sexta-feira, novembro 26, 2010

greve (II)


strike, é a palavra inglesa para greve. e para luta.

na passada quarta-feira os trabalhadores (não) saíram para a rua. homens e mulheres apostaram na ausência para se manifestarem. e de que vale isto, pergunto?

tenho uma bolsa de estudo, não tenho futuro garantido, não acredito naqueles que me governam, não sei governar um país. quero um emprego, quero um futuro como o sonhei, quero acreditar nos soberanos. só não quero governar o país.
tenho dinheiro para comer, para comprar roupa, para viajar. tenho uma casa. mas depois há os outros, os que não sabem se haverá dinheiro ao fim do mês; os que têm os filhos e não sabem se lhes poderão continuar a pagar os estudos. quem sabe a comida. e o quente da casa.
pedem-me dinheiro na rua, é para ajudar, senhora. ajudar os outros. ajudemo-nos uns aos outros, nós o Governo, o Governo a nós. mas olho as pessoas nos olhos e não sei se me querem o dinheiro porque têm fome, se me dizem a verdade, se o querem para sonhar acordados nos 5 minutos em que a veia ferve. ou se é para andarem de um lado para o outro em classe exclusiva a apertar a mão a negócios opacos. quer o Governo ajuda? não sei se quer. e o povo, quer o quê?
eu estudo-trbalho. só não sei é o que sou. nem para onde vou. mas, hoje, também não sei se alguém sabe.
é para investir na Educação? quer-se o povo letrado? para quê, para pensar? pensar que os brindes que lhe dão têm um preço?, que o que nos dão nos será tirado de outra forma?, que o que nós não damos também não retorna?, que os impostos são para ser pagos? eu não pago impostos. mas também não tenho futuro. e tu que pagas impostos, tens? Não sei se querem investir na Educação.

não investem na Educação. e a torneira fica aberta, a luz fica acesa, mas(!) vem o plasma cá para casa. só não há é comida na mesa.
há dinheiro para o TGV, há dinheiro para as classes conforto, só não há para o Metro da Lousã. há dinheiro pra as empresas que estudam o Metro da Lousã, para tirar as linhas féreas e colocar autocarros. há dinheiro para os satélites humanos que gravitam em torno do Metro-Sol. só não há é para acabar o raio do Metro.
há dinheiro para pagar a quem opina, só não há é quem entre num autocarro e gravite nas curvas da serra, com o estômago a gravitar também. não há quem nos calce os sapatos. os meus até eram capazes de servir, mas há quem os tenha apertados para a magreza que tem.
e há dinheiro para os blindados dos senhores importantes. só não há para os salários dos trabalhadores. não há futuro. certo, se calhar nem incerto. não há.

mas quando é que a vida foi certa? ou fácil? quando é que tivemos o futuro garantido?
quando é que estivemos nós satisfeitos?!

luta, luta, todos os dias caramba. basta
tudo isto, basta.

(sei lá como lutar.)


4 comentários:

Jamil P. disse...

que bonito esse texto.

menina de porcelana disse...

às aranhas, estimado jamil. porque é exactamente assim que me sinto.

Jamil P. disse...

quando eu crescer, quero escrever como você, estimada menina de porcelana.

menina de porcelana disse...

mas, se tiver essa oportunidade, não cresça jamil. que é tão bom ser-se menino...

:)