sexta-feira, dezembro 14, 2007

Cinzenta

        
Andam por aí umas criaturinhas que se intitulam pomposamente de Descrentes. Fazem questão de marcar que não acreditam em nada que tenha no nome Sociedade, Justiça, Saúde, ou Governo. Ou simplesmente, qualquer coisa que ultrapasse o centímetro em volta da pelezinha amarelada e retesada que já não sorri de inocência há muito tempo. Então deprimem, descrentes do futuro, e enfrascam-se em ajuntamentos de álcool e medicação. Ou então não deprimem, mas enfrascam-se na mesma em ajuntamentos de álcool e medicação. E então deprimem. Enfim. A sociedade ocidentalizada como fonte de descrença e como meio de falecimento precoce.

Andam por aí esses descrentes. Descrentes do mundo, descrentes da sociedade, descrentes dos outros. Por isso, contam consigo mesmos, com a sua vontade própria, e com os troquitos que desviam aos sistemas comuns e ocidentalizados. Pois estes descrentes vão-se safando, porque contam com o seu individualismo e amor-próprio, e isto basta-lhes para seguir em frente. Mas depois há os outros. E os outros têm que se lhe diga. Não crêem no mundo, mas também o mundo que se lixe, é injusto e blá blá buah…. Não crêem na sociedade, que por si própria cria a injustiça. Não crêem no governo nem nas políticas, porque sabem que continua a ser parte da mesma merda. Não crêem nos outros, porque são uns egoístas e apenas vêem o que lhes interessa. Mas – e agora-algo-verdadeiramente-diferente – também não acreditam em si próprios.

E é assim que estes seres, a que chamamos de intimamente descrentes, vêem o mundo como o espaço e palco para escorregar, ouvindo de fundo a gargalhada afiada. Têm a audição apurada para qualquer crítica, e as mãos prontas para pegar na inchada e cavar bem fundo em presença de qualquer elogio. Ou então para ficar de mãos a abanar, porque o elogio decerto não era para eles, e também há sempre a sorte pelo meio. Estes seres sofrem por antecipação o que nunca era para chegar, mas que fazem por ir buscar e arrastar até onde se encontram. Estes seres não se cansam de se destruir e enganar a si próprios, até que seja demasiado tarde para um resgate possível. Estes seres escondem-se dentro de si próprios e tentam esquecer que o mundo lá fora também é palco para as suas vitórias. Porque estes seres não vêem as vitórias – tudo é e continuará a ser imperfeito. Estes seres não têm salvação, porque se recusam a salvar-se a si mesmos.

E é por isso que nós, os permanentemente insatisfeitos, estamos condenados ao fracasso. E à solidão.

 
(13.12.2007 21:59)

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Bragança


“Quando decidimos a estrutura, decidimos a luz. Nos edifícios antigos as colunas eram uma expressão de luz, sem luz, luz, sem luz, luz, sem luz, percebe?” (Louis Kahn, 1901-1974)

Columba dançava.

Sobre as pedras negras e sujas da calçada, a luta não havia sido ainda consumida. Eram as asas estendidas a bater contra o chão, numa dança mole e desatinada – os últimos suspiros do vento no teu peito, quem sabe…
(Mole o teu corpo. Mole a tarde dourada, e o sol que escorria no horizonte. Moles as minhas entranhas a pensarem nas tuas, por certo atropeladas. Amolecidas.)

Não vi sangue nem tripas. Só o teu corpo amachucado num último arrastar. Num rodopio decrescente e finito. Pensei – Crua a luta em que sabemos já o fim, mas batemo-nos ainda desenfreadamente para morrer a tentar. Feroz o término não anunciado que espera nas esquinas mais douradas e nos voos mais livres. Bruta a mão alheia que manda mais que tu na tua própria vida. Como facas ao pescoço ou comida para servir quente, fria. Como as noites em branco das mães, e as manhãs pretas quando os filhos morrem primeiro. Quando a morte antecipa o tempo e apaga os voos.

Cruéis os finais sem Razão.

Mas devaneiam ainda as pombas sobre a calçada escura. Inconscientes da dança, correm o risco afinal. E quando caiem, cinzentas e esfaceladas, dançam até que a exaustão as consuma e as torne em pedras, negras e duras.
26Set07, 11Dez07

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Diz-me

Diz-me que tudo vai ficar bem. Que o mundo é como o imaginámos e tudo será certo quanto a chuva no Inverno e o sol no Verão.

Diz-me que o dia é para viver e a noite para sonhar, e que quando morremos a vida foi vivida e a noite sonhada.

Diz-me que é só da minha cabeça, e que estes bichos que me aparecem são pesadelos de menina assustada. Pesadelos sem tempo nem lugar – porque a noite é para sonhar e a vida para viver.

Diz-me que as coisas são simples, e que não há que pensar. E que quando escolhemos, escolhemos certo.

Diz-me que a paz chega quando somos livres, e que as angústias desaparecem quando fazemos o que sentimos. Quando sentimos o que fazemos.

Diz-me que o céu é azul e que apenas se encarniça ao final da tarde. Diz-me que morrerei de velha e que os filhos virão quando eu os quiser ter.

Diz-me que as coisas são como as queremos, e que aquilo que queremos é claro como um dia de sol, transparente como a água de um ribeiro.

Diz-me que quando crescemos, ainda vemos o mundo através dos olhos de um menino. E que mesmo que mintamos aos outros, nunca mentimos a nós próprios.

Diz-me que as dúvidas não existem – que são apenas bichos que inventamos. Porque a vida é simples e o caminho é só um.

Diz-me que não sou eu que escolho o caminho. Que temos um destino e não o pudemos mudar.

Diz-me que esse destino que me foi dado estava quebrado à partida. E que eu não o posso consertar.

Diz-me que a culpa é de Deus que nos espera na esquina. Ou do Diabo que se esconde por entre campos de Açucenas. Diz que não é nossa nem minha. Ou apenas que não é minha…

Diz-me que sou eu que tenho medo de tudo e de nada. Que sou eu que penso e invento. Que sou eu que complico, mas que afinal não é nada.

Diz-me o que quer que seja, mas sossega-me o espírito.

Pois se nada é certo neste mundo, como viver feliz sem ter a certeza de nada?

19.07.07; 30.09.07; 04.12.07

sexta-feira, novembro 30, 2007

Ordinários

Soube o outro dia que o Vasco Pulido Valente e o Miguel Sousa Tavares [não sei porque não lhes hei-de chamar pelos nomes] andavam a esbofetear-se em praça pública (com a devida classe e fundamentação, claro!, não esperava outra coisa...). Foi uma tremenda desilusão.
Mas erro meu, está visto. Porque, na minha desadaptada ingenuidade, pensei que estas pessoas – que têm o privilégio de poder influenciar as massas – conseguissem escapar às malhas da vulgaridade.

terça-feira, novembro 27, 2007

Caixas e cordéis.

Não sei exactamente o dia em que me enchi de compromissos e obrigações para com os outros, Não sei exactamente o dia em que me pisei e disse Cala a boca e faz o que te dizem, Não sei exactamente o dia em que deixei que a minha opinião fosse engolida pela dos outros no espaço público, Não sei exactamente quando me encerrei dentro de mim e atei cordelinhos aos braços e os dei ao Destino – aquele que os outros podem decidir.

Não sei. Não me lembro. Talvez esteja desde sempre a lutar contra mim.

Mas eu sei o ciclo. É fácil e acessível. Apenas não é modificável. Começa por eu saber o que me faz feliz. Ok, é difícil e arriscado. Hipótese B: o que é que eu devo fazer? Aparecem as Boas Oportunidades. Não me enchem o peito de vontade-e-algo-mais-forte-que-esta-vida, mas são boas oportunidades e eu não as posso perder. Pressão pressão. Decidir. Ui! Arriscar Vs. Derrubar os pinos do caminho. Decidir decidir… ai… Nestas ocasiões é sempre mais fácil Fazer O Que Devo [as missivas aparecem em letra maiúscula na minha mente], que por acaso é igual à Hipótese B: “derrubar os pinos” – o que é bem mais fácil e não implica grande esforço. De mais a mais, A vontade não é mais importante que o dever (Até porque é a contrariar o Dever que eu ganho os remordimientos!). Derrubar os pinos então. Daqui a uns anitos estou despachada e posso já seguir a vontade. Certo?...

Que raça de momento aquele em que deixamos que o medo de perder supere o receio de arriscar… O teu amigo largou tudo e partiu à conquista do Mundo. E eu penso Quando terei eu coragem de ser livre?

Não sei. Sei que a Susana me deu uma caixinha para meter os sonhos, e por enquanto é por lá que eles vão ficar…

24Maio07, 27Nov07

Esclarecimento.

Gostava que a Maria Figueira (vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental) esclarecesse exactamente o que quer dizer quando diz que “há poucos psicólogos clínicos no País” (entrevista ao Destak, xx de Novembro de 2007).

segunda-feira, novembro 19, 2007

Manifesto.

As mulheres que gostam de olhar escancaradamente para as vidas dos outros, gosto de olhar escancaradamente para as figuras que fazem.

15 Nov 07

Ocasos

À hora a que vejo descer este sol iluminado, tenho por certo que quando se voltar a erguer alguém irá perder o autocarro para o trabalho, a carteira de cheques, ou a vida. Que alguém será atropelado num acaso, vitimado na estrada depois de uma manhã terna, desfigurado num acidente de trabalho.
Tenho por certo que uma criança perderá os pais, e que uns pais verão o seu filho morrer. Que muitas vidas se apagarão.
E tenho também certa a angústia de saber que, no entanto, nada posso fazer para que o sol não cruze o horizonte.

16 e 18 Nov 07

Momentos (II)

Agora substituíram o velho e literal caixote do lixo por um verdadeiro balde para lixo, com forma de cilindro branco e perfeito, e uma tampa que diz “papel aquí”. Papel aquí uma ova! E a saqueta de chá?! Mania de disfarçarem as coisas…

21 Nov 2007

Momentos (I)

Adoro o momento em que a saqueta de chá cai vertiginosamente no seio do lixo enorme, e esmaga alguma das porcarias que por lá se encontram.

15 Nov 07

A questão por detrás.

¿Por que insistes en decir esas verdades?

terça-feira, novembro 13, 2007

Psiquiatria Mulheres.

        
Elas gritam
Choram
Correm desgrenhadas,
E arranham a terra com as unhas compridas dos pés.

Elas sentam-se calmamente
Enquanto a loucura as consome.

Elas puxam os cabelos,
Arrastam o corpo pelo soalho dorido
E espezinham esse chão que se cansa de as ver passar.

Elas ferem por vaidade
E matam por orgulho ferido.

Elas agarram os filhos ao peito
E os homens ao corpo.

Elas amam desesperadamente
E morrem sem serem verdadeiramente
Amadas.

Elas queixam-se por viverem únicas.
Choram por viverem sós.
E bradam essa vida perdida.

They are women. They are crazy.

Does that make them sick?

                 

segunda-feira, outubro 29, 2007

Onde Judas deixou as botas.

Mas afinal… não encontraram as botas ou não encontraram Judas?

(já me veio à cabeça mais que uma vez esta questão, à qual é fulcral dar resposta para depois não ficarmos na dúvida cada vez que vemos a não-referida publicidade)

Vender maçãs

Eu: Tem maçã reineta?
Ela: Não… Mas olhe que se é por causa dos diabetes qualquer maçã dá!
(note-se a forma simples como ela contornou a questão de não ter reinetas... Eu tentei notar nessa forma simples, mas também não consegui. Fiquei logo esmagada por aquela desconcertante capacidade de adivinhação...)
Eu: Mas eu prefiro maçã reineta…
Ela: Mas também tenho bravo esmolfe, não quer?
(note-se o perfeito ignorar dos termos "Eu prefiro".)
Eu: Não, obrigado. É que para assar é melhor a reineta.
Ela: Ah, então…
(note-se como a minha sugestão culinária a deixou então sem argumentos...)

(Porque é que não podemos simplesmente comprar maçãs?)

segunda-feira, outubro 15, 2007

Punhos cerrados

Não sou perfeita não. Ou pelo menos não faço sempre como gostaria de fazer. Se damos um passo em falso, um passo a mais, erramos. E depois? Somos humanos, #$§&@#! O problema surge quando esse passo é dado diante de um abismo…

Há coisas no passado que nos perseguem… coisas que fizemos e que não poderemos nunca mudar. Coisas que nos acorrentam e angustiam… e consomem… Porque as fizemos. Porque não as deixámos de fazer.

Por isso controlem-se, expludam para dentro, morram de contenção, enlouqueçam. Mas não exteriorizem. Afinal, porque deixar os outros ver-nos na merda, a perder o balanço, desvairados?

“Sou rei das palavras que guardo comigo, e escravo daquelas que deixo escapar”. Acima de tudo, encerrem nos vossos punhos os murros enlouquecidos. Decerto viverão muito melhor e parecerão aos outros muito mais felizes. Perfeitos, talvez.

:/

(Pois não é nesta aparente aparência que se baseia a mórbida inveja alheia... de quem não se dá ao trabalho de conhecer o que ficou encerrado?)

segunda-feira, outubro 01, 2007

Instruções para curar uma Depressão.

Ler um livro de Julio Cortázar.

Instruções para ler um Livro de Julio Cortázar.

Entrar num café repleto de gente, num desses Largos da Baixa de qualquer Cidade. Sentar-se numa mesa estrategicamente colocada onde possamos estar no centro das vias de comunicação. Deixar-se impregnar profundamente de todos os pedidos e de todo o barulho que nos cerca. Depois de alguns instantes sem destrinçar frases perfeitas, ouvir atenciosamente cada nota do barulho ou cada anotar do empregado.
Abrir o Livro e pousá-lo no rebordo da mesa mais perto de nós. Segurar com uma mão ambas as páginas que, por forças desconhecidas da Natureza, tentam encerrar só consigo as palavras mágicas. Prestar atenção a todo o barulho em volta e no quão difícil seria fazer uma leitura descansada, se porventura nos apetecesse ler um livro no meio de um café da Baixa.
Então, desligar de tudo o resto, pois a História falará por si: “Há anos que trabalho na Unesco (…) e ainda conservo (…) uma notável capacidade de abstracção.”

VER & LER Júlio Cortázar (1973). Histórias de famas e de cronópios. Editorial Estampa.

O Ciclo Mediático (I)

Santana Lopes abandona entrevista em primeira-mão. Sobejam já os vídeos na Internet, os comentários nos jornais, as fotos na primeira página. As palavras de Santana Lopes recusaram-se a serem interrompidas pela Notícia-Especial-e-em-Directo de que um treinador de futebol acabara de chegar ao aeroporto de Lisboa.
Pensei eu que realmente é preciso ter tomates para decidir reclamar em directo. Sim senhor, Pedro Santana Lopes. Continue assim. Já toda a gente o conhece. Pode ser que agora passem a admirá-lo por simplesmente decidir não ser hipócrita.

A manchete correu o país. Ainda não sei de opiniões mas calculo que nos próximos dias tenhamos notícias dos partidários e os vejamos defender a sua ideia num apaixonado Prós e Contras. Mais, tenho por certo que, após o primeiro choque atarantado dos nossos agentes informativos, uma outra entrevista terá sido imediatamente interrompida para noticiar Em-Directo-Especialíssimo que o Sr. Santana decidiu interromper a entrevista.

O Ciclo Mediático (II) ou A Outra Entrevista Voluntária e Inesperadamente Interrompida

Notícia-Especial-e-em-Directo:
José Mourinho recusa-se a continuar entrevista à porta de sua casa após a inesperada interrupção para noticiar Em-Directo-Especialíssimo que o Sr. Pedro Santana Lopes decidiu interromper a entrevista.

Alpha beta Dog's death

Eu sonhei que o meu irmão amigo me abria a porta e que, como tudo o que de rompante dá voltas à nossa vida, eu era raptado pelos amigos dele. Tinha 15 anos – o corpo nos plenos sentidos. Foram os melhores dias da minha vida. Vivi tudo intensamente. Conheci miúdas, fumei erva, bebi a goles.
Experimentei tudo o que há para ver, fazer e sentir. Só não me lembro de ter acordado.

