sexta-feira, fevereiro 20, 2009

«Porque eu quero tudo...»*


Tudo. Tenho de tudo um pouco. Desde a espiga na ponta dos cabelos até ao síndrome-de-acho-que-parti-o-dedo-grande-do-pé-mas-sei-que-não-parti-mas-dói-como-o-raio-de-vez-em-quando-e-o-pior-é-que-não-se-sei-porquê-e-isto-pressupõe-algo-desconhecido-e-por-isso-grave. E se não é quebra, nem espiga, nem algo-que-o-valha, é algo decerto muito semelhante. E grave, acima de tudo grave. No entanto, apesar de todas estas hipóteses de doença incontroláveis, nada é pior que as maleitas que inventamos. Por exemplo, e entre outras coisas, o meu vício-de-escangalhar-os-dedos-incontornável: é que mesmo quando sei que não o devo fazer, porque traz e trará problemas, eu continuo a fazê-lo.

De facto, sempre me achei um desastre a tomar decisões: saem sempre-sempre frustradas. Ainda que eu saiba que o caminho não é por ali, vá-se lá saber por intermédio de que bruxarias mentais, é esse, e exactamente esse, o caminho que escolho. E isto simplificando a dois caminhos, porque a realidade está repleta em cada esquina, e até nas linhas rectas, de uma infinidade de caminhos para escolher. Ou seja, um terror.

Vagueava eu por aí, quando vislumbrei uma possível causa (ah! tem que ter uma causa! ora essa!). E, afinal, tem um nome isto. Diz o Antoine Bechara**: “it’s like drug addiction. Addicts can articulate very well the consequences of their behaviour. But fail to act accordingly. That’s because a brain problem. (…) Damage to ventromedial area causes a disconnect between what you know and what you do”.

Assim, [even that these patients] “knew intellectually what was wrong (…) that knowledge was not enough to change the way they played the game.

(tramado isto. e não lhe vejo solução. é que, afinal, nós até sabemos. o pior é o resto.)


*Álvaro de Campos / Fernando Pessoa
**citações retiradas de Gladwel, M. (2005). Blink. New York: Back Bay Books. pp. 61.


5 comentários:

Filipa Júlio disse...

gostei imenso do blink.
mesmo assim, não acho que ter hipocondria seja tão violento como uma dependência, seja do que for. desconfortável, chatinho, sim. mas não tão violento.

menina de porcelana disse...

;) eh pá, eu e a hipocondria até somos manas! temos uma relação, digamos, bacana! ;)

(eu até nem acho que tenha verdadeira hipocondria, só uns pózinhos que me asseguram a sobrevivência através de cuidados acrescidos.)

o pior nem é isso: não é o que eu 'acho' que tenho e nem tenho. o pior é o que eu 'não sei' que tenho e que afinal até me comanda a vida.

(a (in)capacidade de tomar decisões estraga-nos a vida ao pormenor. por isso, se esta minha mana hipocondria-zinha me serve de alguma coisa, então que me diga que a minha área ventromedial não está a funcionar bem. e que, quando eu já 'saiba' isso, que me faça 'fazer' qualquer coisa em consonância.)

(o Blink é fascinante, mas também demasiado crédulo das coisas.)

O Chefe disse...

Ena, eu também me farto de estalar os dedos, de uma forma pouco convencional ao que parece, ponho as mãos como se fosse rezar ao senhor de alguém e levanto as costas das manapulas mantendo os dedos na vertical, muito bom.
Fora isso, tambem ja fui confrontado várias vezes com um "Não sabes que isso faz mal?" mas who cares? Não me vou preocupar com um hipotetico mau estar num futuro longínquo quando sei que o facto de não estalar os dedos agora me vai incomodar.
Se bem que na maioria das vezes nem dou por mim a faze-lo conscientemente, vicios.

menina de porcelana disse...

Chefe ;) :

(este comment tem bolinha vermelha no canto superior direito)

o facto de não arranhar os dedos e arrancar a pele também me incomoda (penso que, mais que isso, o que incomoda é seres obrigado a parar algo que já se tornou um hábito - gasta-se muita energia a quebrar rotinas) mas incomoda-me ainda mais o depois. depois de arranhar e escaranfunchar e ter os dedos numa lástima, a arder, a sangrar. mais que o depois-de-daqui-a-anos, é este depois-imediato que me incomoda.

(P.S.: se não é consciente, como podemos lutar contra? :S)

O Chefe disse...

Hey, eu nunca disse que queria lutar contra isso