Não sei se o café é uma droga mas deve ser pois sempre que o tomo o mundo parece mais eléctrico e rápido. Mas também deve ser de mim, que o vejo mais eléctrico e rápido.
Não sei se a minha vida é um café que vejo numa chávena lá o fundo e parece bem negra, mas não deve ser porque esse oiro negro sabe a ginjas amargas e sabe bem. Se calhar é isso, eu é que gosto das coisas amargas – como o chocolate preto – e se não são amargas eu torno-as amargas só para ter esse sabor, amargo. Quem sabe se já não me habituei ao sabor – amargo – das coisas e agora quando o sol brilha e as tuas palavras são doces até já custa. Como os elogios que recebo e dos quais me desvio, só porque não sei como recebê-los sem caírem mal encima de mim.
E é tão bom recebermos um elogio. Até o sangue corre mais rápido e brinca nas veias e artérias, e quer vir ao de cima ver essa pessoa, aquela que disse o que disse e que nos fez cambalear e pôs o sangue a saltar. E como tudo quer ver, ficamos rosadinhos de tanto sangue que quer espreitar.
Não sei se estas palavras são mesmo a minha vida ou o que sinto, ou o que não sinto. Não sei. Mas devem aparecer aqui encima porque o café estava bem negro e amargo, e caiu-me que nem ginjas no estômago - como um elogio que cambaleia na minha cabeça - e pôs o sangue a brincar.
15:03 22.05.2007
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