P.s.: Fiesta!, até morrer.
06.09.2007


A verdadeira decadência humana

Não sei se hei-de começar pelas provas que nunca são exactas, se pelas lágrimas dos arguidos ou pelas crenças do povinho.

Não sei se hei-de invocar uma Joana sorridente e estraçalhada, se uma Maddie desaparecida por culpados a decapitar…

Nem sei se a minha intuição vale de algo, ou se é apenas uma esperança de que este mundo não seja a merda que tenho medo que seja.
Não sei se me assuste com o que as pessoas fazem, se com o que elas julgam ser possível fazer.
Não sei se ainda há escrúpulos neste mundo, ou se decisões mais simples a tomar.
Não sei se há muitos Johnnies Truelove por aí, ou se eu sou apenas o puto de 15 anos que nem fugiu dos carrascos e acreditou que as mordaças eram postas por quem não lhe faria “nunca nunca nunca” mal algum…

Talvez o destino um dia me leve para um beco e me rasgue como papel cor-de rosa.
Talvez eu pense que as manchas encarniçadas são apenas beijinhos estonteantes, já que a minha cabeça está tonta…
…e o carrasco impiedoso. - Talvez me aperceba tarde de mais. Mas pergunto-me se o destino demoraria mais tempo a chegar se eu começasse a acreditar que este mundo não tem salvação?

Setembro 2007

quarta-feira, setembro 19, 2007

Recomeço após as férias.

Palpita-me nos dedos o coração das teclas.
Sinto falta das letras em formato informático, pensamentos pixelizados. Olhos do Mundo.

Talvez a minha vontade esteja para regressar, com o tempo que me escapa pelos dedos palpitantes.

Talvez. Talvez o desânimo com a vida também esteja pronto para ser escrito.

terça-feira, maio 22, 2007

Café e ginjas

Não sei se o café é uma droga mas deve ser pois sempre que o tomo o mundo parece mais eléctrico e rápido. Mas também deve ser de mim, que o vejo mais eléctrico e rápido.

Não sei se a minha vida é um café que vejo numa chávena lá o fundo e parece bem negra, mas não deve ser porque esse oiro negro sabe a ginjas amargas e sabe bem. Se calhar é isso, eu é que gosto das coisas amargas – como o chocolate preto – e se não são amargas eu torno-as amargas só para ter esse sabor, amargo. Quem sabe se já não me habituei ao sabor – amargo – das coisas e agora quando o sol brilha e as tuas palavras são doces até já custa. Como os elogios que recebo e dos quais me desvio, só porque não sei como recebê-los sem caírem mal encima de mim.
E é tão bom recebermos um elogio. Até o sangue corre mais rápido e brinca nas veias e artérias, e quer vir ao de cima ver essa pessoa, aquela que disse o que disse e que nos fez cambalear e pôs o sangue a saltar. E como tudo quer ver, ficamos rosadinhos de tanto sangue que quer espreitar.

Não sei se estas palavras são mesmo a minha vida ou o que sinto, ou o que não sinto. Não sei. Mas devem aparecer aqui encima porque o café estava bem negro e amargo, e caiu-me que nem ginjas no estômago - como um elogio que cambaleia na minha cabeça - e pôs o sangue a brincar.

15:03 22.05.2007

sexta-feira, maio 04, 2007

Contra-corrente

Eu sei que temos a escolha entre largar o rabinho no meio do chão... ou erguermo-nos de peito contra o destino.

Mas...
E se às vezes precisarmos mesmo de nos deixar cair no fundo do poço... para nos fartarmos de tanta escuridão?
E se às vezes precisarmos mesmo de fazer da vida uma catástrofe... para ver o quanto tudo é relativo, e nada o que parece?

Às vezes (muitas vezes...), apetece-me ficar só só comigo. E cansar-me dessa solidão.

16:19 04.05.2007

terça-feira, abril 10, 2007

Oh Glória, O que é que tu achas do Céu?


O outro dia a minha mãe disse-me Eu gosto muito de vocês, mas quando a morte estiver perto sei que me vou sentir muito indecisa… – por um lado estarão vocês, mas do outro está o meu pai e os meus tios, de quem tenho tantas saudades...

