Se, por um lado, vivemos numa sociedade demasiado egocêntrica, por outro, temos a mania de andar a lamber botas para subir de degrau. Mas pior que ter que as lamber, é suplicar para lhes passar a língua encima. Porque só assim, pensamos nós, o outro vai reparar que há qualquer coisa a fazer comichão lá em baixo. E só assim, pensamos in-cre-du-la-men-te nós, perante o desconforto da dádiva, iremos receber.
(Não sei, não me parece que isto seja tão claro visto de dentro, ou de baixo, do sítio onde se cheiram as botas, mas sinto o meu estômago (es)pasmado quando presencio este dar-com-ela-fisgada – torna-se indecente.
sim, indecente. este Please subtil. este Let me please you ardiloso.)
E o pior é que quem se oferece, ainda que tenha a consciência do desconforto que gera, da obrigação que provoca, não percebe o reverso da medalha. É que Ouvir peganhento o elogio – incómodo, A risadinha amarela – insuportável, A gargalhadinha fininha a rebentar – despropositada – e sentir Lambeeer, com aquela língua enrolada de trejeitos de um british accent, as botas já insuportavelmente lambidas por tantos outros, gera um desdém imperturbável por parte de quem se sente obrigado a gratificar. Porque o outro iça mas sem vontade – Oh você aí, ice lá este que já me chateia. Porque o outro compra sem gostar.
E acabamos por nós próprios definir como queremos subir os degraus – içados por uma corda podre. E acabamos por, nós próprios, nos colocar no lugar que merecemos – o lugar da fruta incipiente à espera da primeira oportunidade para ser deitada fora.
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