[O outro dia descobri um texto que lá tinha no meio da minha desarrumação... e lembrei-me como adorava aquela febre...]
Lembro-me do escuro à volta, e das fórmulas na frente, como se tudo fosse fácil e tivesse um só caminho. Ou muitos, mas definidos nos números finitos da matemática – até o infinito se encerra sobre si.
Lembro-me da cabeça a arder em febre e do teste no dia seguinte. E, ali, parecia que era só eu e aquele livro e aquela luz.
Quando tudo parecia fácil. Quando tudo era fácil e as coisas a aprender termináveis.
Não sei porquê, estudar com febre foi sempre um acaso favorito. Talvez porque aí o mundo parecesse tão circunscrito, e a vontade – de fazer outra coisa qualquer – pesada e distante. Então, enrolada sobre mim naquele sofá, eram equações e rectas e funções. E o mundo das pessoas consumia-se no calor da febre, no escuro da sala para além da luz.
Depois, a minha mãe chamava para jantar, e era pescada cozida com batata cenoura couve e azeite, e a luz branca daquela cozinha despertava para o lar que conhecia.
Agora já não há febre nem ardor. Só cansaço. Já não há peixe na cozinha à espera, nem a brancura de um lar onde somos crianças e tudo parece perfeito.
Há a distância de 35 minutos curtos e infindáveis para uma terra que nunca acolhi. E a distância que cresce nessa linha de ferro, nesses montes intermináveis e indiferentes.
Mamã, onde estás tu Mamã?... Quando te afasto e resmungo, somente porque me acometi à impaciência. Somente porque te adoro e não sei mostrar…
Queima-me esta febre, este egocentrismo, e esta desistência.
Queima-se o passado que não volta, mesmo quando agora a febre aparece...
pois já só é para consumir mais um pedaço de mim.
17:41 19:55
22 Outubro 2006
Sem comentários:
Enviar um comentário