quarta-feira, fevereiro 08, 2012

"graças a deus [que foste recusada]!" (*)

           
depois de ponderados pensamentos prolongados, e de um click instantâneo do tipo escorregadela, "ah espera lá que estou a ver isto de outra perspectiva", chego à conclusão - por enquanto - de que talvez tenhas alguma razão.

vejamos. sou bolseira. quando apelei à minha bolsa o objectivo foi obter financiamento para o meu trabalho. e claro está, não é que não estejamos apaixonados pelo tema, mas a questão passa muito por pintar aquilo de modo a que fique bonito e seja comprado.

obter uma recusa é um terror. significa mais um ano sem bolsa, mais um ano de espera - ou procura de outra coisa qualquer, - e para os mais resistentes, reformular e voltar a submeter e voltar a esperar. e quem fala em apelar a uma bolsa para um projecto, fala em tentar publicar um artigo: ambos podem receber um desmesurado NÃO.

a recusa pode ter muitos motivos: porque não interessa a ninguém; porque interessa mas a mensagem não foi bem entregue; porque interessa, a mensagem foi entregue mas interessa a alguém que quer ficar com ela; por motivos financeiros (falta de verbas. a linha de água desce. mais pexinhos que ficam sem água).

e os motivos finaceiros ditam grande parte da questão aliás. hoje em dia (mas obviamente que desde que o homem percebeu que podia obter mais do que o que vale = especulação), o lucro, os excedentes, governam as massas. ora se o teu projecto não dá nada a ganhar, e assumindo o cenário ideal que as pessoas realmente o avaliam para tu o desenvolveres e não com interesses próprios, óbvio que não vai ser financiado. afinal, não há verbas para tudo! mas, e no seguimento do primeiro parágrafo, ainda bem.

sou a favor da investigação básica, mas praticando-a, apercebo-me que a quero ver em aplicação. que a quero ver a ter efeitos e não somente lidar com números abstractos que nunca dirão olá a ninguém.

ora uma recusa significa voltar a trás e melhorar. porque uma, entre várias outras razões, é que à primeira não fomos suficientemente bons.

queremos melhorar o país? então melhoremos. recusados? "graças a deus!" é para a perfeição que caminhamos!

ou então não.



(o " ou então não" é uma das minhas expressões favoritas.)


           
             (ao J.C., que me estalou na face esta frase(*). sinceramente, muito agradecida! ;) )
                                       

5 comentários:

O disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O disse...

Quiçá se descobrem outros tesouros...

http://www.youtube.com/watch?v=HYlD0KXujAk

:)

menina de porcelana disse...

quem sabe Oti, quem sabe, se não é debaixo do frigorífico que realmenteencontrarei respostas (independentemente de não terem nada a ver com as minhas procuras...)! ou isso, ou então lá dentro! ;)

p.s.: mas já diz aquela publicidade: "o perigo nem sempre vem de onde se espera"!!!

Spud's job interview (Trainspotting) disse...

Ah. Lembrei-me disto...



Spud's job interview - from film...Trainspotting:

http://www.youtube.com/watch?v=FBAXWz-8arw

"The preposterous environment in which academic work is presently conducted is inhospitable to genuine inquiry, hospitable to the sham and the fake." disse...

(EXCERTO)


Science, Scientism, and Anti-Science in the Age of Preposterism

Susan Haack
Volume 21.6, November / December 1997

"[...] we breathe an atmosphere of puffery, of announcements in paper after paper, book after book, that all previous work in the area is hopelessly misconceived, and here is a radically new approach which will revolutionize the whole field. How did this atmosphere of preposterous exaggeration come about?

It is no longer possible to do important scientific work with a candle and a piece of string; ever more sophisticated equipment is needed to make ever more recherchë observations. Research in the sciences has become very expensive; a culture of grants-and-research-projects has grown up; and science has become, inter alia, big business. The consequences for science itself are not altogether healthy: think of the time spent “writing grants,” not to mention attending seminars on “grant writing,” of the temptation to shade the truth about the success or importance of one’s project, or of the price paid in terms of the progress of science when a condition of this or that body’s supporting the research is that the results be withheld from the rest of the scientific community. But when disciplines like philosophy, where serious work requires, not fancy equipment, but only (only!) time and peace of mind, mimic the organization of the sciences, when the whole apparatus of grants-and-research-projects becomes so ordinary that we scarcely notice how extraordinary it is, when we adapt to a business ethos, the consequences are far worse.

Why worse? In part because in philosophy the circumpressure of facts, of evidence, is less direct; in part because there is no real analogue of the kind of routine, competent, unexciting work that gets the scientific details filled in; in part because in philosophy the mechanisms of mutual scrutiny are perhaps more clogged and probably more corrupted. [...]"

TEXTO COMPLETO in http://www.csicop.org/si/show/science_scientism_and_anti-science_in_the_age_of_preposterism/