questões
a mãe para a miúda:
- vá anda!, se não nunca mais chegamos ao outro lado da ponte.
a miúda para a mãe:
- e o que é que acontece se não chegarmos?
(é sempre bom saber que ainda há quem questione as coisas. sejam elas o que forem. ou o que quer que nos digam que elas são.)
quinta-feira, agosto 25, 2011
contexto (i)
segunda-feira, agosto 22, 2011
quinta-feira, agosto 04, 2011
porque as coisas, às vezes, têm um sentido.
"My daddy left home when I was three
And he didn't leave much to ma and me
Just this old guitar and an empty bottle of booze.
Now, I don't blame him cause he run and hid
But the meanest thing that he ever did
Was before he left, he went and named me "Sue."
Well, he must o' thought that is quite a joke
And it got a lot of laughs from a' lots of folk,
It seems I had to fight my whole life through.
(...)
I tell ya, life ain't easy for a boy named "Sue."
Well, I grew up quick and I grew up mean,
(...)
But I made a vow to the moon and stars
That I'd search the honky-tonks and bars
And kill that man who gave me that awful name.
(...)
At an old saloon on a street of mud,
There at a table, dealing stud,
Sat the dirty, mangy dog that named me "Sue."
(...)
I looked at him and my blood ran cold
And I said: "My name is 'Sue!' How do you do!
Now your gonna die!!"
Well, I hit him hard right between the eyes
(...)
And he said: "Son, this world is rough
And if a man's gonna make it, he's gotta be tough
And I knew I wouldn't be there to help ya along.
So I give ya that name and I said goodbye
I knew you'd have to get tough or die
And it's the name that helped to make you strong."
He said: "Now you just fought one hell of a fight
And I know you hate me, and you got the right
To kill me now, and I wouldn't blame you if you do.
But ya ought to thank me, before I die,
For the gravel in ya guts and the spit in ya eye
Cause I'm the son-of-a-bitch that named you "Sue.'"
(...)"
segunda-feira, agosto 01, 2011
mal-entendidos (I)
(she) - Roy and I are getting a divorce.
(he) - Do you see how ironic, and beautiful, life is? *
(* minuto 1:00 no trailer.
a melhor cena. mas para ver inteira.)
terça-feira, julho 26, 2011
maus hábitos
as coisas piores na vida são más. e más de facto: crónicas e invalidantes. as outras,
as que demoram mas eventualmente acabam por cessar,
um dia, quem sabe,
são chatas.
chatiiiiiinhas, ou chatíssimas até. mas
só isso.
nós é que,
simplesmente,
nos habituámos a não ter paciência para a chatice.
fugas
sexta-feira, julho 22, 2011
alvo
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lha a mãe. Está inteira
E boa, a cigarreira,
Ele é que já não serve.
Doutra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
(...)"
quinta-feira, junho 30, 2011
terça-feira, junho 28, 2011
"there was a crime. there was a trial. and there is punishment." (*)
depois de várias dúvidas existenciais, apaziguadas pela clara e racionalizada relatividade das coisas, surge-me na cabeça, contra todos os intuitos e lógicas de paciência, a derradeira questão de base. e eis que brado ao alto, (com a perninha cuidadosamente amparada para não me desequilibrar):
- porquê?!, MEU DEUS, MAS PORQUÊ!? O QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO?!
- escorregaste, responde logo a vozinha de ricochete -
e, pior, caíste. e caíste mal.
(contra factos, nunca houve argumentos. e é assim: o que uma pessoa faz tem consequências. tem. não pode deixar de ter. e perante tamanha certeza das coisas, onde raio se há-de refugiar uma pessoa?! exaspera-me!)
sexta-feira, junho 24, 2011
quando uma borboleta bate as asas
caem os homens.
por causa da queda, acorrem outros, que os socorrem e amparam. por causa dos que os socorrem e amparam, o mundo muda o seu movimento: até então de uma forma, agora, depois da queda, de outra.
cai a menina. até então com movimento independente, passa a fazer depender o seu movimento do dos outros, que assim mudam o deles também. e, com eles, mudam os pontos em que os movimentos do mundo e os movimentos dos outros e o seu se interseccionam:
vêm buscar a menina, vêm deixar a menina; levam a menina, trazem a menina. se fosse antes, a menina faria as suas estradas, e os outros fariam os seus caminhos. agora, as estradas e os caminhos cruzam-se e fundem-se, até que se descruzem outra vez. mas, pelo caminho, as estradas dos outros cruzam-se onde, se fosse antes, jamais se cruzariam. porque o processo mudou.
por exemplo, antes, a menina iria até à montanha. agora, a montanha tem que vir até si para a levar de volta a casa. a menina vai, e a menina fica. e fica também dependente da disponibilidade da montanha para a trazer de volta. portanto a menina fica, operando com o seu vagar, organizando a volta a passo lento. se fosse antes, tudo seria feito num ápice. agora, demora este e aquele e o outro minuto.
também a montanha se reorganiza agora de outro modo (ou exagerou apenas o seu comportamento habitual): é preciso levar isto e aquilo e aqueloutro, porque o movimento da menina mudou. e os tempos do movimento da menina mudaram. e as possibilidades de movimento da menina também. tudo tem que ser de outro modo, claro, mais simples, mais fácil. tipo refeição multi-vitamínica sopa e prato num só. o que, para não demorar mais tempo à menina, demora, por um processo simples de compensação, mais tempo à montanha.
depois das idas, das voltas, de arrumar isto, arranjar aquilo, de fazer passar o tempo, aquele tempo, aquele exacto tempo, a montanha pode enfim regressar com a menina. a menina apruma-se, demora mais tempo que o habitual, e no instante x, entra no regaço da montanha.
acomoda-se, fecha a porta e rolam as rodas. fazem-se ao caminho. devagar, tudo no seu tempo. cruzam-se as curvas, esta, aquela, aqueloutra. se não fossem as quedas, a menina teria ido já. antes. ou teria apenas ido depois. pensa. mas foi agora. cruza a curva, aquela curva, naquele exacto momento. segue a estrada. outra curva, aquela. naquele instante, aquele pedaço de estrada. aparece o coelho. zás.
(custa-me pensar que vivemos no completo desconhecimento de a que ponto o que fazemos agora mudará radicalmente o depois. que não controlamos nada, porque não sabemos nada. e que, não sabendo nada - por onde ir, por onde contornar - o que virá a acontecer é inevitável.)
terça-feira, junho 21, 2011
your feet were also made for walkin'
que essa vida que tens Por mais vidas que tu tenhas
É a tua que mais perdes se não vens.
(mas é inevitável. as perdas, a serem percebidas, percebem-se sempre depois.
o que nos vale é não percebermos nem o quanto nem exactamente tudo o que perdemos.)
sábado, junho 18, 2011
terça-feira, junho 14, 2011
só te levantas se cais, só cais se te desequilibras, só te desequilibras se te mexes.
"We like to play with words a lot, put two words together for example, and make a new word out of it. It means jumping into puddles. It should be two words but it's almost like a name now. The lyrics describe an atmosphere, a memory or something, like being a kid jumping into puddles, falling down and getting a nosebleed, getting back up... It doesn't really matter when you're a kid."
(Georg Holm, about Hoppipolla)
(também não devia importar quando já somos grandes.)
segunda-feira, junho 13, 2011
Papillon (iii), Ou Inatentional blindness
não deixo de me lembrar que o JC, independentemente de ter sido Filho, apenas homem ou personagem de um livro, vinha com umas histórias ilustrativas de muita questão.
lembro-me da parábola da ovelhinha perdida. do senhor pastor que tinha 100 ovelhas e que perdeu uma. ora ficando ainda com as 99, foi com a perdida que se preocupou mais. ora pois, as 99 estavam seguras, a outra é que andava por parte incerta! sem saber se voltava ou não, foi a ela que o pastor dispensou os maiores cuidados.
mas não posso deixar de pensar que, dispensando maior atenção a uma, e ainda que aparentemente seguras, ficam as outras mais vulneráveis.
(volta e meia perdemos nós também uma. sem saber se foi dar só uma volta ou não, vamos tentando manter viva a esperança, com sobressaltos e muitos cuidados, que um dia regresse. mas, enquanto isso, e com muita ginástica para direccionar a vista teimosa!, devíamos agradecer ter ficado com as outras 99.)
Papillon (ii), Ou Banhinhas e celulite e.
daqui
(tantas as vezes que valorizamos as coisas pequenininhas. e só quando perdemos as maiores
é que percebemos a relatividade das coisas.)
Papillon (i)
(duramos tão pouco.
como é possível passar um dia que seja sem que testemos os nossos limites?)
sexta-feira, junho 10, 2011
eu é que disse, não eu é que disse, não não, eu é que disse!
«"Portugal não pode falhar, nem tem margem para errar, acho que todos temos consciência disso", afirmou o líder do CDS-PP, Paulo Portas, em declarações aos jornalistas à saída da sessão solene do 10 de Junho, que se realizou em Castelo Branco e onde o Presidente da República sublinhou que Portugal não pode falhar.»
«Questionado sobre a declaração do Presidente da República de que Portugal não pode "falhar", o futuro primeiro-ministro [Pedro Passos Coelho] disse apenas que todos sabem isso. "Sabemos todos isso, eu próprio disse isso durante a campanha eleitoral", referiu. »
(eu não disse. ups... mas passou-me pela cabeça... conta?)
quarta-feira, junho 08, 2011
task difficulty
easy task:
fear the unknown.
not so easy task:
"replace fear of the unknown with curiosity."
exemplo prático: o que é que me irá acontecer? estou tão curiosa! olha, ah! vou partir uma perna, olha! e vou ter um acidente de carro! ah!
(é verdade que geralmente temos curiosidade por notícias mázinhas, queremos saber, os pormenores, os detalhes, as dores, as consequências. mas deve ser só quando se aplica aos outros. é-me difícil ter curiosidade pelo desconhecido na minha vida, quando esse desconhecido não tem que ser necessariamente bom.)
terça-feira, junho 07, 2011
o medo,
por paulo moura. texto da Pública, este domingo, para quem não leu. o resto pode sempre ser visto aqui.
Encontrei-me com ele, André e Gabriel no terminal 2 do aeroporto do Cairo, à noite. Tínhamos estado juntos na Líbia, e saído de lá quando se tornou óbvio que as tropas de Khadafi iam entrar em Bengazi. Eu fiquei no Cairo, André e Gabriel foram para Itália.Iuri, esse, aproveitou para fazer umas fotografias no Bahrein.
Alugámos um carro e partimos imediatamente. Bengazi estivera sob ataque, mas havia sinais de que tinha acalmado, diziam algumas fontes, por terem ouvido dizer. Lá não havia telefones, nem jornalistas. Aliás, era por isso que tínhamos de ir.
Durante a noite, percorremos os 700 quilómetros que separam o Cairo de Sallun, perto da fronteira. De manhã cedo entrámos na Líbia, para outros tantos quilómetros até Bengazi. Juntaram-se-nos mais jornalistas. Alugámos um autocarro, porque nos pareceu mais seguro irmos juntos.
Pelo caminho, cada um tentava estabelecer contactos, para obter informações sobre a segurança das várias cidades e da estrada. Até Al Beida não havia problemas, ouvira um. Na estrada do deserto, jornalistas tinham sido capturados pelas forças de Khadafi, dizia outro. Em Bengazi os combates recomeçaram. Há snipers em todos os edifícios. Há caça aos jornalistas estrangeiros. Assaltam os carros nos bairros periféricos. Há tiros. Há incêncios. Não se passa nada. A cidade está calma. A cidade está em guerra.
Reuníamos as informações, contraditórias, e íamos formando na cabeça uma imagem delirante da cidade de onde tínhamos partido há poucos dias. E avançávamos. Cheios de hesitações e de cuidados. Cheios de medo.
Tudo nos parecia suspeito. Quando parámos em Tubruk, Iuri estava agitado. Quis falar connosco, longe do motorista, para dizer: “Ele fala russo perfeitamente. E eu sei que só as famílias próximas de Khadafi mandavam os filhos estudar na Rússia”. Despedimo-lo e contratámos cinco carros para nos levarem em pequenos grupos.
Ao longo da estrada fomos parando em cada povoação, para saber notícias. Iuri, o mais experiente entre nós, era sempre quem construía os cenários mais perigosos. Discutíamos, ponderávamos, decidíamos ora avançar, ora recuar. Tentávamos ser racionais.
Havia o medo e havia o fascínio. Todos conhecíamos bem a cidade de Bengazi, mas não era difícil imaginá-la transfigurada. Nunca é. Se nos disserem que alguém muito familiar enlouqueceu, começamos logo a pensar que a pessoa, vendo bem, nunca foi muito sã. E não nos admiramos que ela se comporte de forma monstruosa, nem nos intimidamos com isso.
Tal como um amigo que se torna assassino, aceitamos-lhe a perversidade como se fosse nossa. Assim manifestado em território conhecido, este é o Mal que também temos em nós, que podemos dominar e que, por isso, nos atrai. Difícil é conter a imaginação.
Anoitecia e nós, trémulos e mudos, aproximávamo-nos de Bengazi. Passámos por tanques incendiados, pelas casas disformes e tristes dos bairros pobres, mas nem sinais de tiros, chamas ou sangue. A cidade estava igual ao que sempre fora. Atravessámo-la com o coração a martelar o peito até ferir. Chegámos ao hotel sem qualquer incidente. Apeámo-nos, fizemos o check-in, como turistas. “Acontece sempre isto. Imaginamos as coisas muito piores do que elas realmente são”, disse Iuri.
(esperemos que sim.)
segunda-feira, junho 06, 2011
já a respeito das cadeiras,
calculo que a cadeira de Primeiro-Ministro, apesar de apelativa, também não seja muito confortável. mas das duas uma: ou não nos sentamos, ou aguentamos e moldamos o rabinho.
(ninguém se devia sentar numa cadeira onde não se sente confortável. mas passando por cima das comodidades, porque nem tudo é uma questão de conforto, ninguém se devia queixar de uma cadeira onde quer sentar o rabinho. a não ser que a queira mudar para melhor.)
beijinhos sem ou com compromisso?
o pai, quando ele foi eleito para o cargo de secretário-geral do PSD, foi dar-lhe um beijo de parabéns e pediu-lhe uma coisa, apenas uma: "Vê lá se não desiludes a tua mãe".
não sei que planos tem a mãe do Pedro para o Pedro, mas espero bem que passem por bons planos para o país.
eu, se pudesse, tinha-lhe dito na altura outra coisa: a tua mãe?! oh Pedrinho, vê lá é se não te desiludes a ti próprio.
bem, mas não conhecendo a peça, hoje, dado o beijinho da introdução, diria antes: vê se não mentes aos portugueses, sim?!
(porque isso de [não] desiludir é complicado. basta que [não] haja ilusão.)
terça-feira, maio 31, 2011
descobertas (ii)
let the youth be young.
because if
you don't let the youth discover its youth, the older people will be too young, and
the young will become too old.
(we cannot teach, we cannot avoid, we cannot prevent the loss of innocence. but
there's a time for each
step, for each
movement, within a
dance.)
