"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
sexta-feira, maio 30, 2008
Louca
quarta-feira, maio 28, 2008
segunda-feira, maio 19, 2008
(Bexiguinha e ) O legado do Dr. Mabuse
Quando ando sozinha pela Baixa
e o caminho se estende mais longo do que a minha coragem
Quando subo pelo caminho mais curto
e percorro as ruas estreitas e escuras
E não sei o que me espera
Quando vejo pessoas
E não sei quem são
O que me assusta
O que me faz tremer
O que faz bater o meu coração
Arfar os meus pulmões
Sentir o sangue engasgado no cérebro
E o torpor na mente
Não é que me tirem os valores
Os anéis
E levem a carteira
Não é que me queiram o dinheiro
O leitor de músicas
O casaco
Os brincos
Ou o relógio.
O que me arrepia e faz recear essas viagens
É que me queiram a mim.
(não é o dinheiro, nem o poder político, nem as férias nas Filipinas. Não são as malas Louis Vitton, nem os ténis da Nike, nem as calças da Levi’s. O que me assusta, e que este filme captou tão bem, é o prazer na destruição do homem, qualquer homem. Na destruição da vida, seja ela qual for. O gosto em ver uma existência contorcer-se em dor, na súplica, para então se esvair numa poça onde se perde.)
A blueberry called world. Another one called life.
Não tenho muito por onde pegar, nesta vida de todos os dias.
Por isso, às vezes, quando percorro o caminho para casa,
quando vejo novamente o que vi ontem e antes de ontem
quando já ando sem olhar
quando já olho sem ver,
também a mim me apetece dar a volta pelo caminho mais comprido,
pelo caminho diferente.
faz-me falta tudo o que não sei nem imagino
faz-me falta saber que tudo é estranho e diverso,
e que outros olham e vêem distinto o que eu olho também.
sinto falta de olhar eu também e ver estranho e distinto
E, depois de o ver,
sentir e querer e gostar de estar em casa.
(mas este medo que me prende.
esta preguiça que me arrasta.
esta rotina que me atraiçoa.)
Quero embrenhar-me no mundo
Quero ir,
e só então, cansada e descansada,
Voltar.
Quero ir, para então, enfim, bradar sedenta a esta terra:
-Casa, o quanto eu te ansiei.
(às vezes, muitas vezes, devíamos pegar no medo da mudança, içá-lo com jeito e cuidado, e arrumá-lo numa caixinha perfumada onde ele não se cansasse de estar.)
segunda-feira, maio 12, 2008
O Quadrado da Lógica.
Pessoas instáveis mudam quando o ambiente muda.
Logo, mudo frequentemente.
Meninos coitadinhos.
queixam-se a torto e a direito
a direito e a torto
para cima e para baixo
para a direita e para a esquerda
para a esquerda e para lado nenhum
que chega a cansar
vê-los queixarem-se tanto.
que o mundo é uma merda
(isso) já todos sabemos
mas os coitadinhos gostam de repetir.
as suas pernas pesadas
que não os deixam voar.
os que lutam
todos os dias
apesar de tudo o que vem contra
e não se queixam
fraquinhos
galos-zinhos
arrepiam
em pele de galinha
os que conseguem
sem a queixa na ponta da língua.
apregoam o dito
mas
morrem
sem viverem
morrem
sem perceberem
que é em nós que é tudo.
Caranguejos.
Aos que têm um destino
que não era deveras o seu.
Tenho caranguejos pelo corpo
Que me beliscam as vísceras e a vontade.
Tenho caranguejos sobre a alma
Que me roubam a luz
E a idade.
Tenho caranguejos.
Assassinos,
Sacudo-os eu.
Carrascos frígidos.
Sorrateiros e silenciosos,
Chegaram mudos ao meu destino.
Assassinos.
Larguem-me a vontade
(ao menos deixem-me a vontade…)
Tenho caranguejos pelo corpo
Caranguejos.
Chegam calados ao que somos
e vão trilhando o que éramos.
Será este o meu destino?
Pergunto-me se era este o meu destino.
(bruta sina
que me escreve um signo que não é o meu.
Dize que não é...)
Quando os caranguejos são mais fortes
que a vontade,
mais fortes
que os grilhões a esta vida.
Quando a vida não tem fado,
Nem sequer um sentido.