quarta-feira, março 05, 2008

(apetece-me dar um murro, pode ser no antónio.)

        
Rebelde. Ser rebelde. Acho que o desejo me veio da irmã que sempre foi contra tudo e todos. Então quis ser também. Passei por cima do cordeirinho – apesar de continuar a sê-lo para sempre – e enfaixei os cabelos em dois totós que percorri com elásticos de diferentes cores; cortei o cabelo curtinho e deixei a madeixa comprida que entrancei. Comprei o casaco de cabedal e as botas pretas e pesadas – que me magoavam imenso os tornozelos, mas Quero lá saber, não há alma que não se vença, também não há-de haver botas inflexíveis nem tornozelos incontornáveis!
Quis ir contra tudo, contra deus até. Então mudei-me para a malfadada terra, que os corvos deixaram ao abandono, e vesti-me de preto para fazer o luto de tudo o que ficou para trás. Vesti luvas esburacadas, saias por cima de calças e fiquei enfim a Saia-calça, com muito orgulho meu. No meio – e bem emaranhado, como quem quer ser tudo e não é senão uma amálgama de identidades – pintei as unhas, uma de cada cor, deixei-as crescer, e fiz recortes nelas. Meti as meias debaixo do joelho e os dois totós. Fiquei a Pipi, Pipi das Meias Altas. A menina instável, como me descreveu ele, aquela fachada de gente. Pois era, pois fui (pois sou). Desde esse tempo. Até ao dia em que me cansei de tudo. As cores esbateram, as calças prevaleceram. E eu continuei em frente. Até ao dia em que me cansar de tudo. Acho que nunca consegui. Ser rebelde. Entrei numa certa harmonia com as coisas, e não há como escapar-lhe.
Mas não gosto. Nunca gostei.

(reparo agora que tenho os punhos ensanguentados…)
   
   
        

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