segunda-feira, dezembro 20, 2010

hemianopsia





andamos à procura da harmonia no meio das coisas. mas
esquecemo-nos que uma parte da realidade é-nos desconhecida.



imagem daqui

12 comentários:

Jamil P. disse...

como numa tapeçaria, que magicamente transforma um emaranhado de fios, nós, pontos, etc, de um lado, em beleza de imagens, cores, luzes e sombras, do outro. o que acontece nesse meio, nessa passagem de um lado para o outro, é mistério, é-nos desconhecido.
sem essa santa ignorância, digamos, talvez a vida não fosse tão interessante, não acha?

menina de porcelana disse...

"Ter a tua alegre inconsciência,/E a consciência disso!" (FP)

queixo-me de ter consciência das coisas, quando não a queria ter. porque *também* é pesada a consciência. e de não conhecer tudo, de não conseguir ver mais, quando as coisas permanecem na penumbra, fora do nosso campo. na caixa preta. insatisfação humana.

(sim jamil, seria de facto. é o não-saber que nos faz procurar. mas às vezes torna-se tão desesperante que faz cessar a procura.)

Jamil P. disse...

(o 'inter-esse' pode estar justamente no 'meio' das relações entre os seres ou entre o ser e o não-ser; mas, esta possibilidade parece que pode ser descartada, se consideramos que o não-ser não existe. ora, estejamos onde estivermos, sempre estaremos no meio do universo, e, portanto, no meio dos seres, em relação com eles. assim, não precisamos sair do lugar para empreendermos essa busca pelo conhecimento da nossa condição, da nossa existência. basta a ele nos abrirmos com todo o nosso ser. quero dizer, talvez não haja razão para que percamos as esperanças, sobretudos se ficarmos parados quietinhos esperando as respostas não de fora, mas a partir de dentro de nós. ai, acho que eu viajei um pouco, né? (risos))

menina de porcelana disse...

:) viaje! muito. já dizia o poeta que "o importante é partir, não é chegar"!.
mas mais uma vez a consciência nos trai. tanto do que somos e daquilo em que nos tornamos segue sorrateirinho pelas estradas da inconsciência. não temos controlo sobre tudo. às vezes acabamos cansados e nem sabemos como - foi o pouco-a-pouco calado que nos foi escavando devagarinho.
não podemos controlar tudo. nem mesmo se acabamos cansados. não quero ser derrotista no entanto. lutemos ainda, sempre, mesmo quando já não sabemos quando nem onde vamos buscar a força. enquanto a consciência nos fizer insatisfeitos com o que temos e com o que somos, haja luta.

Jamil P. disse...

as sábias palavras do poeta ilustram tão bem essa abertura musical de um filme tão lindo de john ford (principalmente quanto à fotografia) http://www.youtube.com/watch?v=6KFCwhBiejI

"What makes a man to wander?
What makes a man to roam?
What makes a man leave bed and board
And turn his back on home?
Ride away, ride away, ride away..."

se podemos dizer que a vida é um combate, o cinema e a música são um descanso para a alma...

menina de porcelana disse...

obrigada :)

CHAPTER 6: Through the Looking Glass disse...

Do livro de V.S. Ramachandran, Phantoms in the Brain
CHAPTER 6: Through the Looking Glass


The world is not only queerer than we imagine; it is queerer than we can imagine.
J.B.S. HALDANE


"[...] Neglect stories are very popular with medical students. Oliver Sacks tells the strange tale of a woman who, like many left hemineglect patients, ate food only from the right side of her plate. But she knew what was up and realized that if she wanted all her dinner, she had to shift her head, so as to see the food on the left. But given her general indifference to the left and reluctance even to look to the left she adopted a comically ingenious solution. She rolled her wheelchair in a huge circle to the right, traveling 340 degrees or so until finally her eyes would fall on the uneaten food. That consumed, she’d make another rotation, to eat the remaining half of the food on her plate, and so on, round and round, until it was gone. It never occurred to her that she could just turn left—for her—the left simply didn’t exist. [...]"

Do livro de V.S. Ramachandran, Phantoms in the Brain, chapter 6, p. 125-126:
"[...] It's astonishing that the mere confrontation with a mirror flips these patients into the twilight zone so
that they are unable—or reluctant—to draw the simple logical inference that since the reflection is on
the right, the object producing it must be on the left. It's as though for these patients even the laws of
optics have changed, at least for this small corner of their universe. We ordinarily think of our intellect
and "high-level" knowledge—such as laws concerning geometrical optics—as being immune to the
vagaries of sensory input. But these patients teach us that this is not always true. Indeed, for them it's
the other way around. Not only is their sensory world warped, but their knowledge base is twisted to
accommodate the strange new world they inhabit.11 Their attention deficits seem to permeate their
whole outlook, rendering them unable to tell whether a mirror reflection is a real object or not, even
though they can carry on normal conversations on other topics—politics, sports or chess—just as well
as you or I. Asking these patients what is the "true location" of the object they see in the mirror is like
asking a normal person what is north of the North Pole. Or whether an irrational number (like the
square root of 2 or π with a never-ending string of decimals) really exists or not. This raises profound
philosophical questions about how sure we can be that our own grasp on reality is all that secure. An
alien four-dimensional creature watching us from his four-dimensional world might regard our
behavior to be just as perverse, inept and absurdly comical as we regard the bumblings of neglect
patients trapped in their strange looking-glass world. [...]"

in http://www.acucentre.com.au/Neuro01/Phantoms/Phant6.pdf

The Mother Of All Burqas (or the Middle World) disse...

Leitura integral do último sub-capítulo do livro "The God Delusion" de Richard Dawkins:

THE MOTHER OF ALL BURQAS

or... The Middle World

http://www.youtube.com/watch?v=9blkoItqzO0 <- capítulo integral

http://www.youtube.com/watch?v=1QI3Vg0kpYE <- excerto lido por R. Dawkins (Randolph-Macon Woman's College in Lynchburg, Virginia; October 23, 2006)

:)

(uma questão de confiança, e pronto.) disse...

"[...] filhos pequenos encavalitados num muro de 4 metros. [...] podia ser branca, amarela, ou vermelha, ali com os miúdos ao lado, num muro de 4 metros! Era o puto chegar-se à frente e pronto. E até já tinha uns óculos de garrafão!… (blá blá). [...]"

(semáforos) disse...

Errata:

branca = verde

(ditos e "dizeres") disse...

João Pinto (FCP) - «Quando estávamos à beira do abismo, tomámos a decisão certa: demos um passo em frente.»

(negações da realidade) disse...

"(...) talvez possa ser interceptado pela Virgem como naquele salto para o abismo de D. Fuas Roupinho no precipício da Nazaré. Também ali, no fim de vida, ela quer ter o controlo do seu destino (...)"

ARTIGO INTEGRAL: