A judite (
de sousa) sorri. Escorre-lhe a franja pela testa sobre os olhos pestanudos. Então, numa felicidade de poder colocar em palavras suas as dúvidas da humanidade, arremessa:
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Mas o senhor professor antónio damásio, ãaa..., julga que, apesar de tudo isso que disse e de tudo o que já se conseguiu até hoje... o que é que nós nunca iremos saber?
O senhor professor antónio (damásio) abisma-se. Mas depois, certo que o mundo inteiro bebe do que irá dizer, controla-se e solta com naturalidade:
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Impossível saber o que nunca se vai saber.
(pois. acontece-me
também. antes de começar qualquer coisa nova, antes de entrar, antes de ver, antes de saber como as coisas são por dentro - imperfeitinhas, incertas, e em permanente (des)construção -, acontece-me esperar que o
não sejam. calculo que a ciência, quando vista de fora, também seja assim: uma espécie de certeza inabalável com métodos afinados que dão respostas precisas a todas as questões travessas.
então, quando a imprecisão dos tarôts, o enevoamento dos oráculos de bellines, a atribulação das linhas da mão - e a
poluição luminosa! - nos impedem de ver as constelações estelares - e o futuro! -, o mundo redescobre a pólvora: vira-se para os neurocientistas. quer saber da "pílula da memória", da felicidade eterna, da vida com muitos dias e mordomias, se puder ser também. enfim, de mimos.
os neurocientistas é que
ainda não aprenderam a lidar com tamanhas responsabilidades. por isso, desabituados que estão de 'perguntas às três pancadas', quando lhes fazem questões destas, poêm-nos com a cabeça à roda. e, inevitavelmente, a ver estrelas.)