Estou sentada à mesa do café. Passam na vitrina, para quem vê de dentro, 3 homens e uma mulher. Observo um dos homens e a mulher. Não consigo deixar de pensar se serão um casal. Entra toda a família no café. Há crianças, afinal, também. Sentam-se mesmo ao meu lado, com duas velhas senhoras e um casal amigo. Juntam-se mesas, trocam-se as novas. As meninas sentam-se ao lado da mulher. Ela fala delas com cuidados desvelados. Ela não gosta de usar óculos, mas o médico diz que tem um olho preguiçoso. A menina ri e balbucia qualquer coisa. Reparo na mulher. É bonita. Tem o cabelo esticado e a maquilhagem cuidada. Noto nas olheiras das noites brancas. Pergunto-me se já foi egoísta. Se foi uma jovem embirrenta e cheia de manias. Se mudou quando se tornou mãe. Pergunto-me quantas vezes mudou de vida. Quantas meninas, adolescentes e mulheres já foi? Quantas vontades, quantas incertezas. Pergunto-me se já se encontrou, ou quantas vezes vai ainda mudar.
(quantas vezes podemos mudar, se o tempo corre. pergunto-me se nos encontraremos um dia, tu e eu, cá dentro. quanto tempo até lá, quantos erros. pergunto-me quando será, ou se virá, o dia em que já não desejo mudar.)