"The range of what we think and do is limited by what we fail to notice. And because we fail to notice that we fail to notice there is little we can do to change until we notice how failing to notice shapes our thoughts and deeds." (Ronald D. Laing)
quarta-feira, janeiro 30, 2008
Sólidos de Catalan
Tinha 14 anos quando me perdi. O pensamento concreto de até então deu o salto e tornou-se (i)lógico, com todos os caminhos em aberto. E fiquei eu no meio das escolhas
e dos escolhos
de tudo o resto que ficou, simplíssimo, para trás.
Catorze anos de um mundo certo, pensando que havia uma idade para tudo. Depois, caí, e percebi
Que a idade não interessa,
que somos bichos eternos
em luta com as escolhas.
Que as escolhas podem ser mal feitas?
Podem, mas que só aprendemos assim – julgamos as próximas, com as anteriores.
E se aprendemos mal, julgaremos mal (óbvio…).
Que o homem não é naturalmente bom sr. Rosseau, nem sequer naturalmente. Que é uma mistela de tanta coisa que anda por aí, e que tentar compreendê-lo e aplicar-lhe uma equação certa que o desvende é estourar a cabeça em mil pedacinhos loucos e estridentes.
Que é tudo uma incerteza
um conjunto de escolhas disparatado
aleatório,
irresoluto,
como quem joga num euromilhões sem sorteio.
Como quem ganha sem saber
E depois morre.
(tanta coisa que fica por saber…)
Que a velhice virá um dia,
E a sabedoria com ela.
Que não sei se a sabedoria chegará com ela, sem ela, se chegará seja com quem for.
Que não há sabedoria –
Há uma e excessivas formas de ver a vida
(e depois há os conformistas e os inconformistas
e todos os outros nos intervalos infinitesimais
que as aceitam ou não.
Ou que decidem ficar no meio e nos meios, porque não há um mas vários
porque nunca há nada que seja uno e simples!)
Que a matemática é um sonho e não bate certo com nada.
(que quanto mais penso
mais esfolo o sossego, mais estripo o equilíbrio.)
Que só a Ceifeira é feliz quando canta.
Mas que os 14 anos dela não a devem ter atirado ao chão...
terça-feira, janeiro 29, 2008
Lost in translation
A sala encheu para te ver morrer. Preto no branco.
Só na tua cabeça nada era assim tão simples.
Faz-me pensar o que nos faz dar o salto final.
O mundo é definitivamente um lugar estranho. E o amor.
Mas como pode alguém desistir aos 23?
Um passo de gigante para os outros, um pequeno para ti.
Recomeça…Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres, Nesse caminho duro Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.*
Enquanto não alcances Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.*
Mas tu não podes. Ponto.
Pena.
Porque eras só um rapaz, um rapaz chamado Ian.
(*Sísifo, Miguel Torga)
segunda-feira, janeiro 28, 2008
We should all be hard candies
I - Quando os frutos caiem.
Se amadurecer significa deixar de ver o mundo de forma bonita e iluminada
e sentir na pele o estalo rude da terra dura,
então devo estar no bom caminho
para um dia poder dizer que, enfim,
apodreci…
II - Loja das Grosserias.
Da próxima vez que te vir entrar na loja de guloseimas com o teu vestido de cetim azul e com esses teus sapatinhos de verniz vermelho, e te vir mostrar esse sorriso cândido de menina
- dessa próxima vez que te vir sonhar –
vou-te agarrar na face suave e nos cabelos doirados
e dizer-te aos ouvidos num rasgão:
que esse Senhor simpático que te mostra os doces como se te os oferecesse apenas,
que esse Senhor que te pede as horas e a quem tu as dás, agradecida,
que esse Senhor maduro e pai de meninas como tu,
é vendedor.
E que esses doces que te estende,
na sua sabedoria refinada,
são doces ressequidos, amargurados e degustados;
E que, afinal, o que esse senhor oferece não são os doces
mas os murros no estômago que ficam no final.
III - Porcos
Enojam-me os senhores que
levam na algibeira descontraída a cartilha do saber muito
e tudo,
e que,
depois,
confundem meninas com Meninas.
Permissão para ser normal
Uma das partes irónicas e desanimantes do mundo
é que chegamos ao ponto de ter que justificar
- como quem desespera se não mostrar o contrário -
o facto de vermos o mundo bonito.
E termos que bater o pé e dizer
Não, Não, Juro! O mundo não é nada bonito, Eu não o vejo assim!
Eu sou como todos os outros
Que o vêem feio e decepcionante.
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sexta-feira, janeiro 25, 2008
Permission to Speak Freely (II)
Não vejo muros cor-de-rosa. São muito cinzentos, juro.
Mas meti os óculos coloridos em pequena, e
ficaram-me tão cravados na carne… que
quando os vou para tirar,
dói-me arrancar esse pedaço de mim.
quarta-feira, janeiro 02, 2008
Receita para 2008
(escrevi este texto há uns aninhos, mas achei que era uma boa mensagem de Ano Novo, em jeito de mensagem de Natal do Primeiro-Ministro, ainda que sem Armani nem nariz de Pinóquio…).
Numa época que chamamos de crise, muitas vezes deparamo-nos com a facilidade de apontar o dedo e dizer Não fizeste isto, Não fizeste aquilo. Sempre o que o outro não fez e devia ter feito. E encontramos nessa expiação da culpa alguma libertação do próprio peso (in)consciente que carregamos também. [aqui está o clichêzinho sempre actual… e agora o complemento:]. Porque isso de andarmos mal não É (só) culpa do Governo! – cada um deve governar-se também [o “bom” do trocadilho…]. E já que (des)culpas há muitas, preocupemo-nos também em achar soluções… cada um de nós.
Foi nesta procura que me deparei com indícios de soluções do dia-a-dia nas palavras de um “médico” de que urge Portugal [mas este não é um médico qualquer… é um médico sábio!] – um que receita sopinha quente em vez do medicamento mata-bicho. Conta-nos então Cândido Ferreira (25 Agosto 2005, Campeão das Províncias) um episódio acerca de uma família que a ele recorreu. E como me parece que essa família somos todos nós [Portugueses sobretudo…], atentemos no que nos diz a receita:
“Foi então que fui cravado para uma nova consulta: ‘O Sr. Dr. que é político é que nos podia aconselhar [sem comentários…], o que é que a nossa família pode fazer para melhor resistir à crise?’ (…) Manifestando o casal sábia intenção em educar a prole e garantir património, recordo os três remédios que, improvisado ‘médico de família’, entendi prescrever a esses meus doentes:
1º: produzam mais e melhor que os outros;
2º: não guardem para amanhã o que podem fazer hoje; e
3º: não gastem hoje o que não sabem se ganham amanhã.
É que a Europa não é tão burra quanto parece e, qualquer dia, anda por aí a pedir os juros de tanto disparate.”
(Bons conselhos não? Então mãos à obra! ;) )
Numa época que chamamos de crise, muitas vezes deparamo-nos com a facilidade de apontar o dedo e dizer Não fizeste isto, Não fizeste aquilo. Sempre o que o outro não fez e devia ter feito. E encontramos nessa expiação da culpa alguma libertação do próprio peso (in)consciente que carregamos também. [aqui está o clichêzinho sempre actual… e agora o complemento:]. Porque isso de andarmos mal não É (só) culpa do Governo! – cada um deve governar-se também [o “bom” do trocadilho…]. E já que (des)culpas há muitas, preocupemo-nos também em achar soluções… cada um de nós.
Foi nesta procura que me deparei com indícios de soluções do dia-a-dia nas palavras de um “médico” de que urge Portugal [mas este não é um médico qualquer… é um médico sábio!] – um que receita sopinha quente em vez do medicamento mata-bicho. Conta-nos então Cândido Ferreira (25 Agosto 2005, Campeão das Províncias) um episódio acerca de uma família que a ele recorreu. E como me parece que essa família somos todos nós [Portugueses sobretudo…], atentemos no que nos diz a receita:
“Foi então que fui cravado para uma nova consulta: ‘O Sr. Dr. que é político é que nos podia aconselhar [sem comentários…], o que é que a nossa família pode fazer para melhor resistir à crise?’ (…) Manifestando o casal sábia intenção em educar a prole e garantir património, recordo os três remédios que, improvisado ‘médico de família’, entendi prescrever a esses meus doentes:
1º: produzam mais e melhor que os outros;
2º: não guardem para amanhã o que podem fazer hoje; e
3º: não gastem hoje o que não sabem se ganham amanhã.
É que a Europa não é tão burra quanto parece e, qualquer dia, anda por aí a pedir os juros de tanto disparate.”
(Bons conselhos não? Então mãos à obra! ;) )
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