andam os dois na fisioterapia, talvez pela já avançada idade. ela, de estatura baixa, anafadinha, mas bem maquilhada e penteada. ele, alto mas sereno, discreto e humilde. olha-nos com um sorriso escondido, curioso, mas cansado, enquanto vagarosamente muda de posto por entre as máquinas e ferramentas de exercício.
- então homem? toca a acabar isso!, solta ela despachada enquanto sai de uma sessão de gabinete. ele levanta-se, enferrujado e sem pio, ainda que não tenha acabado o exercício.
ela, visivelmente extenuada, e sem aguentar as coxas roliças, senta-se arfante enquanto empunha a bomba da asma:
- ai eu não consigo, tens que ir buscar o carro...
(mas este senhor ainda conduz?, penso eu...)
ele balbucia qualquer coisa de fininho, sempre muito submisso, e acede.
- fazes marcha a trás e apanhas-me aqui à porta.
está bem. ele diz-nos boa-noite num sorriso sumido e segue. a senhora relaxa, olha para nós com as faces rosadas e contentes, e encolhe os ombros. penso que vê em nós empatia. pois. eu imagino. imagino o ar gasto, abatido, mas conformado com que ele deve fazer o curto caminho até ao carro. e encolho os ombros também.
(por trás de uma mulher resoluta, segura e despachada, costuma haver um homem que lhe faz as vontades.)
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