não aguentei. ontem, passadas quatro semanas sobre o pedido de divórcio, fui vê-lo. estava à espera de uma agressividade irritada mas sem foco definido, de alguma atitude mais infantil, não sei, de um desleixo instalado, de um desespero corrosivo que o fizesse perder o rumo. mas não.
bati de mansinho à porta - acho que não estava à espera de me ver - e surpreendeu-me: boa cara, fresca, com pose enérgica e vigorosa. a mostrar vontade de dar a volta por cima - bem melhor do que o supus.
dei-lhe o beijo e saí. sentei-me na bancada. olhei os outros, olhei-o a ele, o jeito de pentear o cabelo, os movimentos, a forma como ajeitava as meias. olhei-o comparativamente a todos os outros. um pouco jovem talvez, pensei, mas confiante. e, pela primeira vez em muito tempo, senti uma faísca de paixão. como se o acender de uma labareda. acontecesse o que acontecesse, ia levar-te para casa depois. o rapaz lutou e foi bravo. mas a vontade não foi suficiente.
fui vê-lo no fim. olhou-me com ar feroz, magoado e insatisfeito, mas sem dar o braço a torcer, e assim esteve durante algum tempo - forte, intransponível, como um muro de pedra. depois, tremeram-se-lhe os joelhos, e desabou.
então, estendi-lhe a mãozinha, e disse:
- anda cá amor, vem chorar no meu colinho.
(i'm yours, baby. é que, por mais que tente, nem há volta a dar-lhe.)
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