Temos as coisas à nossa frente e, impulso irresistível, tratamos logo de as compor, de as arranjar, de as meter na ordem. Como se as coisas tivessem ordem e não fossem somente um punhado de contínuos, sem qualquer direcção ou sentido.
Vejamos: acontece-nos a maior coisa, a coisa mais injusta, a coisa mais incerta. E, zás, Não percebo, tem que haver aqui qualquer coisa, Isto tem que ter uma razão, uma explicação plausível. Então, pegamos nas coisas, arrumamos as coisas, damos números e nova ordem às coisas. Damos um sentido às coisas. Mas esquecemos que essa não é a ordem natural das coisas, que as coisas não têm fado, nem sequer um sentido.
Que são um punhado de coisas, só isso. Que a minha verdade não é mais verdade que a tua só porque a tua segue uma lógica e a minha vive em anarquia. Não. À verdade não interessa a lógica, a verdade não precisa de ser válida.
(Confrontei o meu pai, intimei a minha mãe. Exijo saber! – o que foi que aconteceu ao meu triciclo! O triciclo? Qual triciclo? Ah, O triciclo. Não sei. Não o deixámos lá na escada? Alguém o levou, nunca se soube quem. Quero saber a verdade! Foram vocês que o fizeram desaparecer! Nóoos? Não filha… Senti-me ridícula. Uma teoria tão boa, assim deitada pelo chão. Segundos de lucidez assim desperdiçados pela parte-desconhecida-das-coisas, Bolas.)
Mas o pior disto tudo ainda está para vir. E o pior é que, na procura desesperada de um sentido-para-a-existência, acabamos por perceber que as coisas-para-acontecerem também não precisam de ser verdade – que se dane a verdade! quem sabe a verdade? ninguém. e ainda assim tudo existe e é. – Não. As coisas-para-acontecerem basta-lhes chocarem umas com as outras.
1 comentário:
Ora bolas, ja sao 04:15? Tens de passar a escrever coisas menos interessantes, para os leitores nao se distrairem com as horas. Ja vou atrasado para o almoço...
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