O mundo mudou, diz o Público. E o público assiste, tem a palavra, sabe: vê de fora, vê melhor.
E eu, mudei? Descobri que o us era usado pelos monarcas em old english para se referirem ao próprio, ao me.
(descobri mas digamos que as minhas descobertas são sempre reinvenções. lembro-me que uma vez descobri por fonte alheia que as rosas do deserto, aqueles aglomerados que se assemelham a rosas em pedra, eram xixi de camelo cristalizado. xixi? que giro! esse meu eu, mais tarde, foi informado que aquilo eram, apenas e afinal, rochas. e esse meu eu transformou-se, deu lugar a outro. rochas? hm. suspicious.)
Penso nisto. Que eu também sou muitas, e muitos. Que somos nós, aqui dentro, a lutar cada um pela sua existência. Numa luta desenfreada para sobreviver. Que este nós existe paralelamente, mas que também vai existindo, serialmente, numa linha de tempo.
(ultimamente, ando a descobrir muita gente cá dentro. volta e meia fazemos festas. outras, andamos à porrada. outras ainda, lá andamos sossegaditos, a viver aos goles enquanto os outros dormem. não sei se no final ficaremos todos, não devemos ficar. não ficamos não. há até alguns eu’s que já não vejo à muito. que não voltarei a ver talvez. que não verei mais. penso nisso, e sinto saudades.)
O r. diz que eu mudei, que já não sou a mesma. E di-lo com uma tristeza que me chega a doer. Ecoa em mim essa desilusão. Mudei?, mesmo?? Talvez. O Darwin dizia que os menos aptos num determinado contexto não sobrevivem para deixar herança. E num mundo em que vários coexistimos e queremos sobreviver, os mais ingénuos são sempre menos aptos.
(evitável isto? ou é somente a evolução natural das coisas?)
O mundo mudou, inevitavelmente. Mas visto de fora, ao longe, na abstracção dos pormenores, em média, continua tudo igual – uma lástima. Eu é que desisti de o mudar. Sim, é verdade, mudei.
8 comentários:
o darwin não andou com tanta teoria para agora chegarmos à condição de lástima.
fuck the progress, but not yet.
haja um pouco de ânimo, caramba!
é isso Fili! indigna-te! ;)
(a função última dos posts que seja provocar reacções.)
digamos que a minha evolução funciona por catástrofes. 8, 80. ânimo, não ânimo. ele existir existe, mas não era chegado o momento.
digamos que funciono por contrastes. escrevo isto. soa. passado uns dias, olho, leio. que depressivo!, que exagerado!, 'bora po ânimo, pá!
(reacções. nos outros, no próprio.)
;P
P.S.: sim, tens razão. não estamos na condição de lástima. há mesmo o muito bom, e o muito mau (como dantes houve o bom e o mau).
e, com o passar do tempo, haverá cada vez mais o muito_n+1 bom, e o muito_n-1 mau.
ou seja, em média, continuamos razoáveis.
chiça, que a miúda anda maluquinha de todo! :))))
Curioso, eu tenho a impressão que os meus "eus" continuam iguais ao que eram por altura da primeira classe.
chefe: não te deixes iludir! isso é uma manipulação de alguns dos eu's! pegam na câmara de vídeo, metem a rodar eternamente a parte em que não há intrusos na loja, e vão-nos mantendo na consciência a ideia que tudo continua como sempre foi!
mas não. pois, paralelamente, vão mudando tudo sem que nos apercebamos, roubando os rebuçados, e as coisinhas boas, roendo as coisinhas más deixando indícios leves de que existiram, actualizando os produtos nas prateleiras, e quando vamos a ver nem demos por ela. temos 60 anos e tudo continua igual.
:P
(não sei se essa tua percepção é sinal de boa ou má coisa. mas penso que o importante é que te sintas bem com ela. :) )
Se é bom ou mau ainda tou pra descobrir um dia destes, na pior das hipoteses sinto que sou constante.
Já agora, que raio de metafora hipermercadesca.
VIDEO: https://youtu.be/IHptcFmn6bg?list=PL0LQM0SAx602k7bUQNPAf1uEhc9pBNFHX&t=2m57s <- British Museum Archivist Francesca Hillier takes us deep into the archives and unearths records from over two and a half centuries of the Museum's history.
To find out more read Francesca's blog here: https://blog.britishmuseum.org/behind-the-scenes-in-the-museums-archives/
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