Que Fé é essa que levas contigo e que não te deixa desesperar mesmo nos tempos mais carrascos? Que esperança é essa que carregas no Peito e que não te deixa recear o Fim de tudo?
Às vezes penso que a Esperança de que um Pai-maior-que-tudo existe é simplesmente perfeita para o nosso medo primitivo de solidão. Este Pai acompanha-nos mesmo nas horas mais escuras, nas dores mais pesadas, nas lágrimas mais fundas. Este Pai promete-nos um Céu para as nossas boas acções, faz com que a nossa vida tenha um sentido, e que a nossa existência não acabe num simples último suspiro. Este Pai promete-nos a Eternidade. E uma recompensa para os sofrimentos que aqui, neste mundo real, passamos.

Às vezes penso quão perfeito é acreditar Nele durante a vida e que apenas a carne se extingue no momento da Morte. Pois, se quando morrermos a Terra for só terra e o nosso Corpo e Alma somente pó, que memória consumida estará lá para nos revelar que o resto não existe?

          

quinta-feira, abril 05, 2007

São homens, meu Senhor, são homens...


     

(...) Hoje para eles sou Rei. Amanhã o que serei?

Aquele que Ressuscitou na Mente daqueles que nele acreditaram.


             

quinta-feira, março 22, 2007

Meninos de Sangue

Habituation has usually meant diminutions of normal neural responses, for example, decreases of sensation such as pain” (Mazess, 1975) usually as a result of “repetition of a stimulus” (In Wikipedia, 21 de Março 2007).

Ontem a minha irmã deixou-me sobre a colcha um pequeno recorte de jornal. “Um rapaz de 8 anos matou um menino de 3 no Pará, Brasil. O rapaz atraiu o colega para um descampado, deu-lhe uma pancada mortal na cabeça, violou-o e decapitou-o. O rapaz foi apanhado com a faca de crime na mão e confessou tudo, com uma frieza que chocou as autoridades.” (In Metro, 20 de Março, 2007).

E sabem o que mais me chocou ao ler esta notícia? [Num mundo onde vivemos todos os dias com violência e programas de treino em jogos de vídeo,] simplesmente, não me chocou…

21&22Março2007 - 10 e picos (ou 10 e facas? :/)

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Afinal, quem é que ganhou?

Custou-me
como a quem custa engolir em aperto,
vestir roupa que não serve,
ou mesmo ter que dizer Não.

Custou-me
Aquela cruz
como um X e um alvo,
como uma marca qualquer.

Custou-me
Aquela resposta insípida,
aquele movimento bruto
como quem deixa de ser menina
- como quem cresce e se apercebe
que a vida não pode ser sonhada,
e que boas intenções não bastam alheias, quanto mais somente intenções

Custou-me
- como angústia cá dentro -
Esta liberdade
E este direito.
(Irónico, não?)
Custou-me decidir por cima do que é certo
(- o que é que é certo? -)
Só para que ela pudesse escolher.
Custou-me.
Porque és tu que sais morto,
E sem ninguém para culpar
(isto das culpas…)

Quem te vai defender
A ti a ao teu sorriso de Menino,
Gaiato perdido?
Quem te vai defender
quando a tua vida estiver por um fio
Por um Sim
Ou por outra vida?

Ninguém.
Como o Outro que voltou
E já não era.
Ou o Outro que era
E deixou de ser....
(E tu? Eras, ou nunca foste?)

Custou-me.
Mas a isto chama-se liberdade
- a minha e a d’ela.
A tua
fica por acontecer.

Custou-me a mim a decisão.
E a ti,
Custou a Vida.

