sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Can you read my mind?


  
por razão nenhuma
eu deixaria
de poder dançar isto.

por razão nenhuma
eu deixaria de poder saltar
alienada
dentro do escuro do meu quarto
com um candeeiro de rua a entrar-me pelo espaço adentro
ou só um esguicho de luz do candeeiro
e um chapéu de chuva aberto por cima da cabeça
ou que fosse um resto de chapéu com abelhinhas penduradas.

por razão nenhuma,
é que por razão nenhuma.

deixem-me
ainda que por momentos
ser meia louca

ou (e) louca por inteiro.

(já bastam os dias
em que ninguém nos lê a mente
e todos somos somente o que parecemos.)
     
     
   

terça-feira, fevereiro 19, 2008

(Quase) Tudo sobre a minha mãe



















         


(só para 'pega-monstros' experientes.)

       

Muros (I)




(A Wall
Outside my window
Inside my soul.)

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Ser afim de ti

'Cause I don't shine if you don't shine. (The Killers)

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

O que é que estão aí a fazer parados

a olhar? perguntou ela ingénua dos seus lábiozinhos rosados como quem não percebe homens a olhar para paredes e janelas e jornais do outro lado do passeio com as mãos nos bolsos.

- À espera. (Ou terão dito 'Nada'?)

(À espera? Da vida talvez. Erro comum.)

terça-feira, fevereiro 12, 2008

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Reminiscências


 













foto: mifares

 

Quando Ela Passa (Fernando Pessoa, Maio 1902)

Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
Vejo a doce imagem d'ela
Quando passa... passa.... passa...

N'esta escuridão tristonha
Duma travessa sombria
Quando aparece risonha
Brilha mais qu'a luz do dia.

Quando está noite ceifada
E contemplo imagem sua
Que rompe a treva fechada
Como um reflexo da lua,

Penso ver o seu semblante
Com funda melancolia
Qu'o lábio embriagante
Não conheceu a alegria

E vejo curvado à dor
Todo o seu primeiro encanto
Comunica-mo o palor
As faces, aos olhos pranto.

Todos os dias passava
Por aquela estreita rua
E o palor que m'aterrava
Cada vez mais s'acentua

Um dia já não passou
O outro também já não
A sua ausência cavou
Ferida no meu coração

Na manhã do outro dia
Com o olhar amortecido
Fúnebre cortejo via
E o coração dolorido

Lançou-me em pesar profundo
Lançou-me a mágoa seu véu:
Menos um ser n'este mundo
E mais um anjo no céu.

Depois o carro funério
Esse carro d'amargura
Entrou lá no cemitério
Eis ali a sepultura:

Epitáfio.

Cristãos! Aqui jaz no pó da sepultura
Uma jovem filha da melancolia
O seu viver foi repleto d'amargura
Seu rir foi pranto, dor sua alegria.

Quando eu me sento à janela
P'los vidros qu'a neve embaça
Julgo ver imagem dela
Que já não passa... não passa.