quarta-feira, janeiro 28, 2009

Na Baixa, hoje


O homem encontra a mulher e pergunta ao menino:
- então pá, 'tás bom ou quê?
O menino, ainda a mastigar o pão da manhã, responde num aceno meio envergonhado:
- hm hm...
Só que o homem volta:
- então, mas gostas de ser bom ou não?

(penso que nos andamos a esquecer de perguntar o essencial às nossas crianças.)

terça-feira, janeiro 27, 2009

Se


a minha avó maria estivesse viva, fazia hoje 100 anos.

(eu, se tivesse nascido em 1909 [a 27 de Janeiro], também fazia hoje 100 anos.)


Sublimação (I)
















(Toümai. Lagameças, Fevereiro 2008)


pior que a observação externa,
são os olhos aguçados que nos rasgam a pele
e nos olham detrás dos olhos.

(se eu te sentir a vasculhar cá-dentro
a remexer nas minhas coisas só minhas,
e sentir que me desvendas,


devo fingir que não vi?)


quarta-feira, janeiro 21, 2009

Dreams


















Sonhei
que havia panteras na minha rua
pintadas de um cinzento columbino, ou de um rosa-fúchsia,
e que falavam

sonhei
que o céu era amarelo
e o sol de um profundo azul

que vivíamos de noite e
sonhávamos de dia

que não havia dia
como o conhecemos.

sonhei
que as árvores caíam do céu
e que o mar nevava quente
como as peles sob o agosto europeu.

que não havia europa, nem sequer ruas,
que era tudo mar, só mar
sobre o qual voávamos
sem tecto nem fundo,

que éramos livres.

que os meninos só não governavam o mundo porque
vivíamos em anarquia
e que, de resto, também não havia moscas.

que dormíamos embrulhados em nuvens
sonhando com o dia definitivo em que iríamos para a terra, mãe
última de todas as coisas.

Sonhei.

com um mundo ao contrário
mas

it was just my imagination.


   

sexta-feira, janeiro 16, 2009

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Rebentos


I



















Ergue-se o seio materno
sobre o talhe arredondado

e logo perguntam os homens
curiosos
acerca desse tesouro
que carregas.

(sonham, murmuram. questionam a existência,
apenas)

Então tu, serena,
calas os tormentos aos homens
e, num canto suave,
embalas o ventre alvo num doce murmúrio
de mãe.

(sossegam-se os espíritos nessa esperança)

É que dentro, aninhado e ainda dormindo,
há Todo Um Mundo afinal.


(um tributo à minha soeur Diana, a deusa de uma Luna muito bonita nascida às 10.33 a.m. do dia 3 de Dezembro de 2008, com 48 cm, 2.715 Kg, e um incógnito futuro pela frente.)


quarta-feira, janeiro 14, 2009

Fat Man and litlle boy*



Yuppie Oppie Oppie Oh!


(ca-buuuuuuuuuuuuuuum.)

(depois, silêncio.)



Fica a frase do filme:

I'm not a scientist anymore. I'm a goddamn functionary.(Julius Robert Oppenheimer "Oppie")



* Litlle boy and Fat man são os nomes das bombas atómicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945. Foram talvez também as outras duas bombas, Doctor Oppenheimer e General Graves, que levaram até ao fim a sua construção.


(filme: Fat Man and Little Boy, Roland Joffé, EUA, 1989; ontem, no TAGV.)

terça-feira, janeiro 13, 2009

Batata quente


(Ou Simplesmente, o paradoxo da atenção.)

Nós, os tímidos, queremo-la.
Mas,
quando a temos, não sabemos o que fazer com ela.

O’.’O

(é nestas alturas que os muros dão jeito: para nos enfiarmos lá atrás. funcionam mais ou menos como um buraco daqueles buracos quentinhos que quando damos conta já se encerraram sobre nós… :x )

Atirá-la para outro? Náaaaaaaa. Acho mesmo que o segredo é deixá-la queimar nas mãos (mas difícil). Cedo ou mais tarde, vamos ver que a estranheza passa.

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Ciscos


Quando eu era pequena ouvia vezes sem conta a minha avó, mãe do meu pai, ler a história da santa Teresinha. Da história em si pouco me lembro, mas lembro-me dos pormenores, de como o livro era pequeno e fino, e como a capa era castanha e dura. De como tinha palavras, muitas, que a minha avó desfiava com cuidado, lendo o livro de uma ponta à outra. Começava na capa, com o título, e logo prosseguia para os pormenores técnicos, como a morada da editora, o número de edição, a data e o local de impressão. De como só então lia a história, sem esquecer uma palavra, mas também sem esquecer um sinal de pontuação. Sim, a vírgula, o ponto, os dois pontos, os pontos de exclamação e de interrogação, o travessão. Tudo era lido.

O meu pai seguiu-lhe os passos e, quem sabe, o modo de vida. O outro dia, enquanto fazíamos o percurso até ao almoço de Natal, enquanto a minha irmã e a minha prima discutiam lá atrás os filmes, as novidades e a vida, o meu pai, imune a todas aquelas palavras, insistia em descrever o percurso. Ora aqui 60 Km, eu vou a 70Km, tenho que reduzir. Lau, e é extensa Lau, 60 Km é a velocidade máxima. Terminou Lau. E assim por diante em pormenores que já não me cabem na cabeça, couberam, mas deram lugar a outros.

