quinta-feira, junho 12, 2008

Lesmas

Ainda me lembro quando a minha tia me veio com a história dos cães abandonados à sorte naqueles caminhos sós, dos cães que abocanhavam as pessoas, das pessoas que tiveram que enfrentar os bichos. Lembro-me de ouvir que eram caminhos perigosos, que havia homens à espreita, que eram incertos para uma menina sozinha os fazer. Os caminhos tornaram-se então longos e inquietantes. E as petalazinhas brancas dentes arregalados.

Ainda me lembro quando as ruas de Coimbra eram as ruas de uma cidade pequena, livre de perigos e sobressaltos. Os caminhos da noite eram desertos, e não havia grande receio que o não fossem. Depois, o chinfrim no ouvido que assaltavam aqui e ali, que violavam acolá. Que as meninas sozinhas eram um chamariz para as tentações dos homens. As ruas de Coimbra passaram a fazer-se à pressa. Sem o prazer da luz dourada a bater no pensamento.

É este o poder da sugestão: minhocas na cabeça. E é isto que nos lentifica a vida.

(a minha mãe também encontrava lesmas nas couves. metia-lhes sal encima e lá as deixava a contorcerem-se até se lhes desaparecer a existência. e era assim que devia ser com estas minhocas.)

Sem comentários: