sexta-feira, abril 23, 2010

ansiedade por antecipação



no autocarro, duas senhoras:

- estou atrasadíssima. nem quero olhar para o relógio! já sei!
- olhe, são 9.10.
- 9.10? ah, afinal não é assim tão tarde...



(como dizia o outro: fazer duas vezes antes de pensar. poupava-nos muito desgaste.)


quarta-feira, abril 21, 2010

a vida é como um jogo de futebol (1)



podes ter mais - muito mais! - de 50% de posse de bola, e aumentar grandemente a probabilidade de ganhares o jogo. mas, ainda assim, podes não ser eficaz. e ganhar o outro.

(na tentativa de justificar que, o facto de eu ser parvinha em mais - muito mais! - de 50% das vezes, não quer dizer nada. nadinha!)



(suspiro)



quinta-feira, abril 15, 2010

Betão pré-esforçado


abrem-lhe a porta. o rapaz prepara-se, respira, conta ritmadamente. e, vum, salta do avião. deixa-se cair umas centenas de metros e depois, só depois, puxa o fio. instantaneamente, o pára-quedas abre. na concavidade, arrecada o ar que o sustêm. o rapaz desaba, suavemente, e é tranquilo que pisa o solo. 'a mente é como um pára-quedas, só faz efeito quando aberta'. sejamos fléxiveis, que os rigídos não sobrevivem à mudança. tenhamos flexibilidade, flexibilidade ao rubro!, e acomodaremos a adversidade. sobreviveremos a ela.

o rapaz salta. tem um pára-quedas fléxivel, fléxivel ao rubro!, adapta-se às circuntâncias, molda-se. é o último grito! o rapaz puxa o fio e - surpresa! - logo se estende uma superfície plana, sem côncavos nem convexos. pleanamente fléxivel. o vento dá-lhe na face, veloz. dá-lhe na superfície também. e - surpresa! - inverte o ângulo. cai o rapaz que nem pedra.

(mas quão aberto deve ser o nosso pára-quedas?)


sexta-feira, abril 09, 2010

oculto


pum. páro e oiço. que raio... olho em volta, nada. continuo, dois passos. pim. estaco. a rua está escura, mal-alumiada. só o vento sopra - então de onde este barulho? debaixo da camisola o coração acelera. pam pum, pam-pum, pampum. hesito nos passos. olho para trás. para cima. triiiM. arregalo os olhos, fito as janelas - quem é?. QUEM É?! nada. dorme-se naquela rua, parece. PAM. o coração salta. não se aguenta nos cavalos, quer fugir-me do peito! arfo já. circulo sobre mim mesma. as mãos à cabeça. um barulho aqui e outro ali, pum pim! arrepia-se-me a pele. pim pum! eriçam-se-me os pêlos. triiim! suam-se-me as mãos! tenho um aperto sobre um aperto na mente! quero correr, fugir, mas para onde? vou, não vou. solto um gemido. avanço, não avanço. grito, quero fugiiiiiiiiiiiir. pulo! e, depois, desapareço.


(acho que existem gigantes que nos gozam: vêem-nos cá embaixo na gaiola, batem de repente nas portadas e riem-se à brava com o susto pregado. mas nós, ceguetas, não os conseguimos ver - são demasiado grandes para que os possamos ver...)

(experimentei isto com o gato das traseiras quando o vi passear descansadinho sobre o telhado. devo dizer que, se ele não estava cagadinho de medo, parecia.)