eram três da tarde quando o senhor marcelino a viu. eram três e um quando o sr. marcelino tombou.
ele. era um homem calvo, de meia idade, e bochechas pingadas. morava numa das ruas da baixa e desde a viuvez que se metia sozinho pelos cantos, cambaleando ao som do vinho. por estes dias ia circundando pelo parque, entregue às vozes soltas dos seus pensamentos.
ela. tinha a pele morena, lisa, e os olhos verdes de verdes vários. a luz batia-lhe de chapa, e descascava-lhe a beleza. tinha as formas cheinhas e arredondadas - pois quando o sr. marcelino, restabelecido da queda, correu desenfreadamente no seu encalço e se abraçou estampadamente nela, não se lhe tocavam as mãos.
ergueu-se, e ali ficou. e ali esteve ele. nos restantes dias, nas restantes noites. de olhos a sonhar, embalado sobre o fresco peito dela. as pessoas passavam e olhavam-nos. ele seguia-as com o olhar, rodopiava em torno dela e, fechando os olhos descansado, sorria. ele, nos braços fortes dela. ela, aconchegada no abraço dele. ele apertava-lhe o corpo contra o seu e dançavam. ela estendia os braços ao céu, e dançavam. os dois. ao vento. dançavam suavemente sob o luar de Janeiro, sob as chuvas de Abril, e o voo das folhas secas de Outubro. e, ao som do chilrear dos pássaros, dançavam os dois até adormecer.
(eram três da tarde, três, quando o sr. marcelino se apaixonou pela menina árvore.)