quarta-feira, setembro 03, 2008

Solidão (I)

Sorriu.
apertou-me a mão e disse
Está tudo bem.

senti-lhe o aperto do peito.
Está tudo bem.


[“(…) Dão-se os lábios, dão-se os braços dão-se os olhos, dão-se os dedos, bocetas de mil segredos dão-se em pasmados compassos; dão-se as noites, e dão-se os dias, dão-se aflitivas esmolas, abrem-se e dão-se as corollas breves das carnes macias; dão-se os nervos, dá-se a vida, dá-se o sangue gota a gota, como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto que no silêncio concreto, este oferecer-se de dentro num esgotamento completo, este ser-se sem disfarce, virgem de mal e de bem, este dar-se, este entregar-se, descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.”

António Gedeão, Poema do Homem Só, 27 Dezembro 1956, publicado em Teatro do Mundo, 1958.]

1 comentário:

também sobre cancro (BD) disse...

Cancer Vixen. Argumento e desenhos de Marisa Acocella Marchetto