segunda-feira, março 21, 2011

impressões a cor




com o devido respeito pela espécie e um pedido de desculpas aos anormais [leia-se, fora da norma], dá-me a impressão que, ainda que iluminados pela benesse da inteligência, aqui na terra não passamos de uns GRANDESSÍSSIMOS animais, tamanhas são as atrocidades.
aliás, tenho a dizer que aquilo a que se chama de inteligência, se de facto se aplica aos espécimes, só tende a piorar a coisa.

(inquieta-me. inquieta-me que a luz do sol por entre as nuvens, como se duma benção se tratasse, ilumine nada mais nada menos que estas cabeças. e ninguém me tira da minha que há uma conspiração à escala universal para exterminar a praga em que nos tornámos.)


7 comentários:

Jamil P. disse...

'aqui na terra não passamos de uns GRANDESSÍSSIMOS animais'

acho que essa frase acaba ofendendo os animais não-racionais, independentemente da inconsciência deles; acho que seria mais adequado referir-se a 'monstros', porque agimos contra a natureza (Cícero e Vírgilio, p.ex., usam 'monstro' nesse sendio, ou seja, de tudo que sai da natureza, que é extranho, coisa funesta, desventura, flagelo, desgraça, etc).

apesar de parecer cri-cri com a sua expressão, concordo com tudo :)

Jamil P. disse...

*nesse sentido

menina de porcelana disse...

estimado jamil,
demorou, mas chegou.

de facto, quando escrevi aquilo pensei que iria ofendê-los. no entanto, revistas as coisas, acabo a pensar que não se ofende ninguém. pelo contrário: chamam-se as coisas pelos nomes. e passo a explicar:

nós, humanos, e os restantes seres pertencentes ao denominado Reino

Anmal, somos animais. a nossa falta, se é que é falta, é ofendermo-nos

quando nos chamam de animais. somos animais. ponto. por alguma

razão metemos na cabeça que somos mais que isso. mas, cada vez mais,

me convenço do contrário.
Insistimos na diferença através dessa categorização racionais /

não-racionais, mas tenho algumas dúvidas. e daqui advêm dois pontos não necessariamente separáveis:

1) somos racionais. temos a capacidade de perceber as consequências dos nosso actos e de os julgar moralmente. de saber o que é o correcto e o errado.
temos uma sociedade altamente organizada regida [supostamente] por princípios morais.
enviesamos o principio da sobrevivência no sentido em que somos

ensinados a dar aos outros, em vez de nos preocuparmos apenas

connosco.
somos inteligentes no sentido de pensarmos sobre o pensamento

(metacognição).
tudo bem.
(no entanto, não sabemos até que ponto exactamente vai a inteligência dos

outros animais. e não raras vezes damos connosco a contemplar elefantes

que pintam jarras com flores ou, indo um pouco mais longe, exemplos de

leoas que adoptam crias de antílope).
se assim é, é então lamentável que tendo essa inteligência, não façamos o melhor uso dela. porque não sobram exemplos de catástrofes naturais em que nos esquecemos dos princípios morais para passar à sobrevivência pura e dura. ou, não indo tão longe, aos exemplos de corrupçãozinha diária em que chegamos para nós e para os nossos a melhor fatia sabendo que isso não é o mais correcto.

2) não somos tão superiores quanto pensamos que somos. pensamos que operamos de forma muito diferente mas no fundo a sociedade é apenas uma mantinha em que nos aconchegamos e, no fundo, isto é apenas mais uma selva em que só sobrevivem os mais aptos (ou os mais espertos). e há muita forma de aptidão...

conclusão: chamar alguém de grandessíssimo animal é ainda o melhor que lhe podemos fazer. é assumir o que somos, que funcionamos por princípios de sobrevivência. e, a ver as coisas assim, esta coisa da moralidade é só mais uma forma de sobreviver: tendemos a proteger aqueles que mostram sinais de nos protegerem também, aqueles que nos querem bem. os justos, os honmnestos, os íntegros. porque sabemos que esses têm um comportamento mais coerente e prevísivel no que toca à prestação de ajuda. se nos pusermos só a pensar em nós estaremos, mais tarde ou mais cedo, a ser expulsos do grupo. e é isto o princípio de funcionamento em grupo: a cooperação, porque juntos seremos mais fortes.
e não há nada de contrário nisto tudo e eum se ser animal.

Jamil P. disse...

querida menina de porcelana,

gosto muito da forma como você expressa suas ideias e sentimentos; sempre; algo a que já me referi em outras ocasiões; desculpe-me reiterá-lo, mas não resisto: é-me um grande prazer lê-la;

e aqui não poderia ser diferente, diante da coerência com que reflete a realidade, captando-a com atenção e sensibilidade admiráveis; suas palavras sintetizam princípios fundamentais a ciências como a Antropologia, Sociologia, Psicologia, Filosofia, etc, e dão margem a discussões muito ricas e não menos interessantes; nesse seu último comentário, há assunto para tardes e mais tardes de primavera, em agradáveis colóquios regados a chá de jasmin, acompanhando torradas com geléia de framboesa... (ah, minha alma romântica e sonhadora já querendo fugir da contingência implacável que a limita!)

não sei bem o que dizer, posso apenas concordar com você, acenando com a cabeça, à maneira de quem faz um 'sim', e com um sorriso amigo?

um beijo grande

menina de porcelana disse...

que é a verdade, estimado jamil, sei lá eu... o que é isto tudo? não sei. e, sabendo, não sei se saberia lidar com ela.
acredito que o nosso cérebro não está preparado para lidar com a verdade das coisas.

o que lê aqui é um punhado de ideias dispersas que me correm na cabeça, e às quais eu tendo inevitavelmente dar um sentido. porque as coisas deveriam ter um sentido. para que tudo não fosse somente um absurdo.
mas nada aqui é certo, é sempre um "ir-a-meio-de-uma-discussão" que já começou em mim, ou mesmo antes, e percorre aqui o espaço branco, e continua com que quiser continuá-la. sinta-se à vontade para discordar. :)

porque vai aqui dentro uma luta, é o que lhe digo. e por isso lhe agradeço as suas palavras: transmitem paz a uma cabeça desassossegada...

Jamil P. disse...

fico feliz em saber que minhas palavras causam-lhe algum bem, pois gosto de você; nos últimos tempos tenho andado um tanto incrédulo em relação à palavra humana; eis uma das minhas maiores inquietações; você não está só na plateia desse teatro da crueldade e do absurdo em que se representa o mundo; mas juntos não acabaremos como o pobre artaud.

obrigado, querida menina de porcelana; desculpe não saber bem o que dizer; é que minha mente está um pouco cansada e também porque quando gosto muito de algo não sei como me expressar, atrapalho-me todo.

+/- 50 anos... disse...

+/-...