*Tranzträume, Rainer Hoffmann, Anne Linsel (2010)
quinta-feira, maio 26, 2011
micro macro
daqui
Nature changes. cities remain?
people change. cities remain?
people change, cities change?
people change... nature remains?
(cities change, people change. but their nature remains the same. cities increase in size, full of people and their same nature. and Nature changes. inescapably.)
quarta-feira, maio 25, 2011
pelo contrário
nunca se falou opinou escreveu gritou argumentou assentiu tanto por vontade própria.
nem nunca foi tanta a liberdade de expressão, tanta a expressão da vontade, do "eu quero",
do "eu posso e mando e faço". do "eu, a mim, agora, não me apetece".
mudos só se forem mesmo os tempos, ensurdecidos pela peixaria das vontades.
(o trocadilho é uma coisa engraçada. é. mas, desprovido do contexto, acaba por se perder na troca. e depois é a velha questão: as leis universais já raramente abarcam a flexibilidade acrobática do quotidiano. quanto mais quando são subvertidas.)
quinta-feira, maio 19, 2011
it (ii)
estar no meio das gentes, sentada, a vê-las passar. sentada, quieta, enquanto apoio a mão no queixo, e as vejo passar. contemplá-las. a elas, aos seus movimentos, ao seu movimento. pendular. vão e voltam. andam às voltas. ou não. em movimento rectílineo com travão. vão, não voltam.
vê-las passar. habituar-me a vê-las passar. observá-las enquanto passam. porque não as poderei observar depois, quando já passaram, manter isso em mente, quando já passaram e não voltam. prender-me nisso, nos movimentos, na forma como olham, como andam, como se relacionam. na forma como se ignoram. como me ignoram. enquanto eu, sentada, com os fones nos ouvidos, as vejo, as observo, as contemplo a passar.
enquanto os corpos se movem e dançam ao som de uma música que nem sabem, que não ouvem. e eu vê-las nesse ritmo, a moverem-se neste ritmo, desfasadas ou não, que lhe dançam o ritmo sem o saberem, sem saberem o ritmo a que vão, nem quando acaba o ritmo, nem quando acaba a música. sem saberem quando acaba o movimento. não sabem.
não sabem se velozes se deslocam, demais para o ritmo da dança, se devagar. não sabem. ninguém sabe. nem eu, por mais que os observe. nem eu, sob que danças se movem, sob que ritmos, o que as faz mover e passar. nem eu, que as observo. impossível aprender as regras dos seus movimentos.
por isso, observo. só.
e enquanto as vejo, passa-me na mente que quando as pessoas se movem, num centro comercial ou onde for, se movem sem destino. que até podem achar que o têm, mas que o caminho é tanto e as montras tão apetecíveis. e ou o tempo o têm contado, ou o tempo é para sempre infinito. até que cesse a música.
que quando as pessoas se movem, num centro comercial ou onde for, circulam à medida do espaço que lhes é dado. que os objectivos de destino se perdem tantas vezes. que tantas vezes perdem o rumo. perdemos o rumo.
estar no meio das gentes, sentada, a ouvir música, a ouvir a minha música, desfasada talvez de todas as outras, e contemplar os movimentos, os ritmos, as velocidades, os relacionamentos. contemplar a vida e a matéria. a luz. ter os fones nos ouvidos e ver as coisas assim, a esse ritmo, ao meu ritmo. ver as coisas e não poder tirar nada, rigorosamente nada, dessa observação.
quinta-feira, maio 12, 2011
it
what is it?
this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is really it
this is all there is
and is perfect as it is
there is nowhere to go but here
that is nothing here but now
there is nothing now but this
and this is it
this is it
this is it
is this it here now?
this here now it is.
is now this it here?
here it now is this.
is it here this now?
now is here this it.
is this now it here?
this now here is it.
i am it. and so are you.
This is It and I am It and You are It and so is That and He is It and She is It and It is It and That is That. Oh It is This and It is Thus and It is Them and It is Us and It is Now and here It is and here We are so This is It.
(so, what is it?)
sexta-feira, maio 06, 2011
Epidural
O senhor doutor diz que eu faço parte de uma franja. Não sei o que quis dizer, mas deve ter a ver com o crianço que vai nascer. Disse-lhe que queria tudo ao natural, e ele disse-me que eu devia tomar epidural, eu disse que não queria cá drogas, que queria sentir o meu filho a sair-me das entranhas. Mas
«Para Luís Mendes da Graça*, a ideia ‘romântica’ do parto sofrido tem que passar à história. ‘Estamos no século XXI e não podemos aceitar que os procedimentos médicos sejam comparáveis a países de Terceiro Mundo.’ Há, no entanto, ‘algumas franjas da população que ainda oferecem resistência à epidural. Mas, para o especialista, trata-se de ‘uma esmagadora minoria que ainda pretende ter uma falsa visão poética e bucólica da vida’, porque, na globalidade, a preferência das mulheres recai sobre a epidural.» **
Não percebo. Eu não tenho nada contra a epidural, não, nem tenho. Longe disso: as grávidas têm o direito de optar. Do mesmo modo, à partida, também não tenho nada contra este senhor. No entanto, não consigo evitar ter algo contra opiniões como esta, que catalogam como ainda retardadas as pessoas que preferem fazer o parto sem anestesia. E continuo. Tenho sim contra opiniões que reivindicam uma visão-da-vida verdadeira e que catalogam como falsa o que não lhes fica por baixo da saia. ou da batina.
Mas, de qualquer modo, confesso que nem percebi bem a questão. Isto é, se a visão da vida é falsa porque é (a) bucólica e poética – e não devia; ou se (b) isto de insistir em sentir as dores do parto é a visão bucólica e poética falsa, pois existe a visão bucólica e poética verdadeira. De qualquer das formas, suscita-me reacções viscerais. É que se existe uma Verdadeira, por favoooor, elucidem-me acerca do caminho, para que também eu possa ver!
Mas até calculo que esta visão Verdadeira da vida venha por meio de anestesia. Parece que, depois dela, o mundo muda aos nossos olhos. (de facto, o David também andou nas anestesias e realmente experimentou outra visão da vida. agora, se verdadeira ou falsa, realmente, transcende-me.)
Eu, no meu desconhecimento das coisas, prefiro experimentar primeiro, em vez de me converter logo à maioria por meio de conformismo. E, no seguimento desta ideia, aviso que nem vou ser radical. Não. Hei-de ter um parto SEM anestesia e, depois, outro parto COM anestesia, e nem tem que ser por esta ordem. Só então, já devidamente esclarecida, decidirei como quero ter a nova palete de filhos.
Mas talvez o problema desta minoria nem seja (b) a visão-da-vida bucólica e poética falsa. Não, talvez a falsidade desta visão da vida - que faz recusar a anestesia - passe mesmo por ser demasiado romântica. Lamento. É que, novamente, não percebi. É assim tão mau ter uma visão romântica das coisas? É assim tão mau querer sentir as coisas até ao seu limite?
Não sei, se é falsa ou se é verdadeira. Nem, muito sinceramente, me interessa tal dicotomização. Porque, na minha singela opinião de possível-futura-parturiente-em-situação-de-gozar-de-liberdade-e-vontade-própria, não vejo que melhor visão se pode ter da vida se não uma que é bucólica e poética.
(de vez em quando, canso-me de ser morna. mas prometo que um-dia-destes tentarei voltar à harmonia - com a natureza, com as pessoas, e com o mundo. enfim, à harmonia com o universo – e com estas opiniões.)
** fonte: Jornal do Centro de Saúde, Ano 5, nº 49, Fevereiro 2009]