Ela apoia o queixo no pulso enquanto leva aos lábios a pequena chávena de café. Depois, numa rotina de 90 minutos, pousa-a e, inevitavelmente, desfia o vazio em pensamentos.
Na TV passa o futebol. Ele, impreterivelmente, entra no jogo. Leva, de tempos a tempos, a cerveja ao goto e solta, de tempos a tempos, palavras imperceptíveis. Ela olha, imagina que sejam para ela, não são. Ele agarra o copo, sustém-se, estrebucha e, súbito!, prescinde temporariamente das imagens. Ela olha. Ele vira-se e rosna algo ao empregado – quer outra cerveja afinal. Depois, pulando o olhar dela, torna a dissipar-se dentro do ecrã.
São os 90 minutos, fora os descontos, o jogo termina. Ele levanta-se, vai pagar. Ela, enfadada, ergue os olhos e arrisca num tom amorfo: Vamos? Ele acena que sim, consente. Ela, de pernas dormentes mas habituada a ficar no banco, levanta-se com vagar, pega na mala, e sai.
(enfim. num mundo em que o tempo não sobra, pergunto-me onde vamos encontrar ‘coragem’ para aguentar estes fretes.)
4 comentários:
esqueceste-te de descrever o casaquinho de crochet cor-de-rosa bébé a que Ela se agarra, durante 90 minutos, como se fosse uma bóia salva-vidas. é para a soraia micaela, o mais recente rebento da filha, da maria das dores. coitadinha. linda, linda. não sai ao avô materno.
esqueci-me eu, mas lembraste-te tu. e, pronto, ainda bem. ;)
E não há nada mais interessante a dar na televisão?
interessante para quem? para ela ou para ele?
de qualquer modo, nUma televisão, só há Uma coisa (interessante ou não) a passar.
e na impossibilidade de convergirem os "interesses", ganha o mais... egoísta.
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