O outro dia a m. e a v. vieram uma teoria que diz que rirmo-nos de situações estúpidas serve de aviso-para-os-outros de que alguém caiu, mas que não se magoou.
(aqui está uma situação em que um sorriso pan-american seria bem mais discreto e apropriado que uma sonora gargalhada.)
Ora, isto do “aviso para os outros de que alguém caiu, mas que não se magoou” é, sinceramente, uma trampa. Eu quando me rio da queda aparatosa de alguém não fico à espera para ver se se magoou ou não: primeiro, e instantaneamente, rio-me aparatosamente também; depois, passo a desgraçadíssima vergonha de ter que me enfiar num buraco para fugir a um ou outro olhar matador que me esfola a insensibilidade.
(de facto, sempre achei isto um problema. é terrível, eu não sou insensível. porque é que o pareço?)
Nem sei de onde vem esta ideia de pensar-antes-de-agir-impulsivamente. Acaso alguém pensa racionalmente antes de tirar a mão de uma superfície a escaldar? Não: agir impulsivamente é-a-resposta adaptativa aos atrasos burocráticos da racionalidade! E nem se pensa se houve ou não alguém que se magoou – ora essa!, é o meu corpinho que se queima. Assim, e prosseguindo no raciocínio, se sou eu-e-este-instante que estamos em questão, rir-me agora também não me diz que no futuro os papéis se poderão inverter. Claro que não: nós nunca iremos cair, os outros é que caem.
(enfim, isto de sermos animais na essência também é uma trampa.)
Só que a vida, marota, também prega rasteira, e dia virá em que eu espetarei o meu incólume queixinho no chão. Aí, ainda que o meu kit de sobrevivência não me permita antecipar, alguém se rirá da minha desgraça. Se o riso dele foi fruto de genes impulsivos? isso é que já não sei. É que se algumas coisas já vêm connosco, outras aprendem-se. E por melhores que sejam os genes, e os impulsos, na falta de melhores exemplos, aprende-se com o que se vê em volta.
(em suma, rir às gargalhadas da desgraça dos outros também é uma desgraça mundial.)
3 comentários:
Dizem os antigos sábios (os nossos avós por exemplo) - 'nao te rias do mal do vizinho que o teu pode vir a caminho'!
os nossos avós (os meus pelo menos) não sabiam muito de ciência. podia-lhes faltar a teoria até, mas tinham o que muitas vezes nos falta: saber empírico.
Qual quê oh João, é rir enquanto se pode, de qualquer desgraça, das nossas ou das alheias. Mas com especial enfase nas alheias, que têm sempre mais piada.
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