"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
segunda-feira, novembro 30, 2009
quarta-feira, novembro 25, 2009
domingo, novembro 22, 2009
se venceres o instante
Quando te sentas à noite na beirinha da cama e
olhas o mundo curtinho em redor, tão curtinho
quanto o teu campo de visão e
a linha do horizonte que te escapa.
quando vês as luzes do teu quarto as luzes no teu quarto
e sabes tanta vida lá fora.
quando pensas em ti ali, só,
e o silêncio,
só.
(ou então um mundo a abarrotar de emoções)
e então o coração bate
- tu escutas demasiado o coração -
ou o coração bate antes e depois sentas-te na beirinha da cama
e pensas.
e então ouves, mais e mais
e o coração bate mais forte, mais e mais.
quando tu pensas sentes e pensas e sentes
quando tudo é um ciclo.
quando perdes a noção da realidade
e só pensas o corpo, a sentir a sentir a sentir.
quando os pulmões arfam
e tu arfas
e o mundo é tão pequenino quanto a tua mente contraída,
sufocada
pelo peso dos instantes.
quando o mundo é tão grande quanto os teus medos.
pesado
quando tu inspiras
expiras inspiras expiras
cada vez mais rápido, e rápido, mais e mais
e tu pensas
e sentes o pânico a correr-te pelas veias, como agulhas finas, como
formigas atrevidas que te beliscam a carne, quando
sentes a cabeça à roda, e as luzes te encadeiam, e achas que vais enlouquecer,
que a lucidez acaba ali para ti.
e o pânico preenche-te os poros,
e o medo abarrota-te o peito.
e tu pensas.
quando o desespero te atola
e te preenche,
inunda
quando pensas que não interessa quantas vezes sobrevives, que
há-de sempre voltar esse instante
em que tudo bate mais depressa do que aquilo que tu consegues acompanhar,
quando o desespero te enfarta
o peito e a consciência e
já nada importa quando
tudo pesa
Eu sento-me contigo à beirinha dessa tua cama,
imagina-me a sentar-me contigo à beirinha dessa tua cama,
e digo-te ao ouvido
Não te atrevas a desistir.
(e depois abraço-te, muito. e agarro-te a esta vida.)
terça-feira, novembro 17, 2009
mulher(es)
afinal, o que é isto de que somos feitas?
(porque hoje também é dia da mulher. e não só quando ao almanaque lhe apetece!)
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segunda-feira, novembro 16, 2009
"Se em alternativa se atira." (*)
sento-me à beira da pequenina pequenininha mesa de café. peço uma torrada e um galão. lá fora o sol espreita pela baixa depois da chuva. há um jornal sobre a mesa. há os restos ainda não recolhidos de pequeno-almoço. há uma chávena com espuma de leite seco. um pratito com migalhas. uma colher alta e um garfo. uma faca de comer bolo. uma faca. e se eu agora pegasse na faca e a espetasse no meu ventre?
imagino o depois. o sangue, os gritos, as fugas. se. empurro para lá. abro o jornal e leio. está uma belíssima manhã.
(*) João Condinho, projecto Se numa noite de inverno um viajante, Exposição em Coimbra-B, 7 a 14 Novembro 2009
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domingo, novembro 15, 2009
quinta-feira, novembro 12, 2009
what the hell??!
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terça-feira, novembro 10, 2009
vou só dar uma voltinha e já volto
Estendeu-me o sorriso, um panfleto, e o convite doce: Juntem-se...
(apesar de ser só eu ali, materialmente, ele deve ter espreitado e visto que aqui dentro, de facto, somos várias...).
Era a Marcha pela Paz e a Não-Violência que varria silenciosamente as ruas de Coimbra.
Devolvi-lhe o sorriso, misturado com um esgar de dor inevitável, e pensei
Mas hoje?! Agora?! Tem mesmo que ser agora?! É que 'agora' não me dava jeitinho nenhum... e também Mas porque raio não fui eu pela outra rua?!...
O sorriso foi-se afastando, desvanecendo. Não lhe cheguei a ver o fim porque entretanto já me tinha escapulido daquele embaraço de momento a sete pés.
(Eu, se pudesse, evitava estes momentos. Sinto-me obrigada a ter uma desculpa decente, inadiável, qualquer coisa que invoque vida-ou-morte e que justifique decentemente a falta. Porque dizer Tenho mesmo que ir fazer umas compras ou Preciso desesperadamente de ir correr infelizmente nunca soa a vital. Preciso de qualquer coisa que equipare a luta Mundial pela Paz e pela Não-Violência, ou a situação Nacional dos Desempregados, ou a dos Sem-Abrigo que nos estendem a mão mesmo à porta da loja onde acabámos de gastar rios de dinheiro. Porque dizer Não tenho dinheiro, seja a quem for, sempre me soou uma desculpa visivelmente mais esfarrapada que as calças que o pobre do homem veste. E assim evitava-se o desperdício de palavras, energia e afins. Evitava-se o embaraço.
