(cont.)
encontro A que me conta docemente, vejo B a quem escapa o sorriso, foge-lhe na frente e vai de encontro a mim, ui!, pede-me desculpa, desculpado. devolvo o sorriso ao dono. passo por C que me é indiferente, e por D que admiro profundamente. nunca sei o que dizer de E. já para F tenho o maior copo do mundo.
mas vem G. oh, G. G prepara a palavra, retêm-na, embrulha-a e quando uma pessoa pensa que a palavra vem trabalhada, concluída, lança a pobre no alto, desprovida de sentido e de preparação, completamente desamparada. tento agarrá-la, mas escapa-se-me entre os dedos, e cai no chão sem cumprir a tarefa - permanecemos distantes, sem fio de ligação.
G... tenho para G um copo fino e semi-cheio. mas as suas palavras são tão pesadas, que o enchem rapidamente. mas oh. G não desiste. há nova actividade em G. G mastiga suavemente. G está a preparar um novo arremesso. e, ainda que o preveja, duvido sempre estar preparada para o aplacar. G prepara-se, mastiga e, zás!, cospe rapidamente a sopa de letras - VUM VUM VUM - as letrinhas inocentes enrolam-se pelo ar, esticam os membros tentando desesperadamente encontrar pontos de apoio. olho-as pelo ar, em câmara lenta, BA - DOM, BA - DOM, BA - DOM. as letrinhas, uma a uma, desconexadas, avançam no meu encalço - VIIM, VOOM, VAAM - e, paff, caiem direitinhas no copo prestes a extravazar.
mas a água retêm-se na borda, ufa, foi por pouco. porque a cabeça já estava quente.
(continua)
1 comentário:
"[...]
During the Soviet period, citizens were deprived of censored works but could read countless translations: Boris Pasternak’s “Hamlet,” Vasily Zhukovsky’s “Odyssey,” Nikolai Gnedich’s “Iliad.” Pushkin paid epigrammatic tribute to Gnedich:
Poet Gnedich, renderer of Homer the Blind,
Was himself one-eyed,
Likewise, his translation
Is only half like the original.
[...]"
FULL TEXT: http://www.newyorker.com/magazine/2005/11/07/the-translation-wars
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