segunda-feira, novembro 11, 2013

resiliência

«Da primeira vez que fui preso, como me negasse a prestar declarações, algemaram-me, meteram-me no meio de uma roda de agentes e espancaram-me a murro, pontapé, cavalo-marinho e com umas grossas tábuas com uns cabos apropriados. Depois de me terem assim espancado longo tempo, deixaram-me cair, imobilizaram-me no solo, descalçaram-me sapatos e meias e deram-me violentas pancadas nas plantas dos pés. Quando cansados, levantaram-me, obrigando-me a marchar sobre os pés feridos e inchados, ao mesmo tempo que voltavam a espancar-me pelo primitivo processo. Isto repetiu-se numerosas vezes, durante largo tempo, até que perdi os sentidos, estando 5 dias sem praticamente dar acordo de mim. Desta vez não fui sujeito aos mesmos processos. Mas estou em condições de comparar, avaliar e aqui dizer que um ano de isolamento não é menos duro que os referidos tratos. Não há, pois, qualquer exagero ao dizer que o referido regime de isolamento é uma nova forma de tortura.» (Intervenção de Álvaro Cunhal no seu julgamento no Tribunal Plenário, de 2 a 9 de Maio de 1950)

 «Trabalhei sempre muito, estudei muito, a atividade política teve sempre uma grande intensidade, mas não gostava que fosse só isso a vida. E, por isso, estar por exemplo a comer e a falar de política, levantar e falar de política, ir para casa para junto dos filhos falar de política, para a mulher falar de política, para a avó falar de política, para o tio falar de política - não, isso não gostava nem gosto. A par do trabalho político intenso, gosto de um convívio livre e descontraído sobre as coisas simples da vida, do valor das pequenas coisas.» (Cinco conversas com do Álvaro Cunhal com a Catarina Pires, Abril de 1999)
           

(admiro os homens que não se perdem pelo caminho.)
                  
                

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