Porque
É incómodo, O mendigo, Ver o Mendigo, Olhar o mendigo, olhos nos olhos, e Ter que desviar o olhar, ou Ter que Replicar qualquer murmúrio de desculpa,
É incómodo. Pensar o mendigo, E ver-me a mim, sem uma resposta-ou-uma-acção à altura, no meio disto tudo.)
domingo, novembro 08, 2009
talvez também as segundas-feiras.
anoitece rápido. caminho até casa a ressentir a falta de uma noite bem dormida. ouve-se o silêncio por entre as folhas das árvores. nada. ouve-se um carro a rodar sobre a estrada molhada. nada. ouvem-se passos, alguém que empurra a porta e chega a casa. alguém que faz o último passeio de fim de semana. nada. se calho a entrever a Baixa, há um ou outro marmanjo pelas esquinas, à porta do único café aberto e já aquecido pelo álcool que não lhe deixa distinguir os dias. de resto, nada. há talvez um ou outro observador, disperso, a rondar as montras, a rondar os pensamentos (assustam-me esses, porque reparam em nós). mais nada.
vou para casa. no caminho breve, ouve-se o chiar do vento gélido pelas ruas. ouve-se também, de tempos a tempos, o rolar das malinhas de viagem na calçada. não apetece fazer nada. toda a realidade parece outra. escura e triste. fico eu e as ruas, sós.
(não há nada mais deprimente que um domingo de inverno ao anoitecer.)
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quinta-feira, novembro 05, 2009
inimputabilidade
'ela é doida!' 'matou o filho' 'saltou da janela' 'cortou os pulsos' 'entupiu-se em fármacos' 'e tinha uma carreira brilhante' 'eu nem dei por nada, ela parecia tão feliz!' 'já viste o que ele fez à namorada?' 'regou-a com gasolina e pegou-lhe fogo' 'parece um tresloucado, não diz coisa com coisa' 'ele é estranho' 'e a mania das limpezas?!' 'teve uma crise de ansiedade só porque lhe disseram que não?' 'passou-se' 'que parvoíce, ter medo de um animal tão pequenino!' 'matou os pais' 'esmurrou a senhora da caixa' 'pegou nos filhos e um a um afogou-os na banheira'.
prometeu-lhes que baixava os impostos, e mentiu.
(não sei o que é que é pior - e lamento meter isso em questão - se a barbaridade cometida quando se perde o fio à meada, se a judiaria quando se está pleno de si. de qualquer modo, as coisas são muito relativas.)
terça-feira, novembro 03, 2009
constatações
se é sabido pelas leis da gravidade que a água tende a escorrer pela face abaixo enquanto tomamos duche, que por coesão as moléculazinhas 'molhadas' - que estão na cabecinha e que continuam na testa e que encharcam também os olhinhos pela simples razão que nos molhámos de cima a baixo - que essas moléculazinhas vão querer manter-se juntinhas e vão também querer misturar-se não sei por meio de que obscuro mas decerto lógico princípio, Porque raio, Digam-me porque raio!, fazem champôs que ardem nos olhos?
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Pantene
viver passa muito por definir critérios (VII)
preenches um dois três e quatro critérios. lamento,
falta-te um. és uma perturbada sem especificação.
domingo, novembro 01, 2009
viver passa muito por definir critérios (VI)
quando se estende a plataforma para
ver partir os viajantes e
se põe o sol a pique, quente que estala e
é sexta-feira e
demasiada gente para os poucos abrigos,
ou para os abrigos curtos, delgados,
para as massas que seguem viagem a uma sexta-feira.
quando o sol cai a pique e depois desliza
enquanto o tempo passa, e
a sombra desliza,
quando o tempo corre, e
se criam dois territórios: o da luz
e o da sombra.
quando se sucede a aglomeração das massas que
esperam e depois desesperam, e
a forma como criam a fronteira e
como se mantêm no seu território, e o procuram
enquanto se movem, enquanto se movem inconscientes,
inconscientes que mudam enquanto
a areia escorre na ampulheta e uns
procuram a luz, quente na pele, e
os outros se refugiam na sombra.
tudo isto
enquanto o sol traça no pavimento cinzento
uma linha imaginária.
(na noite bebemos e tornamo-nos mais bichos. no sonho, e
na realidade. deve ser da falta de luz. da escuridão. misturamo-nos. com os outros, e misturamo-nos cá dentro.
talvez a ausência da linha faça sumir o critério.)
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