"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
quinta-feira, julho 24, 2008
Como escorreguei num pacote de açúcar
Evolução?
Disseram-me que não é uma questão de impor. Que forçar as coisas não funciona – as coisas revoltam-se e acabam por seguir outras direcções, direcções que só empatam e atrasam o caminho último. Que é preciso respeitar os tempos de evolução de cada nação. Que todos caminhamos para lá. Que acabamos por lá chegar. Que os direitos humanos, os direitos atribuídos aos seres humanos e que lhes permitem o livre arbítrio, que a emergência desses direitos irá acontecer mais cedo ou mais tarde em todas as nações.
(deve ser como a ideia de deus. o nosso cérebro caminha em determinadas direcções e não há como fugir-lhe. estranha liberdade esta, a liberdade programada.)
Penso nisto. Em como as pessoas começam. E se tornam agrestes. Egoístas. Em como as pessoas acabam por apaziguar ao longo da vida. Em como as pessoas têm diferentes tempos para achar esta paz e esse respeito pelo próximo. Em como uns lá chegam mais cedo. Em como outros só quando o fim de tudo se aproxima a galope. Em como outros já vão tarde, e outros nem fazem planos de chegar.
Sim, disseram-me que não devemos impor, que os oprimidos serão livres um dia, quando as nações, uma por uma evoluírem o suficiente. Quando as outras nações chegarem ao ponto em que nós, ocidentais, nos encontramos. Que elas lá chegarão nesse dia.
Pena é que, enquanto uns chegam e outros não a esta meta que concebemos, muitos inocentes morram pelo meio sem sentir no peito o que é isso de ter direito à liberdade.
quarta-feira, julho 09, 2008
"Fazer coisas com palavras."
Toda a gente devia aprender a fazer coisas com palavras. Por exemplo, transformá-las em acções.
terça-feira, julho 08, 2008
24
Se pensar de dentro, de dentro das coisas, das coisas como eu Parece-me que a minha vida se passou num dia.
Não sei, mas da infância tenho algumas lembranças semelhantes ao raiar de uma luz, ao nascer dos sonhos.
Da adolescência um sol a pique de se ficar encandeado e pensar que se vê tudo E afinal não se vê é nada.
De agora (será velhice?) é um cansaço das coisas, Querer o tempo e saber que se extingue e que não volta.
A noite vai escura e parece-me que não há a luz no fundo do túnel, que ainda faltam umas 7 horas para o novo dia, e eu nem sei se depois de dormir volto a acordar.
Couraças
Na descida, andei a pisar ouro. Não sabia que havia ouro na Couraça. Erro meu, porque todos os dias ao final da tarde, quando o sol se vai deitando de mansinho, as pedras cinzentas encerram-se e metem as couraças de ouro para dormir.
(é incrível como as coisas mais pequeninas da vida nos despertam, por vezes, o maior sorriso do dia.)
quinta-feira, julho 03, 2008
Berço
(Bairro da Graça, Lisboa, Natal 2006)
Lisboa dos lisboetas
Lisboa dos deslocados
Lisboa dos portugueses
Lisboa dos emigrantes
Lisboa dos residentes
Lisboa dos turistas
Lisboa dos bairristas
Lisboa dos betinhos
Lisboa dos fadistas
Lisboa dos rappers
Lisboa dos pastéis
Lisboa da fast food
Lisboa das ruas estreitas
Lisboa das ruas largas
Lisboa dos olhares curiosos
Lisboa dos indiferentes
Lisboa dos que vêm de fora
Lisboa dos que vão de dentro.
(pergunto-me como podemos sentir falta de algo
que não chegámos a conhecer?)
terça-feira, julho 01, 2008
Escape
Decorei-te a frase de intervenção, a aparição súbita. Decorei-te o cabelo ligeiramente encaracolado, os fios brancos de quando a quando, os dentes finos e os olhos arregalados. Decorei-te os gritos e a voz arrancada de um fundo sem fundo. Decorei-te esse desespero de querer ser o que não está