ca'los c'ús. era assim que, na idade tenra, a minha irmã chamava o apresentador do 123. era o seu predilecto. estava na inocência de achar, ou de nem pensar, que um homem só deseja uma mulher para lhe dar beijinhos e ser mãe de filhos. que um homem só deseja uma criança como pai, ou como irmão mais velho, para a amar candidamente. nunca para encontrar na sua pele doce o que não encontra no companheira/o. nunca para encontrar nas suas entranhas algum prazer.
saiu esta 6aF no Público uma reportagem sobre o Parque Eduardo VII. falava-se dos cenários que se criam. da prostituição por prazer, por dinheiro. das fugas às rotinas. das rotinas alternativas. e das personagens. o sérgio é casado e a mulher "nem sonha que ele faz aquilo". ele vai buscá-la ao emprego, jantam, conversam e fazem amor. só depois, pela calada da noite, enquanto ela dorme, vai satisfazer os outros. ela não lhe conhece as faltas. as necessidades. desconhece-lhe a incompletude que o preenche e que, noite após noite, procura numa vida pouco bem vista aos olhos da sociedade convencional. estes familiares são outsiders. são gentes que vivem na incredulidade que estas coisas acontecem perto. o que ouvem são estórias que se contam, estórias de gentes doentes. mas, acima de tudo, de gentes distantes.
quando os noticiários anunciaram o escandâlo dos meninos da casa pia e dos seus intervenientes, descaiu-nos o queixo. caiu perante o povo, e caiu perante as famílias dos acusados. como se lida com isto? com um lado lunar que desconhecemos e que faz parte de quem amamos? é passível de ser amado? prefere-se acreditar e perdoar, ou é preferível negar e acreditar no que o parceiro nos assegura? de qualquer das formas, é preciso muito amor. ou muita "logística".
depois das sentenças lidas, passou-me pela cabeça a possibilidade de eles serem 'inocentes'. dessa ínfima possibilidade que tantas vezes escapa às mãos da justiça. da possibilidade de haver essa possibilidade. e ficou a dúvida. a germinar. mas absolvidos ou não um dia, o povo julgou o que ouviu. e foi inflexível. após a confiança traída, não há veredicto que lhes volte a caiar as vidas.
depois das sentenças lidas, ficam as mulheres dos réus. as famílias. pois ainda que declarada persistentemente a inocência, fica a pairar, como abutre incansável, a possibilidade de eles serem mesmo culpados.
(não há nada mais corrosivo do que a dúvida. quando a confiança é abalada, é ela que lhe destrói as bases.)
7 comentários:
"o que tu fazes fala tão alto que não se ouve o que dizes" (desconheço o autor).
Era "Calos...", não Carrrrrrlos... era outra quem dizia "carrrrrrrrne".
senhora s.: calos então. ;)
joão: aguda a frase, grita. o problema é que o que tu "fazes" não é lido imparcialmente, mas pelos olhos subjectivos de quem ama...
(quando o Liedson cai na área, pode ser penalty ou não...)
"We don't see things as they are, we see things as we are."
hum...
Anaïs Nin pah. ;P
(gostava de ver o Henry & June. foi daqui que o Tarantino tirou as meninas para o Pulp Fiction! :) )
(cont.)
joão: (...) mas pelos olhos subjectivos de quem ama... e de quem odeia...
:'S
https://www.theguardian.com/world/2016/may/07/discovered-our-parents-were-russian-spies-tim-alex-foley
The day we discovered our parents were Russian spies
(by Shaun Walker, 7 May 2016)
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