sábado, fevereiro 25, 2012

'sem'texto

            
como explicar as pessoas e aquilo que elas fazem. o que elas fazem, acima do que elas são. que o que elas são é tanto. como explicar o desfazamento entre o que as pessoas fazem e o que as pessoas são. eu não sei o que as pessoas são.
as pessoas, como dizia o Mischel, funcionam por contextos. funcionam sempre por contextos. e as coisas, como as pessoas, fora de contexto, perdem inevitavelmente o sentido.

porque é que eu não gosto do joão e aguento o humberto, mesmo quando me fala das coisas mais aborrecidas do universo. porque o humberto é um contexto. e sem o humberto, a minha paciência ou a minha impaciência perdem-se num conjunto de conjecturas que impedem a compreensão do meu comportamento.

tudo perde o sentido. não há como explicar a joana que vê a amiga morrer na droga e segue o mesmo caminho. não há como explicar que um filho batido volte ele próprio a bater. ou que não o faça, exactamente porque o foi. não há como explicar um homem. e o que ele vem a ser.

é como a vida, as lições da vida. precisam de um contexto de ocorrência. queres aprender a lidar com a desgraça? tens que estar nela e ela em ti. tens que perceber as coisas por dentro. queres aprender a lidar com a frustração? tens que a sentir. tens que estar lá. queres aprender uma pessoa? tens que a ler, que a observar, sabê-la. e não há como. tens que viver o mesmo. tens que passar pelo mesmo. ou parecido. não há livros, citações, conversas de 3 horas que nos ensinem a tirar o sumo das coisas.

não é de ensinamentos que precisamos, é de contextos. e vários.

            

terna é a noite


li a última página e fechei o livro. até que ponto podemos levar outra pessoa à ruína? sugar-lhe a esperança de que há pessoas certas. de que há um mundo certo onde todos poderemos ser felizes. onde não seremos uma e outra vez enganados. iludidos.

aliás, podemos nós destruir outra pessoa, ou só ela se destrói no limite a que se permite a si própria chegar? sei lá. 

há um limite para o amor que se deve sentir? um limite até onde ele nos deve levar? um limite para o quão fundo podemos chegar a afundar-nos nele?
pode o amor curar? pode uma pessoa ser recuperada da sua destruição através da destruição da outra? através de um simples processo de transferência. não sei.

e o cansaço? há um limite para o cansaço, ou poderemos sempre recomeçar?
não acho que haja um limite. real. há o imaginado talvez. o nosso. o que nos permitimos. o que nos cansou. e fez desistir. mas não tem que existir. tem?

um limite para os nosso receios, para os nossos erros?, que nunca o foram quando os fizemos, só quando olhamos para trás e pensamos já diferente. mas talvez já pensássemos diferente na altura.
nem sei.

há um limite para as coisas, ou podemos viver sem o alcançar, escapando-lhe às fronteiras apenas imaginadas mas sempre distantes?

se há um limite, como saber quando o ultrapassámos? se a escuridão da noite não nos deixa ver, enquanto nos fecha os olhos ternamente...



(nada se perde. nada se cria. tudo se transforma. ou, quem sabe, apenas se transfere...)
                 

terça-feira, fevereiro 14, 2012

isto é como um teste

           
pegas na folha, percorres as perguntas. hmm, pensas. resolves primeiro as mais fáceis e rápidas. despachas essas.

mas, depois, à espera, lá ficaram as outras. as hard. as que não se resolvem de chofre. as questões não-ou-mal resolvidas. e, mais tarde ou mais cedo, vais ter que lhes pegar.


(ou então não. mas há sempre as consequências.)
     
          

mindfulness

                
        
"Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas: 
Só me obriga a ser consciente." (*)





(*) Alberto Caeiro, 5-6-1922, poema completo aqui
                   

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

"graças a deus [que foste recusada]!" (*)

           
depois de ponderados pensamentos prolongados, e de um click instantâneo do tipo escorregadela, "ah espera lá que estou a ver isto de outra perspectiva", chego à conclusão - por enquanto - de que talvez tenhas alguma razão.

vejamos. sou bolseira. quando apelei à minha bolsa o objectivo foi obter financiamento para o meu trabalho. e claro está, não é que não estejamos apaixonados pelo tema, mas a questão passa muito por pintar aquilo de modo a que fique bonito e seja comprado.

obter uma recusa é um terror. significa mais um ano sem bolsa, mais um ano de espera - ou procura de outra coisa qualquer, - e para os mais resistentes, reformular e voltar a submeter e voltar a esperar. e quem fala em apelar a uma bolsa para um projecto, fala em tentar publicar um artigo: ambos podem receber um desmesurado NÃO.

a recusa pode ter muitos motivos: porque não interessa a ninguém; porque interessa mas a mensagem não foi bem entregue; porque interessa, a mensagem foi entregue mas interessa a alguém que quer ficar com ela; por motivos financeiros (falta de verbas. a linha de água desce. mais pexinhos que ficam sem água).

e os motivos finaceiros ditam grande parte da questão aliás. hoje em dia (mas obviamente que desde que o homem percebeu que podia obter mais do que o que vale = especulação), o lucro, os excedentes, governam as massas. ora se o teu projecto não dá nada a ganhar, e assumindo o cenário ideal que as pessoas realmente o avaliam para tu o desenvolveres e não com interesses próprios, óbvio que não vai ser financiado. afinal, não há verbas para tudo! mas, e no seguimento do primeiro parágrafo, ainda bem.

sou a favor da investigação básica, mas praticando-a, apercebo-me que a quero ver em aplicação. que a quero ver a ter efeitos e não somente lidar com números abstractos que nunca dirão olá a ninguém.

ora uma recusa significa voltar a trás e melhorar. porque uma, entre várias outras razões, é que à primeira não fomos suficientemente bons.

queremos melhorar o país? então melhoremos. recusados? "graças a deus!" é para a perfeição que caminhamos!

ou então não.



(o " ou então não" é uma das minhas expressões favoritas.)


           
             (ao J.C., que me estalou na face esta frase(*). sinceramente, muito agradecida! ;) )
                                       

domingo, fevereiro 05, 2012

negação


there are no such thing as complex people. or complicated people. or people unable to take decisions.

there are, instead, people who do not follow their gut [feeling].