(quando as coisas são muitas, para ressalvar o importante, algumas têm que se deixar para trás.)

Sorri. Pensei para mim, deve-me estar no sangue também. Eu também gosto de escarafunchar as coisas para as descrever depois no meu auto especial, assegurando que não sejam esquecidas: o Auto das Queixas de Vida. Sim, adoro queixar-me. E sou óptima nisso. Só que eu não me queixo das coisas reais, não!, isso seria bárbaro e sem graça. Não, a piada está em poder inventar. E ora aqui está uma-coisa-em-que-decidi-inovar – eu não me limito a ler os sinais nem as placas, não, eu gosto de acrescentar coisas! (e de retirar outras à socapa, mu-ah-ah-ah). Pego nas coisas, selecciono as coisas bonitas e, pumba, deito-as na forma do esquecimento. E pronto, quando já frias e suficientemente amolgadas, junto-as à minha caixinha de sonhos partidos. E ninguém as tira de lá, nem mesmo eu. Então, enumero e conto tudo o que resta. E só depois – só depois! – faço o Auto e arrumo por temas: Tema n.º 1, a vida é demasiado complexa, Tema n.º 2, quero ser outra-coisa-qualquer, Tema n.º3, a vida não vale a pena. Vale! Não vale. Vale, vale! Trampa!...

(trampa sim trampa! é ano novo oh menina! pelo menos nesta altura devíamos conseguir ver as coisas mais bonitas, ainda que as mais pequenas, estender-lhes o dedito e trazê-las até à nossa atenção. e escolhê-las para (re)lembrar. porque se muita coisa cabe cá dentro, nem tudo cabe cá dentro. devíamos escolher as coisas que valem a pena ficar. o Irving Berlin escreveu uma vez, If you worry and you can't sleep count your blessings instead of sheep. And you’ll fall asleep counting your blessings.)

quarta-feira, janeiro 07, 2009

O Brian


Há muito muito tempo, nasceu nas terras da Palestina um rapazinho chamado Brian. É a ele que dedico o post de hoje. Mal sabia o pobre Brian naquela manjedoura de palha que, depois de morrer na cruz por um tremendo engano, os homens morrem hoje estupidamente naquele local por outro tremendo engano...

(não resisti. tive mesmo que transcrever este episódio remomorativo dos 2008 anos de existência dos Reis Magos, Wise Man, afinal. digam-me que não é hoje, foi ontem. alguém me explica o que interessa um dia a mais ou a menos do dia institucionalizado se ninguém sabe bem quando aconteceu? [e não entrando noutras questões...])

Enfim:

Three camels are silhouetted against the bright stars of the
moonless sky, moving slowly along the horizon. A star leads
them towards Bethlehem. (...) They approach a stable, (...) and enter to find a typical manger scene, with a baby in a rough crib of straw and patient animals standing around. The mother nods by the side of the child. (...) She is a ratbag.

Mandy: Who are you?
Wise Man 1: We are three wise men.
Wise Man 2: We are astrologers. We have come from the East.
Mandy: Is this some kind of joke?
Wise Man 1: We wish to praise the infant.
Wise Man 2: We must pay homage to him.
Mandy: Homage!! You're all drunk you are. It's disgusting.
Out, out!
Wise Man 3: No, no.
Mandy: Coming bursting in here first thing in the morning
with some tale about Oriental fortune tellers...
get out!
Wise Man 1: No. No we must see him.
Mandy: Go and praise someone else's brat, go on.
Wise Man 2: We were led by a star.
Mandy: Led by a bottle, more like. Get out!
Wise Man 2: We must see him. We have brought presents.
Mandy: Out!
Wise Man 1: Gold, frankincense, myrrh.

(her attitude changes immediately)

Mandy: Well, why didn't you say so? He's over here...Sorry
this place is a bit of a mess. What is myrrh, anyway?
Wise Man 3: It is a valuable balm.
Mandy: A balm, what are you giving him a balm for? It might
bite him.
Wise Man 3: What?
Mandy: It's a dangerous animal. Quick, throw it in the trough.
Wise Man 3: No it isn't.
Mandy: Yes it is.
Wise Man 3: No, no, it is an ointment.
Mandy: An ointment?
Wise Man 3: Look.
Mandy: (sampling the ointment with a grubby finger)
Oh. There is an animal called a balm or did I dream it?
You astrologers, eh? Well, what's he then?
Wise Man 2: H'm?
Mandy: What star sign is he?
Wise Man 2: Capricorn.
Mandy: Capricorn, eh, what are they like?
Wise Man 2: He is the son of God, our Messiah.
Wise Man 1: King of the Jews.
Mandy: And that's Capricorn, is it?
Wise Man 3: No, no, that's just him.
Mandy: Oh, I was going to say, otherwise there'd be a lot of
them.


(Life of Brian, Monthy Python, 1979)

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Depois da mensagem


de Natal do Primeiro-ministro e da mensagem de Ano Novo do Presidente-da-República pouco fica sempre por dizer.

(certo?...)

Portanto, Feliz Ano Novo!, Bom Ano!, e portem-se bem! (que é para ver se depois têm um Feliz Natal 2009.)