11.02.2007 18:18 23:27

terça-feira, janeiro 30, 2007

Nós Desconhecidos

Sou daquelas que acredita que se nos lembrássemos dos primeiros momentos da nossa vinda ao mundo, andávamos para aí ainda meio esgrouviados, só com o choque da primeira vez… Não que tivéssemos consciência das coisas, mas elas podiam marcar-nos cá dentro, sem que disso déssemos conta. ( - e então nunca mais quiséssemos enfiar a cabeça numa coisa daquelas!...).
Digo que se tivéssemos estruturas na altura com capacidade para reter aqueles momentos… o que seria de nós hoje! ;)

É fantástico talvez pensar que tanto do que vemos – ou vimos –, apesar de não lembrarmos, continua lá. E que pode em tanto influenciar o que somos e o que fazemos.
Não quero ser linear, nem dizer que somos determinados pelo meio. Não. O meio é construído por nós. A única coisas que distingo aqui é que essa construção pode ser tanto explícita e consciente, como implícita e inconsciente. Porque também temos um Eu que desconhecemos e que afinal até explica – mesmo sem sabermos direito… – porque reagimos assim daquela tal vez, ou porque chorámos naquela palavra, ou porque…
Dizem (queria dar uma referência, mas não fui exaustiva…) que a redundância é que dá sentido às coisas, e que a aprendizagem se faz sobre a repetição. Mas o mundo é tão vasto e é tanta a informação que nos persegue, que nem sempre conseguimos ter mão em tudo. E é então que entram em marcha os outros bichinhos… aqueles a quem nem pedimos ajuda, mas que nos guardam o guarda-chuva quando nem nos lembramos que o deixámos para trás.

A única coisa no meio disto… é que o que tem de bom, também pode ter de mau… e às vezes quem dá a chapada na amiga não foi o Eu que perdoou, mas aquele que guardou as coisas…

30.01.2007 15:40

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Ela canta, pobre ceifeira

Estou farta de me queixar!

E se eu simplesmente não pensasse?

Um conselho? (para mim ou para ti?)
“Go confidently in the direction of your dreams. Live the life you have imagined.” (Henry David Thoreau)

E é não pensar mais nisso.

12:53 11.01.2007

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Mudanças

Como tudo na vida, o que custa é mudar. Depois é deixar ir no embalo.

E como Ano Novo, Vida Nova, talvez seja tempo de eu mudar também. Pelo menos a forma como olho para as coisas, ou a forma como olho para a forma como olho as coisas... ;)

Pelo menos, também mudar um pouco o formato do Blog... estou a pensar torná-lo mais... mais... mais... instrutivo??? Vamos a ver, vamos a ver! (como diz o meu primito David ;)* )

Bom Ano! :)

Febre

[O outro dia descobri um texto que lá tinha no meio da minha desarrumação... e lembrei-me como adorava aquela febre...]

Lembro-me do escuro à volta, e das fórmulas na frente, como se tudo fosse fácil e tivesse um só caminho. Ou muitos, mas definidos nos números finitos da matemática – até o infinito se encerra sobre si.
Lembro-me da cabeça a arder em febre e do teste no dia seguinte. E, ali, parecia que era só eu e aquele livro e aquela luz.
Quando tudo parecia fácil. Quando tudo era fácil e as coisas a aprender termináveis.

Não sei porquê, estudar com febre foi sempre um acaso favorito. Talvez porque aí o mundo parecesse tão circunscrito, e a vontade – de fazer outra coisa qualquer – pesada e distante. Então, enrolada sobre mim naquele sofá, eram equações e rectas e funções. E o mundo das pessoas consumia-se no calor da febre, no escuro da sala para além da luz.

Depois, a minha mãe chamava para jantar, e era pescada cozida com batata cenoura couve e azeite, e a luz branca daquela cozinha despertava para o lar que conhecia.

Agora já não há febre nem ardor. Só cansaço. Já não há peixe na cozinha à espera, nem a brancura de um lar onde somos crianças e tudo parece perfeito.

Há a distância de 35 minutos curtos e infindáveis para uma terra que nunca acolhi. E a distância que cresce nessa linha de ferro, nesses montes intermináveis e indiferentes.
Mamã, onde estás tu Mamã?... Quando te afasto e resmungo, somente porque me acometi à impaciência. Somente porque te adoro e não sei mostrar…

Queima-me esta febre, este egocentrismo, e esta desistência.
Queima-se o passado que não volta, mesmo quando agora a febre aparece...
pois já só é para consumir mais um pedaço de mim.

17:41 19:55
22 Outubro 2006