"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
sabes uma coisa da vida? não podemos mudar os outros. nem aquilo que eles esperam de nós. são livres. eles. e nós também. mas numa liberdade limitada. porque nem nós podemos fazer tudo o que queremos, nem eles podem. e aí está a nossa safa. viver com. 'aprender' a viver com. e, 'quando' não se pode mudar tudo, 'porque' não se pode mudar tudo, essa é a maior liberdade.
"(...) Apresentemos a família Fialho. Márcia é interpretada por Rita Blanco. O retrato pintado pela própria: “Prática. Não sofre dos medos urbanos, de insegurança. Está ali para tratar dos filhos que teve. É discreta. Não tem nenhum acto heróico. Mas sabe muito bem quando actuar. Não é amarga porque as pessoas que têm capacidade para dar dificilmente caem na amargura. Sofrem, mas não amargam. Viver com amor é muito compensador.” Márcia é uma mulher que diz à filha, como se fosse tudo a mesma conversa: “Também tens que ir à tua vida, assim é que está certo…. Não sei que sopa é que hei-de fazer amanhã.”
Cláudia Filipa, nome de uma balada de subúrbio, é a filha com quem a mãe tem uma relação de profunda intimidade. Dormem na mesma cama. “Elas fazem aquilo que os psicólogos dizem que não se deve fazer. A mãe é a melhor amiga dela. O ídolo, a confidente. Ela não quer ser como a mãe. Quer ter mais dinheiro, mais oportunidades. Quer ter uma vida burguesa. Mas sabe que a mãe sofreu muito para a ter, sem a presença de um homem. Se tivesse havido um pai…”, define Cleia Almeida.
O pai que ela nunca conheceu. Que reencontra no início da idade adulta. Sem saber que é o pai. Como nos melodramas. Como na tragédia grega; embora este filme de Canijo não tenha a estrutura de uma tragédia grega, nem se aproxime de personagens de Eurípedes. Apesar dos temas, do incesto, da vingança.
O nó do problema é o pai. “Porque é que eles se apaixonaram? Ela não é mais bonita ou mais inteligente do que qualquer outra aluna… Partimos daquilo a que podíamos chamar a força do sangue. A atracção física é inexplicável.”
A relação incestuosa que Cláudia mantém com o pai é o excurso usado por João Canijo para falar do amor incondicional da mãe pela filha. Márcia, uma personagem “muito leve apesar do peso da vida que tem”, diz a actriz, descobre que o homem por quem a filha está apaixonada é o último dos homens. E uma noite, em desespero, vai ao seu encontro. Enquadra-os uma luz bruxuleante, um silêncio que o bairro Padre Cruz não conhece. Márcia profere a sentença: a relação que aquele homem, que um dia ela conheceu intimamente, mantém com a filha é impossível.
Mas à filha, a mãe omite a razão da impossibilidade. “Quando ela descobre que a filha anda enrolada com o pai, porque é que não conta? Demorei 15 dias a perceber isto. Um gajo não chega lá”, diz o realizador. Mas uma gaja, Rita Blanco, aquela mãe que ama incondicionalmente, Márcia, chega. Porque só existe o que os nossos olhos vêem. Para Rita, a resposta é muito clara. “Se ela nunca souber, não há incesto. Apaixonou-se por um homem, correu mal, adeus. E não foi uma tragédia”. A tragédia é a de saber. “Assim ela pôde sobreviver. A outra dor, a mãe temia que a destruísse como mulher. Que destruísse as possibilidades que ela ainda tinha de ser feliz”. (...)"
4 comentários:
sabes uma coisa da vida? não podemos mudar os outros. nem aquilo que eles esperam de nós. são livres. eles. e nós também. mas numa liberdade limitada. porque nem nós podemos fazer tudo o que queremos, nem eles podem. e aí está a nossa safa. viver com. 'aprender' a viver com. e, 'quando' não se pode mudar tudo, 'porque' não se pode mudar tudo, essa é a maior liberdade.
:*
"O que pesa mais: um quilo de chumbo ou um quilo de algodão?"
http://31.media.tumblr.com/6c2690f8fca7876e6a6efe59802892f8/tumblr_mx4xsmeAM41sjh130o1_500.gif
"leve como uma pena"
VIDEO: https://youtu.be/schB2Yadv_0?t=2m47s <- Jeanne d'Arc/Joan of Arc (George Méliès, 1900)
http://www.acinemahistory.com/2013/06/jeanne-darc-1900.html
https://imdb.com/title/tt0132251/
"(...) Apresentemos a família Fialho. Márcia é interpretada por Rita Blanco. O retrato pintado pela própria: “Prática. Não sofre dos medos urbanos, de insegurança. Está ali para tratar dos filhos que teve. É discreta. Não tem nenhum acto heróico. Mas sabe muito bem quando actuar. Não é amarga porque as pessoas que têm capacidade para dar dificilmente caem na amargura. Sofrem, mas não amargam. Viver com amor é muito compensador.” Márcia é uma mulher que diz à filha, como se fosse tudo a mesma conversa: “Também tens que ir à tua vida, assim é que está certo…. Não sei que sopa é que hei-de fazer amanhã.”
Cláudia Filipa, nome de uma balada de subúrbio, é a filha com quem a mãe tem uma relação de profunda intimidade. Dormem na mesma cama. “Elas fazem aquilo que os psicólogos dizem que não se deve fazer. A mãe é a melhor amiga dela. O ídolo, a confidente. Ela não quer ser como a mãe. Quer ter mais dinheiro, mais oportunidades. Quer ter uma vida burguesa. Mas sabe que a mãe sofreu muito para a ter, sem a presença de um homem. Se tivesse havido um pai…”, define Cleia Almeida.
O pai que ela nunca conheceu. Que reencontra no início da idade adulta. Sem saber que é o pai. Como nos melodramas. Como na tragédia grega; embora este filme de Canijo não tenha a estrutura de uma tragédia grega, nem se aproxime de personagens de Eurípedes. Apesar dos temas, do incesto, da vingança.
O nó do problema é o pai. “Porque é que eles se apaixonaram? Ela não é mais bonita ou mais inteligente do que qualquer outra aluna… Partimos daquilo a que podíamos chamar a força do sangue. A atracção física é inexplicável.”
A relação incestuosa que Cláudia mantém com o pai é o excurso usado por João Canijo para falar do amor incondicional da mãe pela filha. Márcia, uma personagem “muito leve apesar do peso da vida que tem”, diz a actriz, descobre que o homem por quem a filha está apaixonada é o último dos homens. E uma noite, em desespero, vai ao seu encontro. Enquadra-os uma luz bruxuleante, um silêncio que o bairro Padre Cruz não conhece. Márcia profere a sentença: a relação que aquele homem, que um dia ela conheceu intimamente, mantém com a filha é impossível.
Mas à filha, a mãe omite a razão da impossibilidade. “Quando ela descobre que a filha anda enrolada com o pai, porque é que não conta? Demorei 15 dias a perceber isto. Um gajo não chega lá”, diz o realizador. Mas uma gaja, Rita Blanco, aquela mãe que ama incondicionalmente, Márcia, chega. Porque só existe o que os nossos olhos vêem. Para Rita, a resposta é muito clara. “Se ela nunca souber, não há incesto. Apaixonou-se por um homem, correu mal, adeus. E não foi uma tragédia”. A tragédia é a de saber. “Assim ela pôde sobreviver. A outra dor, a mãe temia que a destruísse como mulher. Que destruísse as possibilidades que ela ainda tinha de ser feliz”. (...)"
TEXTO INTEGRAL: http://anabelamotaribeiro.pt/33418.html
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