segunda-feira, março 08, 2010

busca do prazer

    
vi passar o tempo no meio dos dois sem que nenhum pestanejasse. sentados à mesa, aguardavam o momento do dia. ela deitava um olho discreto à televisão, ele fixava o vazio. ou a pele dela quando era jovem. ou quando ainda se amavam e tinham assunto à mesa. agora, escolhem o restaurante mais caro da cidade, pedem o prato mais gourmet da casa, e saboreiam-no. Está bom, não está? Óptimo. depois, nada. as coisas arrefecem. ela deita um olho discreto à janela, espreita lá fora. ou as memórias de quando se amavam e se olhavam nos olhos. ou quando ele pegava na mão dela e a saboreava fixamente. agora, ele vigia-a sem a olhar. mais nada. há ainda um bacalhau despedaçado para acompanhamento, mas os corações já vêm frios.
     
       

9 comentários:

O Chefe disse...

Pode ser uma lasanha em vez do bacalhau? Hmm... lasanha

menina de porcelana disse...

pode ser o que tu quiseres. :) embora as coisas às vezes não sejam como tu queiras...

Filipa Júlio disse...

acho que foi o melhor texto que escreveste nos últimos tempos. muito (a) sério.

menina de porcelana disse...

há coisas que mexem (muito) connosco. talvez seja por isso...

:*

memórias (aka 'oque é que falta?') disse...

http://img840.imageshack.us/img840/4739/jru1418789998.jpg

Anónimo disse...

"[...] in the evening she would have dinner with my father — mostly in silence because after twenty years of marriage they had very little to say to each other. [...]"

FULL TEXT: http://www.nytimes.com/books/first/r/rogers-ayer.html <- First Chapter: 'A Life - A. J. Ayer' (Ben Rogers)

Anónimo disse...

Como medir coisas subjectivas?

VIDEO: https://youtu.be/aHeCqUOTbRc

Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants (2004) disse...

VIDEO: https://youtu.be/xXqkQn81M4g?t=1h19m42s <- Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants (2004)

https://imdb.com/title/tt0381270/

O OVO E A GALINHA (Clarice Lispector) disse...

"[...] e era ingénuo o seu desejo de lealdade, ele não compreendera que ser leal não é coisa limpa, ser leal é ser desleal para com todo o resto. [...]"


Excerto do conto O OVO E A GALINHA de Clarice Lispector